Retina Desgastada
Idéias, opiniões e murmúrios sobre os jogos eletrônicos
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11 de outubro de 2015

(não) Jogando: Oddworld Abe's Oddysee

Abe

Há de se admirar a coragem da Oddworld Inhabitants. Não apenas em mandar a toda-poderosa EA tomar naquele lugar, mas também em construir toda sua trajetória em torno de um universo tão idiossincrático quanto o de Oddworld. Seus cenários são sujos, seus protagonistas grotescos, sua mecânica fora do convencional. E, no entanto, estão aí até hoje apostando as fichas nos mesmos lugares.

Conheci a franquia com um antigo colega de trabalho que insistia em colocar Oddworld: Abe's Oddysee entre seus jogos favoritos. Era um sujeito que também adorava a série Commandos, de onde eu deveria ter concluído de imediato que nossos gostos não tinham um ponto de inserção.

Mas ele tanto falava de Oddworld que resolvi experimentar a versão demo. De cara, vi que era um jogo de plataforma, um gênero de que eu fugia como o vampiro foge do Sol. Mas insisti, porque, afinal, quem estava recomendando era um cara maneiro.

Não preciso dizer que boa-vontade não é o suficiente para triunfar em um jogo de plataforma.

Mas fiquei com a pulga atrás da orelha, intrigado pelo charme sutil daquele mundo bizarro, daquele protagonista que fugia para não virar comida e dava "olá" para seus colegas de espécie e precisava salvá-los da morte certa.

O tempo passou e baixei o jogo completo como um "abandonware". Como se a Oddworld Inhabitants fosse mesmo abandonar seu filho querido... Com mais experiência, e menos preconceito com jogos de plataforma, dei outra chance para o título. Imagino que tenha parado no mesmo ponto que parei na época da demo...

Novamente, segui com a impressão de que havia algo de bom ali. Pensei com meus botões: "deixa meu filho crescer, que acho que ele vai gostar".

Nesse meio tempo, comprei a versão legalizada no Steam, por uma pechincha. Depois de Raymans, Sonics e outros tantos títulos de plataforma, estava na hora do meu filho conhecer o primo grotesco dos exuberantes e coloridos medalhões do gênero.

Não deu outra: coração de pai não se engana e meu garoto se encantou pelo jogo já na tela do menu. Depois do vídeo de introdução, estava salivando. Estava explicado o sucesso da desenvolvedora. O feioso mundo tem sua magia.

Menu

Infelizmente, sua mecânica segue a cartilha de ser estranho da atmosfera. O jogo não é rápido como um título de plataforma habitual, mas exige reflexos em momentos cruciais. A física do pulo é diferente e o personagem precisa realizar uma animação antes de pular. Há botões para conversar, se esgueirar, rolar e diversas outras ações. Para ativar uma alavanca, você precisa estar em um ponto preciso do cenário, nem muito pra frente, nem muito pra trás. São pequenos empecilhos de um design dos anos 90, que o tempo corrigiu em jogos mais atuais, mas que aqui contribuem para quebrar o ritmo e o bom-humor.

Abe 02Abe's Oddysee também traz elementos do que se convencionou chamar de "Metroidvania", com cenários abertos onde é importante explorar e onde é muito comum se perder ou não saber o que fazer. Somando tudo, não é um jogo fácil para quem está habituado com outros títulos de plataforma. Foi quando me caiu a ficha, depois de anos: ele não é um jogo de plataforma. Abe's Oddysee é Abe's Oddysee, sua própria criatura obscura que poderia ter parido um gênero nos anos 90, mas não conseguiu popularidade o suficiente. Uma joia rara.

Ainda assim, prosseguimos, indo mais longe do que minhas tentativas anteriores. Muito mais devido à insistência do garoto do que ao meu humor.

Até empacarmos. De tal forma que nem vendo vídeos de jogabilidade, nós conseguíamos entender direito o que fazer. Jogadores estavam usando poderes que nós não tínhamos. Poderes que não apareciam listados nem no manual do jogo. Seria uma discrepância entre consoles e PC?

Para piorar a situação, o sistema de salvamento do jogo é, no mínimo, enigmático. Ocasionalmente, perigos e inimigos ressurgem. Outras vezes, não. Algumas vezes, somos ressuscitados próximos de onde morremos. Outras, muito longe. Em outros momentos, recuamos para tentar achar uma saída por outro caminho, para dar com a cara na parede, voltar, e encontrar tudo novamente como se nunca tivéssemos passado por ali.

Em outras palavras, não sabíamos para onde ir, não sabíamos como avançar, e o jogo ainda estava desfazendo nossas ações duramente conquistadas.

Três vezes derrotado pelo mesmo jogo e suas estranhezas. Pensei em comprar o Oddworld: New 'n' Tasty, o remake desta aventura. Sim, estava determinado tentar uma quarta vez.

Fui avisado de que é um port horroroso para PC, com movimentos ainda mais desajeitados.

Não estou plenamente convencido. Talvez o Destino ainda reserve um Oddworld no meu caminho. E agora do meu filho também.

Escape

Ouvindo: Free Kitten - Oh Baby

2 comentários:

Marcos A. S. Almeida disse...

Eu discordo de dois pontos:
"Abe's Oddysee é Abe's Oddysee, sua própria criatura obscura que poderia ter parido um gênero nos anos 90"
Oddworld não é de um gênero único , ele é de um gênero em que os maiores expoentes hoje são Limbo e Machinarium , por exemplo. Acho que ele não foi o precursor do gênero mas é um jogo de visão lateral com quebra-cabeças.Cada qual citado têm sua particularidade mas fazem parte do mesmo gênero.

"...mas não conseguiu popularidade o suficiente"
Oddworld recebeu vários prêmios , portanto sucesso de crítica e algumas continuações , que acho eu configura sucesso de público.

Não é um jogo muito comum e muito menos fácil mas é um grande jogo e como você próprio diz, uma "jóia rara". Nunca cheguei a fechá-lo mas também joguei a demo inteira (bons tempos)e acho que o motivo foi a falta de interesse pelo gênero ou até pelos pontos negativos - com os quais concordo - que você citou.

Eder R. M. disse...

Olha, o original é, de fato, uma jóia rara dos anosa 90.

E o New'n'Tasty para PC não é um port ruim não, ele cumpre o que promete, mantendo a mesma pegada do jogo original.

Enfim, recomendo demais Oddworld para jogadores perspicazes.

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Blog criado e mantido por C. Aquino

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