I won't cry, I won't cry
no I won't shed a tear
Just as long as you stand, stand by me
("Stand By Me")
O mundo é mágico.
O mundo é brutal.
Duas lições simples e inesquecíveis que o jogo Brothers - A Tale of Two Sons consegue atingir em um espaço de tempo em que outras obras estariam preenchendo com repetições das mesmas jogabilidades ou ainda apresentando seus personagens.
O mundo é um lugar mágico, com personagens inesquecíveis e paisagens deslumbrantes e que esconde maravilhas atrás da próxima curva da estrada. É um lugar que fica mais belo quando você para para sentar e apreciar o que está ao seu redor. Mesmo diante das maiores dificuldades ou pressionado pela mais intensa das necessidades, há tempo de sentar e refletir, de ver o caminho à frente, de colocar as ideias no lugar. Há de haver tempo para brincar com gatos ou galopar em bodes ladeira acima. Esse é o convite que o jogo nos faz.
Mas o mundo também é um lugar brutal. Há maldade em todas as formas, em todas as classes, contra todos os sujeitos, com ou sem motivos. Não se deve confiar nas aparências, nem se descuidar das armadilhas. Em cada momento, há uma lição a ser aprendida, assim como em todas as fábulas. Este conto agridoce é habilmente contado pela Starbreeze Studios (a mesma do sombrio, taciturno e igualmente favorito The Chronicles of Riddick: Escape from Butcher Bay). Aqui, a desenvolvedora constrói, de forma econômica, mas não menos poética, um universo que convida à exploração mas também alerta de seus perigos.
Este mundo mágico e brutal é uma experiência para ser jogada à dois, nem que esses dois sejam sua mão esquerda e direita ao mesmo tempo. Provando que é possível casar jogabilidade com narrativa, a Starbreeze inova ao nos permitir, aliás, a nos obrigar, a controlar dois personagens simultâneos. Cada um é comandado pelo direcional de um controle. Ou por um diferente grupo de teclas no teclado (não se engane com quem diz que não é possível, eu digo que é).
No meu caso, iniciei o jogo sozinho. Cada mão controlava os irmãos no início de sua jornada. Não fui muito longe antes de meu filho decidir que não seria mais espectador e sim um participante. Dei a ele o comando do irmão menor e fiquei com a guarda do irmão mais velho. Foi a melhor decisão que já tomei em toda minha história de jogos ao lado do meu filho. A camaradagem que brotou dentro e fora da tela não pode ser mensurada. As piadas, as instruções de um para o outro, o roleplay dos irmãos (que, na verdade, se comunicam em uma língua intraduzível, mas perfeitamente clara), tudo entrou em sintonia com o feitiço imersivo engendrado pela desenvolvedora. Tudo culminou para um dos finais mais devastadores já vistos por mim ou pelo garoto. É uma experiência que não tinha tido antes. Nem ele.
Brothers - A Tale of Two Sons é cheio de momentos assim. Únicos. Em que a jogabilidade simultânea cria situações que nenhum jogo foi capaz de criar. Apenas por esta funcionalidade, esse truque de salão, a Starbreeze já mereceria ganhar os prêmios que ganhou pelo título. Mas esta jogabilidade não está ali por acaso: a narrativa parte dela e para ela converge novamente em seu epílogo, em que o simples apertar de um botão específico é capaz de evocar tantas memórias e emoções ao mesmo tempo.
O mundo é mágico e brutal. Uma travessia para ser feita a dois. Ou a três. Ou a quatro. Porque nunca estamos totalmente sozinhos. Assim como esse jogo.
3 comentários:
Realmente, esse jogo ele entra na categoria de "mais do que diversão".
Caramba, joguei sozinho, com a minha noiva assistindo, foi uma experiência muito interessante, mas agora lendo a sua resenha vi o quanto deve ter sido fantástico o jogo em dupla. Devia ter insistido mais um pouco pra ela jogar comigo. :D
Também zerei esse jogo na minha steam e gostei muito, uns dos melhores que joguei. Pra mim, a parte mais emocionante de todas foi quando o irmãos mais novo teve que atravessar a água, no finalzinho. Estava com um controle e o controle foi vibrando, enquanto dava pra ouvir a voz do irmão mais velho. Tenho vontade de chorar quando lembro. Ótima análise!
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