Retina Desgastada
Idéias, opiniões e murmúrios sobre os jogos eletrônicos
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20 de setembro de 2014

Realidade da Guerra

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Nesse exato minuto, alguém com certeza está colocando uma bala virtual atravessando o crânio de um adversário em algum FPS.

Nesse exato minuto, alguém com certeza está colocando uma bala de verdade atravessando o corpo de outro ser humano em algum conflito por território ou poder.

Os limites entre o real e o virtual, o trágico e o divertido, o autêntico e o encenado são bastante claros. Talvez alguns raros indivíduos misturem as fronteiras e transbordem insanidade para o mundo dos vivos, mas o fato é que uma geração de jogadores não se transformou em uma geração de soldados treinados para matar por mais que a mídia vocifere bobagens.

Com tantos anos na linha de frente deste debate, já deveria ter me acostumado com tudo. Mas confesso que o caso de Carl-Magnus Helgegren me deixou perplexo.

Pai Preocupado

O sueco Helgegren é um pai preocupado como tantos outros sobre os efeitos de Call of Duty em seu filhos. E, como tantos outros, ao invés de obedecer à classificação indicativa, primeiro comprou o jogo de guerra para seus filhos de 9 e 10 anos e depois se espantou.

Os garotos conversavam sobre modelos de armas e munição com a tranquilidade de peritos.

Mas Helgegren não é um pai como tantos outros. Ele é documentarista e jornalista freelancer e cobriu zonas de guerra, além de ser fascinado pela Segunda Guerra Mundial. Anos atrás, esteve do lado errado do disparo de granadas de gás em um (entre tantos) conflitos entre palestinos e israelenses. Viu o sangue derramado de crianças.

O que um pai como tantos outros faria com a aparente obsessão de seus filhos (muito) pequenos por Call of Duty? Tiraria o jogo da casa, colocaria de castigo, reduziria o tempo de jogatina, compraria Minecraft, sentaria e teria uma conversa.

Não Helgegren. O sueco pegou os dois garotos, colocou em um avião e voou para a fronteira entre Síria e Israel para que eles conversassem com combatentes e vissem ao vivo o sofrimento dos refugiados. Ele queria que eles conhecessem a guerra de verdade. Felizmente, isso foi antes do violento confronto entre o exército israelense e o Hamas que aconteceu esse ano.

Crianças, Tanque e Soldados de Israel

Ao voltarem para casa, nenhum dos dois garotos se animou a jogar de novo os tiroteios virtuais. Ainda jogam, mas basicamente FIFA e RPG.

Pai Exagerado

As crianças não foram expostas a nenhum perigo físico durante a jornada, garantiu Helgegren. Que sequelas psíquicas podem surgir do choque súbito de uma diversão sem compromissos em direção a uma parede de horror, é algo que o futuro ainda vai determinar.

Seria o equivalente a flagrar seu filho com uma Playboy e levá-lo para uma clinica de doentes contaminados pela AIDS, partindo da lógica de que a revista serviria como uma porta de entrada de uma vida de promiscuidade.

Ironicamente, o próprio Helgegren admite que jogou Doom, Wolfenstein e os primeiros Call of Duty. Confessa que não aprendeu nada de significativo com eles. Mas cai no equívoco de se enfurecer por que os novos Call of Duty continuam não ensinando nada sobre a natureza da guerra. Deveriam?

Um dos filhos com um rifle

Ao final da experiência, o pai exagerado não culpa os jogos e declara que eles "não são maus". Mas que existe toda uma questão social envolvendo os países bem-sucedidos da Europa, que não veem uma guerra há décadas e que seus habitantes tem "a responsabilidade de se educar e não apenas se tornar zumbis jogando jogos eletrônicos e consumindo hambúrgueres".

A Suécia de Helgegren é o berço da franquia Battlefield. Tem quase 3 milhões de armas de fogo registradas com a população civil. Teve um total de 18 mortes provocadas por armas de fogo em 2010. Contra cerca de 300 milhões de armas de fogo registradas nos Estados Unidos e mais de 11 mil mortes no mesmo ano (link para os dados).

Definitivamente, o problema não está nem nas crianças e nem nos jogos. Talvez esteja com os pais.

Ouvindo: Inocentes - A Cidade Não Para

3 comentários:

Marcos disse...

Pra mim, o único jogo de guerra que tratou com maturidade o assunto foi o Spec Ops The Line. Fora isso eu evito qualquer outro jogo de guerra pelo excesso de dissociação com um assunto tão recorrente

Shadow Geisel disse...

não gosto de jogos de guerra que retratam a realidade (ou chegam muito perto disso). joguei um pouco de um COD que, sinceramente, não sei qual foi e achei chatíssimo. mal passei dos tutoriais. prefiro atirar em zumbis, demônios e afins, pois posso desligar o jogo tranquilo sem fazer nenhuma associação a sofrimento real causado a pessoas reais. não gosto de ver pessoas sofrerem, e matando demônios eu tenho a certeza que não estou tirando a vida de nenhum pai de família virtual (eu acho que demônios não constituem família, mesmo em jogos...)

Davi disse...

Gente... são pixels numa tela... só isso. Dssligou, cabou. Sueco maluco.

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