Quando a sequência de Left 4 Dead foi anunciada na E3 de 2009, uma parte significativa dos jogadores não aprovou a ideia de um novo capítulo tão rápido. Um boicote chegou a ser organizado e, como acontece hoje em dia, um grupo no Steam foi formado. O L4D2 Boycott (NO-L4D2) chegou a reunir 10 mil membros no seu primeiro final de semana e 37 mil um mês depois. Entre as preocupações dos organizadores do boicote estavam a ambientação do novo jogo (todo à luz do dia, ao contrário do tom noturno do primeiro), a possibilidade de fragmentação da comunidade e o eventual abandono da Valve em relação ao jogo anterior.
Em uma jogada de mestre, a Valve convidou os líderes do movimento para jogar versões preliminares de Left 4 Dead 2 em seus escritórios. Um deles, arrecadou dinheiro para pagar seu voo da Austrália para a Valve. Gabe Newell se ofereceu para pagar a viagem do próprio bolso e o dinheiro arrecadado foi destinado à caridade. Dois meses depois de sua fundação, o L4D2 Boycott (NO-L4D2) foi desativado. Segundo Newell, a porcentagem de ex-membros do grupo que fez pre-order do jogo foi bem maior do que aqueles que nunca participaram do boicote...
Por que este preâmbulo? Por que o boicote estava certo.
Reabrir esta ferida quatro anos depois é completamente irrelevante. Mas é impossível não lembrar do assunto enquanto mato centenas de zumbis no que parece ser uma reprise requentada das aventuras de Francis, Zoey, Bill e Louis. Há muito pouca novidade que justifique um título separado, vendido a preço cheio na época do seu lançamento. Hoje, com Left 4 Dead 2 atingindo valores ridículos em constantes promoções, pode parecer uma reclamação tola. Mas em 2009, não deve ter sido.
Left 4 Dead 2 traz novos cenários, focado na região Sul dos Estados Unidos. Mas os melhores mapas ficaram mesmo no primeiro jogo e longe se vai a escala épica de destruição alcançada anteriormente. Faltou tempo e empenho por parte dos designers ou a memória ainda está muito fresca? A troca da eterna noite dos mortos-vivos pela claridade ofuscante do dia esvaziou a tensão. Percebe-se na prática que há um motivo óbvio para a maioria dos filmes de terror ter seus melhores momentos na escuridão da noite. Há um medo atávico do escuro no coração do ser humano e não adianta muito teimar contra isso.
Os novos protagonistas da série carecem do carisma dos protagonistas originais (que já não era tão alto assim, uma vez que enredo não é o forte da franquia). Na verdade, Nick, Ellis, Coach e Rochelle parecem encarar o apocalipse zumbi com uma atitude mais leve que os outros sobreviventes, suas conversas são menos assustadas e suas brigas internas praticamente inexistentes. Os novos antagonistas, por sua vez, pouco acrescentam à jogabilidade: três novos superinfectados (Spitter, Jockey e Charger) e alguns mortos-vivos diferenciados com impacto nulo (palhaço, mudder, policial, HAZMAT etc). Armas brancas também aparecem, assim como algumas novas armas de fogo, mas, mais uma vez, nada que altere a forma como se joga e não pudesse ter sido incluído em um Weapon Pack da vida.
Uma boa novidade do jogo é o clima, raramente influente em muitos jogos. De forma até surpreendente, a Valve entrega em alguns mapas uma tormenta de fazer inveja a São Pedro, capaz de inundar o terreno e dificultar a orientação em alguns momentos. Pena que o recurso é pouco aproveitado, aparecendo de forma tímida em algumas campanhas e sendo o foco apenas em Hard Rain. Um bom furacão e sua subsequente devastação poderiam ter tornado Left 4 Dead 2 único e um sinistro lembrete do Katrina, que arrasou parte do Sul dos Estados Unidos em 2005. Pior do que enfrentar a legião dos mortos-vivos, seria ter que enfrentá-la junto com a fúria dos elementos.
No meu entendimento, o conteúdo de Left 4 Dead 2 poderia ter sido integrado ao primeiro jogo em forma de DLCs, até mesmo pagos, se fosse o caso, até chegarmos a uma versão Ultimate ou GOTY de Left 4 Dead. Mas o que temos hoje é o primeiro título se tornando obsoleto, com a comunidade migrando em peso para o novo título. Não por acaso, Left 4 Dead 2 também traz boa parte (se não todas) das campanhas anteriores, na companhia do quarteto original.
Uma vez que a Valve não demonstra ser capaz de contar até três, fica a dúvida: para onde vai a franquia agora? Que o verdadeiro Left 4 Dead 2, com uma nova engine, novos desafios e, talvez, uma história, se apresente.
Um comentário:
O que a Valve fez com o primeiro L4D é algo bastante único e acho que nem eles conseguem explicar isso direito. É um dos raros casos que um jogo atinge total obsolência, pois comprar o L4D1 hoje é loucura, uma vez que TODO o seu conteúdo foi migrado para o L4D2.
Não só o clima do primeiro jogo era melhor, mas como todo o impacto causado pelo jogo à época me fizeram gostar mais dele. Eu aderi prontamente ao boicote de L4D2 mas logo logo consegui encontrar 3 amigos para rachar um 4-pack em pré-venda e acabei cedendo.
Não me arrependo. L4D2 é um ótimo jogo e digo que ele fez valer muito bem os 44 reais que eu paguei nele em pré-venda. Porém, é inegável que o jogo foi uma sequência completamente desnecessária (mas nem por isso ruim). Ainda assim, permanece aquela nostalgia pelo primeiro, que pra mim sempre será o melhor.
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