Retina Desgastada
Idéias, opiniões e murmúrios sobre os jogos eletrônicos
Comunidade do SteamMastodonCanal no YouTubeInstagram

14 de março de 2013

O Jogo do Camaleão

David Bowie David Cage causou uma certa comoção recentemente ao colocar o dedo em riste para a indústria de jogos e exigir dela uma maturidade que parece não estar presente. Você pode não concordar com suas palavras, pode ficar furioso com o tom de voz, pode zombar de Heavy Rain, sua última criação, e já torcer o nariz antecipadamente para Beyond: Two Souls, seu próximo projeto. Mas você não pode ignorar que ele está se esforçando e não é de hoje.

No distante ano de 1999, sua empresa, a Quantic Dream, lançou um título que fugia às definições correntes. Uma mistura de mundo aberto, adventure, luta, tiroteio, RPG, com um enredo mirabolante de ficção-científica. Tudo isto estava em Omikron: Nomad Soul.

E David Bowie. Literalmente. O pioneiro camaleão do rock não apenas participou da criação da história e do design do jogo, como também empresta suas feições para dois personagens do mundo de Omikron, faz uma apresentação musical "ao vivo", além de ter composto músicas específicas para o projeto. Sua esposa, Iman, também serve de base para um dos NPCs.

Nunca joguei Omikron, mas sempre esperei pela oportunidade. Em seu lançamento, era um jogo muito caro para ser comprado nas lojas, muito exótico para vender nos camelôs e muito grande para ser baixado com banda estreita. Era um título do qual ouvia falar, cercado de mistérios e possibilidades. Os sistemas operacionais evoluíram e o primeiro trabalho de David Cage ficou trancado para sempre no Windows 98. Só fui conhecer o talento da Quantic Dream com Indigo Prophecy. Onde também conheci sua inexplicada maldição de fracassar em suas promessas.

Agora o mundo de Omikron está disponível para Windows XP, Vista, 7 e 8 graças ao trabalho dos magos digitais do GOG. Por dez dólares, agora qualquer um pode ver onde Cage começou a sonhar.

Ouvindo: The Bratislava Symphony Orchestra - The Warg

10 comentários:

Breno disse...

"Mas você não pode ignorar que ele está se esforçando e não é de hoje."

Se for se esforçando para ser um diretor de hollywood, vc está certo.Hideo Kojima em esteroides é pouco para ele.

David Cage sofre da crise do desenvolvedor degenerado. Nela fazem parte pessoas como Peter molineux, Warren Spector, Ken Levine, Tom Hall, David Gaider, John Romero e tantos outros desenvolvedores brilhantes(ou talvez pessoas que roubavam o brilhantismo de outros desenvolvedores menores, nunca se sabe) que hoje trabalham fazendo jogos para fezesbook ou algum AAA vazio. Garanto a vc que os jogos que eles fizeram outrora eram bem mais maduro do que o que eles botam hoje no mercado.

Shadow Geisel disse...

será que só eu acho a voz de David Bowie horrível? a música do trailer seria até bonita e climática, sem a voz do cantor...

um desenvolvedor com tanta coragem para pôr o dedo em riste contra a indústria de jogos devia ter o mínimo de competência para garantir o feijão com arroz que um jogo precisa ter para fazer sucesso. traduzindo: em Heavy Rain, minha experiência com os jogos de Cage não foi das melhores. o jogo é lindo. a história muito boa e envolvente (apesar de não conseguir fuigir do clichê do "o assassino é alguém que vc já conhece no game"). mas jogabilidade desse jogo é um lixo sem tamanho. o personagem anda como um robô e os controles são duros. às vezes tudo isso culminava em uma hilariante e bizarra situação onde o personagem andava para um lado e a cabeça estava virado para o outro. era nessas horas que eu ficava apenas esperando que ele vomitasse uma pasta verde...

"Se for se esforçando para ser um diretor de hollywood..."

é esse tipo de comentário intransigente que gera todo tipo de intolerância (inclusive contra quem joga games) por parte de pessoas que pensam que dominam determinado assunto.
quem é você para decidir que uma pessoa vai se divertir mais ou menos com um jogo pelo fato de ele ser mais uma novela interativa que um jogo mais voltado para jogabilidade convencional?

tem muita gente que torce o nariz para estilos de jogos que você, Breno, acha a coisa mais natural do mundo, como RTS ou RPGS.
certa vez um conhecido do meu irmão comprou um PS2. deu na cabeça dele de experimentar um tal de Final Fantasy 10, de uma série que ele ouviu falar muito. ele não entendeu e detestou o jogo pois, "como é que os monstros ficam parados no lugar esperando para serem atacados"? "por que o meu personagem bate e volta pro exato lugar onde estava quando bateu"? pra quê tanta cena e conversa num game"?

acho que esse tipo de visão deveria acabar, pois cada um sabe o que o faz se divertir com um jogo ou não.

Breno disse...

Shadow, o cara quer que a industria mude como se ele só sabe fazer adventures ala anos 90, com os quick time events de God of war? é muita hipocrisia para a minha pessoa.

Breno disse...

Ah, e a diferença entre eu e o seu conhecido é que eu conheço muito bem o genero de jogos que David cage trabalha. A questão é, o que ele trouxe de novo para o genero?

Ed R M disse...

Bah, só pelo Bowie vale a pena :) E off-topic, acaba de sair álbum novo dele depois de dez anos :)

"Fanboyismo" do Bowie à parte, apesar de Omikron ser um jogo estilo "frankestein" pelos 3 tipos distintos de jogos, é um game com idéias promissoras e bem bacanas (que fica maios ou menos não realizadas) e, pra mim, disparado o melhor jogo do David Cage dos 3 (esse, Indigo Prophecy/Fahrenheit e Heavy Rain).

Talvez, pra mim, especialmente porque o gameplay apesar da colcha de retalhos é divertido e a história sci-fi é bem bolada e faz sentido dentro do contexto (apesar de não ser nada de outro mundo).

Nos outros dois jogos da Quantic Dream, o Cage começou a se levar a sério ***demais*** culminando no terço final risível do Indigo e naquela "coisa" que nem sei como definir que foi a "história" do Heavy Rain, que não serve nem pra filme B de baixo orçamento gravado no quintal do Uwe Bowll. Sou super fâ da idéia de games bem fixados com os pés no mundo real (que são pouquíssmos, aliás - se não contarmos o inúmeros jogos com base na 2ª guerra, que já virou mais do que lugar comum), sem elementos mágicos ou fantásticos, mas por ter essa proposta realista, pro meu gosto o Heavy Rain peca em tanto quesitos que vão desde a falta de um mínino aceitável de verossimilhança até o andamento da trama e relações dos personagens.

(É interessante notar que o The Walking Dead da Telltale Games pegou bem o esquema do Heavy Rain, mas deu de dez a zero na caracterização dos personagens, diálogos e situações, o que fez toda a diferença).

E Omikron é, provalmente, ao lado do Outcast (game de 1999, da Appeal / Infogrames), um dos games que eu simplesmente não acredito que o Aquino não tenha jogado ainda...

Sugestão, Aquino, se me permite: resista à tentação de jogar outro dos FPS meio macabros que você tanto gosta (estou olhando pra você, Vivisector :-P) e jogue esses dois assim que possível, pois, independente de vc gostar ou não, garanto que eles lhe darão muitas considerações a serem feitas sobre jogos eletrônicos.

Esses tempos li um comentário em uma entrevista do David Cage que achei bem curioso, se não paradoxal: ele disse que os jogos estão muito focados na violência. Ora, quanto ao gameplay, está certo que no Heavy Rain, por não ser um shooter os personagens não ficam por aí atirando em qualquer coisa que se mova na tela (como a maior parte dos jogos, que acredito que foi apenas ao que ele se referiu), mas a história em si do game é violentíssima, o que, na minha opinião, leva ao tal paradoxo dessa frase dele.

Quanto ao comentário do Aquino sobre o jogo ser caro na época, não pude deixar de rir, pois apesar de eu também não ter comprado o jogo assim que foi lançado devido ao preço, em 2001 esbarrei nele em uma loja de games de Porto Alegre (a Digimer do Praia de Belas, pra quem conhece) onde ele estava custando R$ 19.90!

Naquele dia eu estava no lugar certo na hora certa, heheh.

Breno disse...

Um dos grandes problemas que os jogos eletronicos atuais enfrentam é a dissonancia narrativa/mecanica. Basicamente é um conflito entre os dois campos, a história não complementa o jogo e vice versa. Então temos abominações como jogos "realistas" estilo COD que por um lado tenta simular um conflito baseado nos tempos atuais, no outro temos QTEs, saude regenerativa, compasso indicando a direção, etc... Quer dizer, por um lado temos uma simulação, e do outro temos um misto de shotter Arcade + sci-fi. Quanto mais sério o jogo tenta ser, mais o problema se destaca(vide Far Cry 3, Tomb Raider 2013 e GTA 4).

É por isso que jogos como Outcast ainda estão afrente do nosso tempo. Até quando...

Shadow Geisel disse...

"Quanto mais sério o jogo tenta ser, mais o problema se destaca(vide Far Cry 3, Tomb Raider 2013 e GTA)".

o que vc enxerga como problema eu vejo como uma necessidade que o entretenimento tem.
imagina se vc levasse um tiro no Far Cry 3 e seu personagem caísse morto? e pior: nada de load game, pois ninguém (a não uns mitos de um carinha aí que voltou dos mortos) tem sete vidas como um gato.
um jogo ainda precisa funcionar. sempre que um jogo possui alguns elementos realistas ele, inevitavelmente, acabará sendo fantasioso em outros (como no New Vegas por exemplo, em que os itens e até munição das armas têm peso mas o protagonista consegue levar mais de 200 kg no lombo).
é inevitável...

sobre a violência do Heavy Rain, concordo com o Elder (vou te chamar de Elder mesmo). é hipocrisia da imprensa em rotular um jogo de fantasia como God of War de violento mas fechar os olhos para filmes como Kill Bill e tantas outras centenas, que não retratam a violência com gráficos de computador e sim co a "vida real".

Breno disse...

"imagina se vc levasse um tiro no Far Cry 3 e seu personagem caísse morto?"

Eu jogo esse jogo todo dia: ele se chama Operation Flashpoint:Goty edition. Logico que, não adianta dar uma roupagem realista para um jogo estilo Arcade,pois ai quebraria o jogo, pois nele se presupõe que o protagonista ira receber diversos tiros durante o jogo. A questão é: O tema serio desses jogos não são compativeis com a jogabilidade, ainda mais quando o protagonista age todo emo em cutscenes e depois sai matando centenas de pessoas como se fossem insetos(ver Niko de Gta, Lara Croft,etc.)

Shadow Geisel disse...

no Operation Flash Point você está em um sandbox de 200 horas de exploração? acho que não...

Breno disse...

"no Operation Flash Point você está em um sandbox de 200 horas de exploração? acho que não..."

O jogo é bem longo, e não tem nada a ver com horas jogadas. Viajasse nessa.

Retina Desgastada

Blog criado e mantido por C. Aquino

Wall of Insanity