Retina Desgastada
Idéias, opiniões e murmúrios sobre os jogos eletrônicos
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11 de outubro de 2012

Clive Barker: Jogos de Sangue - Parte II

Pinhead

Lamentavelmente, Clive Barker não obteve no mundo dos jogos eletrônicos o mesmo tipo de sucesso comercial e de crítica que conseguiu no mundo da literatura fantástica. Seus poucos jogos lançados, de uma forma ou de outra, enfrentaram dificuldades em atingir seus objetivos. E, para cada título produzido com o toque do mestre do horror, há um cadáver podre e escondido de um título que nunca viu a luz do dia.

Conhecido mundialmente por Hellraiser, seu maior êxito cinematográfico, porque Barker não transformou sua obra mais famosa em uma experiência eletrônica? Na verdade, tentaram por ele. Tentaram três vezes. E, como em uma maldição, as três tentativas terminaram em fracasso.

A primeira vez foi no distante ano de 1991, sob o comando da finada Color Dreams. A empresa tinha a má reputação de produzir jogos para NES sem ter uma licença da Nintendo para isso, burlando o bloqueio do chip do console. De Hellraiser - The Game sobrou pouco mais do que uma página no IMDB. Na trama, o jogador estaria no papel de um pobre infeliz que abriu a Configuração de Lamentos e agora se encontra aprisionado em seu interior. Enfrentando cenobitas e destravando novas áreas do cubo mágico, era preciso encontrar uma saída para o tormento. A cada fase completada, a caixa giraria e abriria uma nova área. O jogo nunca foi concluído, ainda que a empresa tenha gasto entre 35 mil e 50 mil dólares em adiantamento para segurar os direitos de uso da marca. Apesar de investimentos maciços em publicidade e até do desenvolvimento de novas tecnologias para fazer o jogo funcionar dentro das limitações do cartucho, o projeto naufragou.

Hellraiser.jpg

Por uma estranha coincidência, a Color Dreams fechou suas portas no mesmo ano em que o jogo foi engavetado. De suas cinzas, surgiu a Wisdom Tree, uma empresa especializada na produção de jogos com temática cristã. Com títulos como Spiritual Warfare e Bible Adventure, a desenvolvedora conseguiu um sucesso de vendas que não tinha obtido até então.

Virtual Hell A adaptação de Hellraiser permaneceria adormecida por mais cinco anos, até ser despertada em 1996 pelo Magnet Interactive Studios. Hellraiser: Virtual Hell pegava carona na febre do CD-ROM e conteria diversas cenas com atores reais, incluindo uma participação do próprio Doug Bradley, o eterno interprete de Pinhead. Reza a lenda que Bradley gravou sua participação em um único dia de filmagem, durante uma folga da produção de Hellraiser: Bloodlines. Nas palavras do ator: "eu digo coisas para o jogador como eu estou deliciado que eles caíram na armadilha que eu montei ou para lançar um aviso para que eles não se sintam seguros demais depois de terem conseguido sucesso. Eu gostaria de ter visto o produto terminado para que eu pudesse entender porque eu estava fazendo aquelas coisas estranhas que na hora pareciam tão ridículas".

Mas nem Bradley, nem ninguém jamais viram o jogo terminado. Virtual Hell seria um adventure em primeira pessoa, usando um clone da engine Build, da 3D Realms, famosa em jogos como Duke Nukem 3D, Blood e Shadow Warrior. Na trama, o jogador entraria no papel de um funcionário de uma empresa de realidade virtual que abre uma passagem para a dimensão infernal. Na história, Hellraiser existe como um filme de terror, e o inventor do equipamento é obcecado pela série. Através de cálculos matemáticos, o maluco consegue decifrar a Configuração de Lamentos dos filmes e reproduzi-la em um ambiente 3D(?!). O protagonista, como todos os protagonistas azarados da História, acaba aprisionado neste inferno virtual e precisa encontrar uma forma de sobreviver. O roteiro, na íntegra, está disponível online (PDF).

Virtual Hell - Screenshot 02 Virtual Hell - Screenshot

Segundo fontes internas anônimas, Virtual Hell tinha dois problemas: as cenas em FMV eram de péssima qualidade (como a maioria delas em sua época) e a engine era lenta e repleta de bugs. Com oito níveis já concluídos e 95% da arte terminada, o jogo foi engavetado por falta de distribuidora. Ninguém fora da Magnet Interactive Studios acreditava que o título pudesse funcionar. A empresa desapareceu, sem deixar vestígios.

Em 2000, aconteceria a terceira e, até o momento, última tentativa de levar o universo de Hellraiser para a indústria dos jogos eletrônicos. Com pompa e circunstância, a Threshold Entertainment, um gigante multimídia do começo do século, anunciou a produção de Hellraiser: Hell On-Line. O jogo começaria com o jogador resolvendo a Configuração de Lamentos. A cada visita, o usuário teria que vencer o puzzle para conseguir entrar, com resultados diferentes a cada tentativa. Segundo o press-release, isso seria apenas o começo para uma "experiência de jogo online diferente de tudo que existe na web".

A Threshold vivia de explorar licenças famosas em jogos para internet de qualidade duvidosa. No seu acervo estavam Duke Nukem, Mortal Kombat, Heavy Metal, Conan. Mas também tinham True Lies, The Shadow, The Last Action Hero e a lutadora de luta-livre Rena Mero, além de um show online chamado de "Bikini Masterpiece Theatre". Era esse o nível do império da Threshold. Sobre o seu envolvimento na produção de Hell On-Line, Clive Barker foi taxativo: "Meu envolvimento? Nenhum. Nem mesmo vi o jogo".

Na verdade, nunca houve o jogo. O endereço do site foi usado por anos como um depósito de informações sobre a franquia e depois chegou a hospedar dois mini-jogos inexpressivos ("Torment Trivia" e "Morbid Match"). Mas a "experiência online" prometida não aconteceu. Hoje, o domínio expirou e não se fala mais no assunto.

tormenttrivia morbidmatch

Mas os limites da mente perversa de Barker não terminam em Hellraiser... a seguir, outros fantasmas no sótão.

Ouvindo: Corpus Delicti - The Smile of Grace

4 comentários:

Jimmy Fischer disse...

Tenho 33 anos, sou fãnzaço de filmes de terror e ainda não assisti ao Hellraiser... D:

C. Aquino disse...

Minha opinião sobre a franquia:
1º - Muito bom
2º - Excelente
3º - Ruim
4º - Muito ruim, ruim demais, me matem por favor!
5º - Bom
6º - Ruim
7, 8 e 9(!) - Tomando coragem para ver

Valber disse...

Que eu lembre, so tinha assistido ate o segundo filme, sabia que havia um terceiro considerado ruim, nem imaginava que ja existia o nono!

Shadow Geisel disse...

uma verdadeira maldição são esses jogos que continham "on-line" no título. alguém aí já jogou um grande jogo que levasse essa alcunha?

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Blog criado e mantido por C. Aquino

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