Retina Desgastada
Idéias, opiniões e murmúrios sobre os jogos eletrônicos
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23 de novembro de 2011

Gemind - Vida e Morte em Poucos Pixels

(Publicado originalmente no Gemind)

“O homem é o único animal que tem consciência de sua própria morte”. Esta frase, repetida à exaustão, é questionável. Porém, na maioria dos títulos produzidos pela indústria dos jogos eletrônicos, a morte ainda é apenas um inconveniente, um obstáculo entre o jogador e seu objetivo, facilmente superado com um reload ou uma “vida” extra. O máximo de pensamento dedicado ao destino final está todo contido no reflexo “onde está a tecla F9?”.

Mas nem todo jogo é assim.

Orfeu Revisitado

Don't Look Back

Don't Look Back a primeira vista pode parecer mais um título de plataforma gratuito, um webgame despretensioso com gráficos da era Atari. Minhas limitadas habilidades em jogos do gênero me impediram de ir muito além das primeiras telas, mas o pessoal do blog Nostálgico All-Star Vermelho conseguiu jogar até o final e descobrir que existe uma metáfora por trás de tudo. Don't Look Back é um dos primeiros trabalhos do criador de VVVVVV. E um exercício de minimalismo. Sem texto, sem história narrada ou mesmo uma trilha sonora fora das batalhas com chefes, o jogo consegue beber na fonte do mito de Orfeu.

Na mitologia grega, o poeta e músico Orfeu desce até as profundezas do Inferno para resgatar a alma de sua amada Eurídice. Ao retornar, é imposta uma condição: “não olhe para trás”. Don't Look Back começa com o protagonista sem nome ao lado de um túmulo e o segue em sua descida por cenários repletos de monstros abissais e perigos em uma inexplicada missão de resgate. Ao contrário do tradicional, ao chegar ao final, o protagonista precisa voltar ao início. Na viagem de volta, o botão de recuar é desativado e a única opção se torna seguir em frente, sem olhar para trás, trazendo a alma encontrada e funcionando como um casamento entre jogabilidade e conceito. Uma vez novamente no ponto de partida, vem a amarga e enigmática conclusão sobre a inevitabilidade da morte.

O Fim é o Começo

The End apresenta uma abordagem mais didática para a velha questão que nos atormenta. Desenvolvido pela Preloaded para o canal educativo britânico Channel 4, o jogo consegue aliar informação e jogabilidade em doses equilibradas. Na minha época de escola não se debatiam estes temas, muito menos desta forma. Usando a linguagem dos jogos de plataforma e explorando os aspectos sociais, The End discute a Morte.

The End The End

Depois de toda a vida na Terra ser extinta nos primeiros segundos do jogo por um meteoro, o jogador é lançado para os estranhos mundos do pós-vida. Existem a esfera do Corpo, da Mente e do Espírito, com diferentes e exuberantes cenários de plataforma. Cada nível contém uma chave que desbloqueia o próximo e força o usuário a responder uma pergunta. Estes questionamentos sobre a vida e a morte irão traçar a linha de pensamento do jogador e aproximá-lo de outros com opiniões semelhantes.

O ser humano deve poder escolher a forma como irá morrer? Devemos celebrar os mortos? É possível ser feliz vivendo apenas o momento? Cada passo do jogo é repleto de links para fragmentos de informação relacionados à sociologia, teologia, psicologia, filosofia e cada fragmento está conectado a mais informação. Cada um irá se aprofundar o quanto desejar em direção a mais conhecimento.

Lua que Nos Ilumina

To The Moon

To The Moon é um jogo comercial desenvolvido com o infame RPG Maker, mas que não traz nenhum elemento de RPG. Não há combates, não há níveis, não há itens equipáveis. O que existe por trás do jogo com visual old-school é uma tocante jornada de descoberta sobre a vida, com o seu fim pairando constantemente no horizonte.

Em To The Moon, o jogador controla a Drª. Rosalene e  o Dr. Watts, dois especialistas em reconstrução de memória. No futuro, uma técnica permite entrar nas memórias de um cliente e modificá-las para que ele tenha a satisfação de ter realizado todos os seus sonhos. Infelizmente, a técnica é incompatível com as memórias reais e consequentemente só pode ser aplicada em pacientes terminais. O delicado trabalho dos dois médicos é garantir alguns momentos de suprema felicidade àqueles que estão para partir.

 To The Moon

Funcionando como um adventure, o jogador tenta entender o mistério que cerca o mais novo cliente de Rosalene e Watts, Johnny, um idoso em suas últimas horas. Seu desejo? Ter ido à Lua. Correndo contra o relógio biológico, o jogador salta de memória em memória da vida deste senhor solitário, mergulha em seu passado e tenta entender suas motivações, suas tristezas e suas alegrias e encontrar uma forma de realizar seu sonho. To The Moon conta com a trilha sonora assinada por Laura Shigihara (de Plants vs Zombies), que realiza um trabalho inspirado e consegue realçar ainda mais o clima de melancolia que o tema propõe. Prepare seu lenço e boa viagem. ATUALIZAÇÃO (15/04/12): Leia minha análise completa de To The Moon.

De concreto, o homem é o único animal que cria jogos eletrônicos sobre sua própria morte. E o enigma permanece.

Ouvindo: MorrowindSkyrim Theme Piano Violin Medley with Lara

Um comentário:

F O W L disse...

FAALA AQUINO!!!
olha, sinceramente, tentei de tudo para comentar la no Gemind e nao consegui, entao, vim aqui mesmo, retribuir o comentario que tu fez la no nosso blog.
Primeiramente, agradeço mesmo a citação la no Gemind, e pela visita no blog, claro.

O Poa ja havia te agradecido antes, falei com ele enquanto voces jogavam Killing Floor, mas enfim, só vim mesmo para agradecer, e, qualquer coisa, somos blogueiros, estou aqui para ajudar, mesmo com a minha ajuda sendo de pouco valia.

Até Mais e Abração!

Retina Desgastada

Blog criado e mantido por C. Aquino

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