Retina Desgastada
Idéias, opiniões e murmúrios sobre os jogos eletrônicos
Comunidade do SteamMastodonCanal no YouTubeInstagram

18 de outubro de 2011

Mundos Perdidos: Matrix Online

Box Entre Junho de 2004 e Julho de 2009, milhares de pessoas se desconectaram do mundo real para entrar em um estranho mundo virtual onde se transformavam em personagens que também se desconectavam do mundo real para entrar em um estranho mundo virtual onde se transformavam em outros personagens. Matrix Online foi o meta-MMORPG inspirado no universo expandido da trilogia cinematográfica homônima.

The Matrix alcançou um inesperado sucesso em 1999, se tornando um filme-símbolo de uma época, rendendo milhões de dólares de bilheteria e milhões de conversas em mesas de bar sobre a natureza da realidade. O filme alcançou a 39ª posição na lista dos 500 maiores filmes de todos os tempos, publicada pela revista Empire, e foi escolhido, em 2007, o melhor filme de ficção-científica dos últimos 25 anos, segundo a revista Entertainment Weekly. Até mesmo um dos pais do movimento cyberpunk, o mestre William Gibson, declarou que o protagonista Neo era seu herói favorito da ficção-científica. No rastro do sucesso, os irmãos Wachowskis tiveram a visão de transformar o que poderia ter sido apenas um filme memorável em uma franquia tentacular de quadrinhos, jogos eletrônicos, animação e outros dois longa-metragens.

O conceito de que aquilo que nós conhecemos como realidade não passa de um simulacro virtual, engendrado por uma ditadura de Máquinas futuristas, parecia o cenário perfeito para um MMORPG. Jogadores de qualquer lugar do mundo poderiam se conectar a Matrix Online e assumir o papel de avatares envolvidos na luta definitiva entre a raça humana e os robôs. Mais do que um meta-palco digital de pancadarias, MxO, como foi apelidado, também oferecia uma continuação canônica dos eventos vistos nos filmes. Para todos os efeitos, o jogo era o futuro da franquia.

Matrix Online

Em MxO, o jogador entra na pele de um redpill, um humano que se libertou da Matrix e conheceu a realidade. Infelizmente, a realidade não tem nenhum glamour e é composta de gente vestindo trapos, comendo papinha e vagando por uma Terra sem luz do sol. Então, o avatar do jogador retorna para o mundo virtual, onde pode escolher as melhores roupas, utilizar os melhores poderes e fazer a diferença. Qualquer semelhança com o nosso mundo é mera metalinguagem. Ou amarga ironia. MxO se passa todo em uma única cidade virtual, Mega City, onde três facções disputam o poder. O jogador pode escolher se filiar a: Zion, que reúne os remanescentes da espécie humana que se refugiaram na cidade real do mesmo nome; Máquinas, os escravizadores da humanidade, focados em preservar o status quo e a trégua instável com Zion; ou Exilados , aqueles que seguem o programa renegado chamado Merovingian e que buscam vantagens no conflito. Outras facções menores surgiram com o desenrolar da trama: os E Pluribus Neo (EPN), devotos de Neo e radicais pela libertação dos humanos do domínio das Máquinas; e os Cipherites, radicais seguidores das Máquinas que fazem de tudo para voltar à ignorância e esquecer que a realidade existe.

Matrix Online 02 Matrix Online 04

O grande diferencial de Matrix Online em relação a seus concorrentes era mesmo o universo expandido. Eventos ao vivo ajudavam a avançar a história central, na medida em que tramas e conspirações se desenrolavam e a batalha pela supremacia envolvia as facções. Para atingir este nível de qualidade, o jogo contou com o apoio do roteirista de quadrinhos Paul Chadwick, responsável por algumas HQs da franquia, e idéias dos próprios irmãos Wachowskis. Personagens vistos em outras mídias faziam parte do universo do MMORPG e exerciam papel crucial nas aventuras. Em uma delas, no ápice de popularidade do jogo, o líder Morpheus, interpretado nos cinemas por Laurence Fishburne, foi assassinado. Durante meses, sua morte foi questionada dentro de MxO e circularam rumores de que ele ainda estaria vivo, alimentando mais ainda a sede de exploração dos jogadores. Em outro evento, um falso Morpheus manipulou as facções e assumiu uma posição de importância no enredo, até ser desmascarado. Boatos sobre a ressurreição do messias Neo, personagem de Keanu Reeves na tela grande, e a busca pelos seus restos mortais ocuparam o centro do jogo por anos.

Matrix Online - MorpheusMas, tudo que tem um começo, tem um fim. Devido ao baixo número de assinantes, a Sony Online desligou a Matrix no primeiro segundo do primeiro dia de Agosto de 2009. Um grande e último evento foi planejado, uma batalha de vida e morte entre as facções onde grandiosos poderes semi-divinos seriam conferidos a todos os jogadores. O resultado, porém, foi catastrófico. Os servidores não suportaram o pico de acessos e a pirotecnia dos gráficos exigidos pela distribuição desordenada de poderes fantásticos. Para muitos, o final apoteótico foi abruptamente interrompido com uma desconexão seca. Para outros, foi um show de slides, com a taxa de frames derrubada a níveis patéticos. Deixando muitas pontas soltas no enredo, Matrix Online encerrou a franquia com a vitória dos bugs e do mistério.

Hora de Acordar

Matrix - Neo Com uma marca poderosa por trás, um conceito metalingüístico e um mundo virtual justificado, o que deu errado em Matrix Online? Problemas existiram desde o começo, antes mesmo do lançamento. Inicialmente, o jogo seria desenvolvido através de uma parceria entre a Ubisoft e a Warner Brothers, detentora dos direitos da série. Mas a Ubisoft se desligou no projeto em fevereiro de 2004, poucos meses antes do beta. A desenvolvedora Monolith, entretanto, continuou seus trabalhos como se nada tivesse acontecido. Porém, a Ubisoft sentiu o cheiro de fracasso: os dois últimos filmes da série não tiveram a mesma receptividade do primeiro, para dizer o mínimo, esvaziando o interesse no universo de Neo e seus aliados. Ainda assim, o MMORPG sairia na data prevista, com distribuição da SEGA. A dança das cadeiras continuaria três meses depois, com a SEGA saindo de cena. O que parecia ser o fim prematuro do jogo culminaria com a entrada triunfal da Sony Online Entertainment, que comprou o jogo e o reuniu com seu amplo rol de títulos do mesmo gênero.

Neste meio tempo, World of Warcraft e sua horda de inscritos varreu o cenário dos MMORPGs e dizimou os pequenos títulos sem clemência. Matrix Online resistiu por  mais quatro anos, sob a tutela da SOE. Mas os jogadores sentiram a diferença de comando. No breve período em que a Monolith cuidou de sua cria, o jogo teve eventos diários ao vivo, cutscenes exclusivas e freqüentes. Com a Sony no controle, os eventos diários passaram a acontecer somente no horário comercial americano, alienando os jogadores que trabalhavam neste período ou que viviam em um fuso horário incompatível. Em seguida, os eventos se tornaram cada vez mais raros e passaram a ser realizados por voluntários não-remunerados da comunidade. As cutscenes cinematográficas foram substituídas por storyboards. As atualizações do programa também foram deixadas de lado e os bugs se acumulavam. Com a redução de investimento em conteúdo novo e a fuga dos antigos assinantes, a população online diminuiu progressivamente.

Com o passar do tempo, o interesse natural na franquia também esmoreceu. Sem novos filmes, quadrinhos ou animações, MxO seguiu como o último bastião. Infelizmente, a mesma característica que o tornava único contribuiu para afastar novos assinantes. A história ininterrupta, sem reprises ou explicações, mantinha o enredo de Matrix avançando, porém dificultava a entrada de novatos. Quem se inscrevesse no MMORPG em 2008, tinha pela frente um universo distinto daquilo visto nos filmes e muito mais complexo: sem Morpheus, sem Trinity, sem Neo. Mas repleto de novos personagens e com uma intrincada rede de confiança e traições entre os habitantes de Mega City.

Perdendo usuários a cada ano e sem conseguir criar empatia com novos assinantes, Matrix Online definhou. Apesar das críticas recebidas, a Sony manteve o projeto no ar por mais tempo que outros mundos perdidos, ainda que abaixo do seu potencial. No grande painel metafísico criado pelos Wachowskis, o desligamento vira uma sentença de morte para Zion, para as Máquinas e para os Exilados. Pelo menos, até o próximo reboot.

Ouvindo: Covenant - Humility V2

3 comentários:

Poa Kli-Kluu disse...

Interessante saber como morreu esse MMO de uma franquia do porte desta.
Eu ja havia lido sobre ele, e até visto alguns vídeos, mas jamais havia procurado saber mais a fundo. Me pergunto o quão custoso pode se tornar um mmo. Quão mais custoso ele costuma ser se comparada à um jogo de console comum?

Aliás, esse post me lembrou outra série de posts que fez: Volta ao mundo. O que aconteceu com eles? Acabaram? O:

Ainda tens de falar principalmente do APB, The Chronicles of Spellborn(que eu cheguei a jogar!) e do Hellgate. Outros títulos que também seriam interessantes abordar é Genesis AD, Ragnarök Online 2, Fantasy Earth Zero, Bots, Exteel (que também joguei) - Todos estes online.

E pra te lembrar, post sobre os mods do FO3, estou esperando este pra voltar a jogar XD

C. Aquino disse...

A série Volta ao Mundo acabou mesmo (http://blog.retinadesgastada.com.br/search/label/volta%20ao%20mundo). Atualmente tem duas séries em andamento: Outubro do Horror (http://blog.retinadesgastada.com.br/search/label/outubro%20do%20horror) e Mundos Perdidos (http://blog.retinadesgastada.com.br/search/label/mundos%20perdidos). Em Mundos Perdidos estão programados ainda The Chronicles of Spellborn, Aliens Online e uma postagem surpresa (que não é sobre nenhum dos outros que você sugeriu).

Sobre os Mods de Fallout 3, devo publicar algo ainda esta semana, fique tranquilo!

Francisco Feitoza disse...

Caro Aquino,vc poderia comentar sobre a série adventure The longest journey, que possui dois jogos até agora lançados( Longest journey e dreamfall). Na minha opinião os melhores adventures para pc já lançados. O problema é que o terceiro capítulo da série não tem previsão para sair:(

Retina Desgastada

Blog criado e mantido por C. Aquino

Wall of Insanity