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21 de setembro de 2011

Mundos Perdidos: Earth & Beyond

Box Em 22 de setembro de 2004, mundos inteiros, estrelas, luas, asteróides, estações espaciais e perto de 25 mil pessoas silenciaram abruptamente. Há exatos sete anos, a EA Games colocava o último prego no caixão da Westwood Studios e desligava os servidores do MMORPG Earth & Beyond.

Meu primeiro e único contato com o jogo foi através de um então colega de trabalho que me mostrou as primeiras imagens em estado de êxtase. Que tamanha qualidade gráfica fosse possível naquele distante ano de 2001 era, para ele, um ápice tecnológico. A possibilidade de explorar a vastidão do universo em conexão com milhares de outros jogadores simultâneos, conduzindo elegantes espaçonaves eram uma isca irresistível. Não por acaso, anos mais tarde, agora transformado em meu chefe, ele terminaria viciado em EVE. No final das contas, nem ele e nem eu nos aventuramos por Earth & Beyond. As velocidades de internet daquela época no Brasil e o custo da mensalidade eram barreiras muito fortes.

Earth & Beyond Screenshot 01 Earth & Beyond Screenshot 02

No futuro de Earth & Beyond, a Humanidade se dividiu em três raças diferentes: os Terran, os humanos originais, corporativistas e gananciosos; os Progen, geneticamente mais avançados; e os Jenquai, filósofos dedicados à busca da vida eterna. Como, no fundo são todos humanos, o resultado foi uma sucessão de guerras que no tempo do jogo faziam parte do passado. Após a descoberta de uma tecnologia extraterrestre e antiga que permitia a abertura de passagens para o cosmos, as três raças estavam prontas para ir além dos limites do nosso sistema solar. Apesar da paz, persiste um clima de tensão entre as raças e as facções que a compõem.

Antecipando o conceito de EVE, o jogador controlava naves que singram o vazio do espaço, em busca de missões. Inicialmente muitas missões eram geradas randomicamente pelo sistema, mas elas não eram tão populares quanto aquelas criadas originalmente pelos desenvolvedores. Ao contrário da norma dos RPGs, a evolução dos jogadores estava atada à conquista simultânea de pontos por atividades de combate, exploração e comércio. O jogador que se empenhasse apenas em lutar ou apenas em trocar itens, não evoluiria na mesma velocidade daqueles que equilibrassem as três ações. A prática funcionava como um incentivo a conhecer todos os aspectos da jogabilidade.

E, em mais um aspecto, Earth & Beyond foi pioneiro: o jogador podia sair de sua nave e transitar em forma de avatar por estações espaciais e outros pontos de encontro, interagindo "face a face" com outros jogadores. EVE Online, por sua vez, apesar de prometer tal funcionalidade desde 2006, só começou a implementá-la no mês passado.

Caindo no Buraco Negro

A história do nascimento e queda daquele universo está firmemente atada ao destino da Westwood Studios. A desenvolvedora foi líder no ramo de estratégia para computadores nos anos 90 e trouxe ao mundo preciosidades como a franquia Dune e, mais importante, Command & Conquer. A empresa também flertou com sucesso com o RPG (Eye of Beholder, Lands of Lore) e até com o adventure (com uma elogiada adaptação do filme Blade Runner). Em 1998, era uma máquina de criar sucessos e controlava 5% de TODO o mercado de PCs. Neste mesmo ano, Earth & Beyond tinha começado a ser esboçado. Neste mesmo ano, a Westwood foi comprada pela Electronic Arts (EA).

Westwood Studios Com a aquisição pelo famigerado gigante, muitos funcionários saíram da Westwood. Outros foram convidados a sair. Sob a tutela da EA, a galinha dos ovos de ouro foi violentamente espremida e jogos passaram a ser lançados a toque de caixa, com pouco polimento e bugs ou eram pura e simplesmente cancelados. Neste clima tenso, Earth & Beyond teve seu desenvolvimento arrastado por anos, até o lançamento efetivo em setembro de 2002. Seis meses depois, a Westwood foi desmantelada pela EA e os funcionários que permaneceram foram assimilados em outros estúdios. Seis meses após o seu lançamento, Earth & Beyond estava sem o time original de criação. Difícil imaginar que ,nos momentos finais que antecederam o lançamento, os funcionários não desconfiassem que nuvens negras estavam em formação. Ainda assim, o MMORPG ainda teria fôlego para mais um ano até ter seu cancelamento anunciado.

Em março de 2004, veio o aviso de que os servidores parariam de funcionar em seis meses. Um representante da EA, que preferiu permanecer anônimo, declarou ao Gamespot que "superestimamos o tamanho da audiência para mundos de estado persistente. Jogos baseados em fantasia medieval tem se saído muito bem; outros gêneros não". Ironicamente, um ano antes do anúncio fatídico para Earth & Beyond, EVE Online foi lançado com a mesma temática. Seis anos depois, em 2009, sua desenvolvedora declarou ter mais de 300 mil contas ativas. Em janeiro de 2011, EVE atingiu o recorde de 63,170 usuários conectados ao mesmo tempo em um único servidor, mais de três vezes a quantidade total de usuários de Earth & Beyond em toda sua breve carreira. Outra ironia? Poucos meses depois do desligamento de Earth & Beyond, outra empresa forte no desenvolvimento de jogos de estratégia também lançaria seu próprio MMORPG. Seu nome? Blizzard.

Sete anos se passaram e as turbinas de Earth & Beyond não esfriaram completamente. Uma forte comunidade de fãs se mantém ativa, marcando presença em Earth and Beyond (uma réplica do site oficial), ENBX: Earth & Beyond Lives! e também em um emulador e servidor independente e gratuito. Para estes dedicados pilotos e exploradores, o canto do cisne da Westwood permanece se propagando no espaço. Nas palavras de um deles:

"Talvez a Electronic Arts tenha pensado que a comunidade de Earth and Beyond iria perecer, com jogadores encontrando refúgio em outros MMOs. Bem, eles estavam enganados. Nós ainda estamos aqui. Desde o fechamento do jogo, em 22 de Setembro de 2004, a ainda ativa comunidade de Earth and Beyond tem permanecido muito atuante e tentando trazer o jogo de volta, através de sites de fãs como este, ou nos fóruns da Electronic Arts, ou enviando cartas para os executivos da Electronic Arts, ou com abaixo-assinados.  Nós estamos fazendo de tudo para convencer a Electronic Arts a reabrir Earth and Beyond, ou licenciar o jogo para outra empresa que irá tomar conta dele. Se algum executivo da Electronic Arts ler isto, por favor, reabra o jogo. Deixe-nos voar em nossas naves uma vez mais."

Poster

Ouvindo: Slayer - Seasons in the Abyss

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