Retina Desgastada
Idéias, opiniões e murmúrios sobre os jogos eletrônicos
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1 de setembro de 2011

Gemind - Polícia e Ladrão

(Publicado originalmente no Gemind)

Desde que o mundo é mundo, meninos brincam de guerra, brincam de polícia e ladrão, de piratas e exploradores do universo. Com a redução do espaço físico nas grandes cidades e a virtualização das brincadeiras, há quem diga que os bons tempos do estilingue e dos Meninos da Rua Paulo é coisa perdida no passado. Mas meninos são sempre meninos…

Escape-from-New-Jersey Em junho deste ano uma batalha campal tomou conta dos arredores de Nova Jersey. Soldados do Enclave e Wastelanders trocaram tiros em busca de suprimentos pré-guerra, enquanto o locutor do rádio tocava músicas antigas dos anos 50 e narrava os eventos. Inspirados na série de jogos Fallout e no filme Fuga de Nova York, um grupo de adeptos de airsoft aceitou trocar as armas modernas por armas e armaduras improvisadas e pouca munição, na tentativa de viver uma aventura pós-apocalíptica.

O evento não foi o primeiro e não será o último de uma longa série de simulações baseadas no universo de um jogo. Reproduções ao vivo de Fallout aconteceram na Hungria (em 2009), na Grécia (2008) e na Rússia (2009), todas com indescritível paixão pelo material original.

Fallout-Russia

Mas nenhuma devoção supera a dos fãs da franquia ucraniana S.T.A.L.K.E.R.. Sua busca pela fidelidade não se resume aos uniformes assustadoramente perfeitos ou às réplicas (?) exatas de pesadas armas de fogo ou à maquiagem ou aos veículos de combate (!). Alguns grupos são determinados o bastante para passear pela própria Zona de Exclusão de Chernobyl, desafiando o cordão de isolamento e o perigo invisível da radiação ainda presente. Há quem diga que eles subornaram as autoridades para ter acesso, há quem diga que tudo não passa de imaginação fértil e habilidades no Photoshop. Mas pergunte a qualquer um dos participantes onde eles estiveram e você terá a mesma resposta: na Zona.

Stalker 03 Stalker 01 Stalker 02Enquanto isso, o artista plástico alemão Aram Bartholl pretende recriar em tamanho real o mapa de_dust do jogo Counter-Strike. Um dos mais conhecidos mapas multiplayer do mundo pode se tornar realidade se seu pedido de financiamento for aprovado por uma comissão da instituição Rhizome, focada no incentivo aos artistas emergentes. Com outros projetos em seu currículo, como a instalação de setas de neon de Need For Speed Underground em ruas ou a recriação de um machado de World of Warcraft, Bartholl já tem um currículo de trabalhos dedicados ao mundo dos jogos eletrônicos.

de_dust

O Dust do mundo real terá 115 x 110 x 15 metros de área. Diz o artista:

“Visitantes serão convidados a dar um passeio na virtualidade materializada e experimentar o espaço do jogo carregado na realidade física. Em um nível de abstração, todas as partes do mapa serão feitas de concreto (nenhuma cor ou textura) e irá representar um momento petrificado da herança cultural do espaço de jogo”.

Tiro pela Culatra

Nem sempre a “brincadeira” funciona. Se antigamente havia o risco perene de uma pedra ou bola atingir a vidraça errada, hoje em dia os perigos também estão mais sofisticados.

Em abril deste ano um grupo de alunos da Rocklin High School, na Califórnia, resolveu reencenar Call of Duty nos corredores da instituição. Sem armas, sem uniformes, sem sangue, sem nada além de bom humor e efeitos adicionados depois em um vídeo enviado para o YouTube. Foi o que bastou para atrair atenção negativa de quem viu naquilo um ensaio para o próximo Columbine.

Uma mãe preocupada, entrevista por uma rede de notícias local, declarou: “É de mau gosto. É real demais e parecido demais com a tragédia de Columbine”. Sim. O vídeo acima, com seus efeitos especiais de fundo de quintal, nenhuma arma visível e clima de intencional ou acidental  paródia foi considerado “real demais”. O diretor da escola, Mike Garrison, não nega nem confirma se os estudantes foram punidos, mas garantiu que não haverá outro “projeto” como este no colégio.

Em junho, um destacamento das forças especiais dos Emirados Árabes tomou de assalto um terraço próximo a um prédio do governo, na capital Abu Dhabi. Seu alvo eram quatro homens armados, mascarados e usando coletes à prova de balas. Seu alvo eram quatro asiáticos, três deles engenheiros, carregando armas de plástico, imitando seu jogo favorito e filmando a brincadeira. O caso gerou constrangimento e iniciou uma campanha no país contra a importação de jogos violentos e armas de brinquedo.

O Coronel Ibrahim Sultan Al Zaabi, que chefiou a operação contra o “perigoso” quarteto informou que atendeu a um chamado de um vizinho que teria visto a estranha movimentação no terraço e acreditado se tratar de autênticos criminosos. Zaabi classificou o incidente como um “injustificada brincadeira infantil” e desceu a lenha sobre os jogos eletrônicos:

“A sociedade deveria encorajar jogos que promovam as habilidades criativas das crianças e pais deveriam controlar seus filhos.”

Aparentemente, Zaabi não sabe a diferença entre crianças e indivíduos adultos, assim como não sabe distinguir guerrilheiros de hobbyistas. Felizmente, ninguém saiu ferido ou a polêmica seria outra.

Ouvindo: Battery Cage - Mirror Image Enemy

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Outcast - A New Beginning