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30 de maio de 2024

Jogando: Star Wars Jedi: Fallen Order

Star Wars Jedi Fallen Order My Screenshot 14

Há muito tempo, em uma galáxia muito, muito distante... fui fã de coração de Guerra nas Estrelas. Possivelmente foi a primeira franquia a me contaminar em seu patamar, mais do que qualquer outra na cultura pop. Os anos formativos são importantes, é claro, mas a qualidade da trilogia original prevalece mesmo após décadas. Lamentavelmente, a produção cinematográfica recente conseguiu realizar aquilo que julgava impossível: apagar o brilho em meus olhos. A longa sucessão de séries, animações e derivados entregues pelo conglomerado Disney já tinha banalizado aquele universo antes tão mágico, porém, foram os filmes que transformaram o que já estava diluído em algo definitivamente insosso, para não dizer amargo.

Sem nenhuma sombra de exagero, fico feliz em dizer que Star Wars Jedi: Fallen Order devolveu minha fé. Ainda é possível extrair um senso de aventura, encantamento e até mesmo terror de uma franquia que parecia estar em seu ocaso. Há momentos icônicos aqui que arrepiaram aquele menino que brincava de sabre de luz.

A desenvolvedora Respawn não reinventa a roda, não ousa em praticamente nenhum aspecto. Eles simplesmente juntam algumas fórmulas testadas e aprovadas com maestria singular, adicionam personagens envolventes e mergulham na mitologia singular que fez Star Wars ser tão espetacular em seus primórdios.

Fui surpreendido por um prazer tátil que nunca encontrei antes ao controlar um Jedi, inclusive em títulos de qualidade, como Jedi Knight ou Knights of the Old Republic. Em vez de replicar o estilo hack n' slash nervoso de um The Force Unleashed, o estúdio optou por pegar lições dos Soulslike, com combates compassados, estudados, em que a atenção à esquiva, bloqueio e contra-ataque dita o ritmo. De Uncharted e similares, a Respawn aproveitou a movimentação vertical pelo cenário e o esquema de puzzles para serem resolvidos. Há ainda uma forte dose de Metroidvania, em que revisitamos lugares anteriores para explorar novas áreas acessíveis por novos poderes. Definitivamente, Star Wars Jedi: Fallen Order é um conjunto amplo de estilos, mas que se encaixam muito bem e fluem para contar uma história.

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Se há algo que senti muito falta em toda a trilogia recente foi a sensação de visitar mundos alienígenas e deslumbrantes. Nesse sentido, a Respawn entrega cenários de cair o queixo em planetas exóticos. O estúdio usa e abusa do motor gráfico para produzir efeitos de iluminação impressionantes e visões do horizonte que cativam. Viajar e descobrir o que se esconde nessa tal galáxia muito, muito distante, acaba sendo um adicional para a jogabilidade.

Senta Que Lá Vem História...

Infelizmente, a espinha dorsal da narrativa é extremamente frágil. Controlamos Cal Kestis, um aprendiz de Jedi que sobreviveu ao infame expurgo da Ordem 66. Estamos na pista de um MacGuffin genérico que nos leva a uma jornada por diferentes planetas. É uma premissa barata para justificar tantas idas e vindas, porém é um fio condutor que já gerou tanto histórias excelentes, como Caçadores da Arca Perdida, quanto histórias horríveis, como Ascensão Skywalker. Tudo depende da execução, mas aqui trilhamos os passos aparentemente desnecessários deixados por um velho Jedi e terminamos de uma forma que chega a ser quase ridícula. Ao mesmo tempo, somos caçados pelos Inquisidores, assassinos treinados pelo Império para exterminar os últimos remanescentes dos Jedi. É evidente para qualquer pessoa que, em algum momento, os Inquisidores conseguirão o MacGuffin.

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Felizmente, é no subtexto que Star Wars Jedi: Fallen Order se redime da premissa. Em momento algum, ele abdica de seus temas: crianças traumatizadas pelos horrores do Império. Cal Kestis é o principal deles e o momento em que somos confrontados com a reviravolta da Ordem 66 é marcante tanto para o jogador quanto para o personagem. Porém, outras almas perdidas se juntam nesse pesadelo, todas em busca de um sentido para suas vidas. É essa visão mais ampla da história que justifica a conclusão da premissa básica.

Não que o roteiro seja impecável. A Respawn falha miseravelmente ao mudar de forma drástica a personalidade de determinada personagem, mirando nas fantasias de parte do público. Por outro lado, toda a sequência final do jogo é de gelar a alma, um fan service muito bem realizado, ainda que seja sucedido por um epílogo abrupto.

Depois de tantas decepções seguidas com a franquia, sinto-me rejuvenescido com essa nova esperança. Que venha Jedi Survivor.

Ouvindo: The Dollyrots - Wreckage

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