Retina Desgastada
Idéias, opiniões e murmúrios sobre os jogos eletrônicos
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19 de julho de 2023

(não) Jogando: Vampire Survivors

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São poucos os criadores que podem bater a mão no peito e dizer que fundaram um gênero. Muito provavelmente, você já conhece a origem de Vampire Survivors, a pequena pérola independente que tomou a cena dos jogos eletrônicos em 2022, feito por um único desenvolvedor, utilizando assets reaproveitados de Castlevania. A jogabilidade não é inédita (houve pioneiros varridos pelo tempo), mas, de alguma forma, Vampire Survivors acertou a fórmula alquímica ou as estrelas se alinharam para que o jogo conquistasse até mesmo alguns prêmios de Jogo do Ano. Uma geração de clones já surgiu nas lojas mobile e no Steam.

É fácil entender o que deu certo no jogo e o torna tão viciante, assim como é fácil ser arquiteto de obra pronta. Vampire Survivors combina uma jogabilidade simples de entender que remete aos títulos da era de ouro dos jogos eletrônicos, os anos Atari, com um sistema de recompensas que promete evolução e novidades. O jogo embala essa mistura explosiva com gráficos satisfatórios, uma trilha grudenta e requisitos que fazem com que ele rode até mesmo em uma batata, por um preço irrecusável. Em uma era em que o tempo de atenção dos consumidores se torna uma moeda valiosa, Vampire Survivors traz diversão e doses de serotonina que cabem em dez minutos, como uma boa partida de River Raid ou um role de Enduro.

Evidentemente, tudo que você leu até agora é provavelmente idêntico a tudo que você leu sobre Vampire Survivors nos últimos doze meses. A grande pergunta aqui nesse espaço é: por que eu não desejo continuar?

Em muitos aspectos, Vampire Survivors remete aos bullet-hell, gênero que nunca me atraiu. Miríades de inimigos enchem a tela e é necessário desviar deles. Alias, desviar é tudo que se faz nesse jogo, enquanto vamos montando nossos poderes automáticos com aquilo que a sorte nos oferece. A falta de agência me incomoda. Sou pouco mais que a mão que puxa a alavanca de uma máquina de caça-níqueis, aguardando cair a combinação certa que irá me permitir continuar puxando a alavanca mais um pouco. E antes fosse uma alavanca literal, porque a única "jogabilidade" que Vampire Survivors me oferece é o frenesi hipnótico do bullet-hell. Percebi que é possível "jogar" Vampire Survivors conversando, ouvindo música e, imagino, até mesmo podcast. Ele exige muito pouco, acionando somente uma parte básica de meu raciocínio e oferece uma avalanche sensorial. Las Vegas ri.

Pressuponho que existam estratégias e abordagens diferenciadas que podem ser atingidas, mesmo com a aleatoriedade das armas e poderes que são oferecidos. Entretanto, o caminho até esse estado me parece longo e cansativo. Não consigo acreditar que já dediquei quatro horas a esse jogo. Meu ponto de ebulição foi a infame "parede de zumbis" dos onze minutos. Acreditei que, superado esse obstáculo aparentemente intransponível, o jogo teria algum tipo de mudança significativa. Ledo engano, ele apenas apresenta novos desafios "intransponíveis" que irão exigir paciência, grinding e mais agilidade.

E não são todos os jogos assim? Uma samsara interminável em busca de resultados melhores contra desafios progressivamente maiores? Sim. Entretanto, para mim, Vampire Survivors escancara demais suas engrenagens, é um prato cru, é o corote incolor para o alcoólico que se acostumou com vodka russa. Estamos todos no mesmo vício, mas eu prefiro passar esse copo.

Ouvindo: Kyle Richards - Desert

Um comentário:

RenatoCF disse...

mds XDDDD
que palavras macho

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