Retina Desgastada
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12 de novembro de 2022

Jogando: Animalistic

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(publicado originalmente no Gamerview)

Animalistic se insere em uma tradição. A revolta dos animais tem sido utilizada como metáfora para os problemas humanos de longa data. George Orwell escreveu um clássico a respeito em 1945, usando e abusando de alegorias, em uma obra seminal (que já foi adaptada como jogo eletrônico). Mais recentemente, vimos os macacos se levantarem contra seus opressores nos cinemas, no excelente renascimento da franquia “Planeta dos Macacos” (que também já foi adaptada como jogo eletrônico).

Entretanto, Animalistic não tem nada a ver com essas produções. A criação do desenvolvedor solitário Keaton Applebaum é chumbo grosso do começo ao fim, sem firulas ou sutilezas. A tradição em que o FPS se insere é outra: a dos emergentes FPS sujos, agressivos, praticamente punks.

Há mais em comum com High Hell e os trabalhos de Terri Vellmann aqui do que com a ficção-científica intelectualizada. Seu objetivo é única exclusivamente arregaçar animais antropomórficos por diversos cenários e não se preocupar com suas reinvindicações ou mesmo motivações.

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O fiapo de enredo que vaza de elementos dos cenários é que os animais, de alguma forma, se cansaram dos maus-tratos, passaram a andar em duas patas, pegaram em armas e estão caçando nós, os “pinks” (“rosados”). Sem cutscenes ou diálogos de qualquer tipo para alimentar seu cérebro, o jogador tem a sua disposição somente armamento pesado e dedo nervoso.

Olha o Bicho Vindo!

É importante não confundir Animalistic com os FPS que reutilizam assets da Unreal Engine que surgem aos montes no Steam. Há escolhas calculadas aqui, há decisões estéticas sendo tomadas e essas decisões enfatizam o aspecto sujo dos cenários e o visual cartunesco dos inimigos. A combinação desses dois elementos gera um forte contraste que pende para o bizarro.

Applebaum poderia ter optado por um design mais realista, como já foi mostrado em Vivisector, que adaptava outro clássico, A Ilha do Doutor Moreau. Entretanto, o que temos nesses corredores são criaturas quase cômicas. Se você já se imaginou dando um tiro de doze no Burro do Shrek, no leão Alex, de Madagascar, ou no Pumbaa, de Rei Leão, você é uma pessoa estranha, mas Animalistic foi feito pra você.

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Outro dos inimigos é um sapo antropomórfico kamikaze, que carrega explosivos, e ele é completamente desproporcional ao tamanho real de qualquer sapo desse planeta. O grotesco impera nessa jornada.

A trilha sonora remete a Doseone, parceiro inseparável de Terri Vellmann, um batidão alucinógeno que marca a pressão. Nesse ponto, são evidentes as influências de Hotline Miami (que ironicamente também fazia metáforas com nosso lado animalesco) e do recente Anger Foot (que também utiliza animais antropomorfizados).

Animalistic é Tosco, Mas é Bom

Claramente, temos uma cena se formando, que remete a neon, música eletrônica e hiperviolência. Nesse aspecto, Animalistic cava seu lugar como o jogo com o menor valor de produção da turma, mas não com menos charme, o que apenas serve para deixá-lo ainda mais punk do que os títulos nos quais ele se inspira. Segue a linha de quanto pior, melhor.

É claro que todo esse amadorismo se refletiria em seus aspectos técnicos. Animalistic é tremendamente mal otimizado, consumindo 100% de processamento de GPU para entregar gráficos que podem provocar risos. Para contrabalançar esse aspecto, os grafites e as luzes dos cenários demonstram uma direção de arte que se encaixa na proposta enquanto sua placa ameaça pegar fogo.

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Infelizmente, o maior defeito do jogo é a falta de fluidez dos comandos. Apesar de exigir um gatilho ágil para sobreviver a seus níveis, a experiência não é tão precisa quanto os já citados High Hell e Anger Foot.

Uma vez que está em Acesso Antecipado, a expectativa é que o título receba mais polimento. Está prometido também um modo de horda infinita para o futuro. Animalistic não é um jogo para todos os públicos, mas é um belo exemplo do que pode ser produzido nos porões da indústria e que a PETA tenha piedade de nós.

Ouvindo: The Clash - Justice Tonight-Kick it Over

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