Retina Desgastada
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29 de setembro de 2022

Jogando: Tinykin

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(publicado originalmente no Gamerview)

A Nintendo é um gênio comercial. A empresa japonesa é dona de marcas amadas e franquias criativas, mas seus jogos são e sempre serão exclusivos de seus consoles. Em 2001, a lenda Shigeru Miyamoto criou Pikmin, mais um sucesso para o catálogo da empresa, mais uma série com mecânicas sensacionais que jogadores de outras plataformas nunca iriam conhecer. Ou será que não?

Assim como diversos outros títulos da Nintendo, os clones existem para democratizar o acesso, repetir fórmulas consagradas e, em alguns raros casos, ir além da própria gigante japonesa. Dito isso, Tinykin é o melhor clone de Pikmin disponível em outras plataformas (ironicamente, também acessível pelo Switch). A francesa Splashteam esbanja carisma em uma aventura deliciosa de exploração, que se inspira também em It Takes Two, dispara piadas para todos os lados e diverte até seus últimos minutos.

Querida, Encolhi a Criança

A premissa de Tinykin é tão absurda que é rapidamente mencionada no início e esquecida logo em seguida, para ser recuperada somente na conclusão (e você vai preferir que não tivesse). De qualquer forma, somos o astronauta Milodane, um garoto de um planeta distante habitado por humanos que sonha em encontrar o berço de sua civilização: a Terra. Ao finalmente encontrar o planeta natal da raça humana, ele é miniaturizado e precisa lidar com as necessidades de uma simpática sociedade constituída por insetos. Eu avisei que era absurda.

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Sai o aspecto fantástico, para não dizer sobrenatural, de It Takes Two, entra em cena uma ficção científica completamente descompromissada, que, felizmente, não fica no caminho da diversão. Tudo isso é a desculpa marota para Milodane explorar todos os cantinhos de uma casa colossal, com direito a estruturas criadas com itens do cotidiano. Cada cômodo é uma surpresa maravilhosa e os desenvolvedores utilizam muito bem o conceito, com cenários que colocam um sorriso no seu rosto.

Para auxiliar Milodane, existem as criaturas que dão nome ao jogo. Cada tipo de Tinykin tem uma função, uma habilidade específica que será fundamental para resolver alguns puzzles ou ajudar na locomoção de nosso herói. E cada um deles recebe uma cutscene que é pura alegria. Para ficar em apenas um exemplo, os vermelhos são monstrinhos explosivos que sentem uma imensa felicidade em se detonar e destruir objetos que estão no seu caminho.

Tinykin Vai Ativar Seu TOC

Em cada cômodo da casa existem diversas missões que precisam ser solucionadas e missões que são opcionais para você compreender melhor a história do dono dessa casa. A partir daí, Milodane vai esmiuçar cada canto de mapas que são literalmente gigantescos, complexos. Em alguns momentos, pode ser cansativo, principalmente no começo. Você acredita que não vai dar conta de explorar tudo aquilo, respira fundo e, quando se dá conta, cometeu a insanidade de pegar todos os colecionáveis do mapa.

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Nesse aspecto, Tinykin se inspira também nos collect-a-thon, jogos que incentivam o jogador a pegar todos os objetos possíveis, alguns deles posicionados em locais de difícil acesso, como A Hat in Time ou TASOMACHI: Behind the Twilight. O título da Splashteam não traz as mecânicas complexas do primeiro e tampouco o enredo frágil demais do segundo, mas consegue ser bem mais fácil que os dois. Assim, temos aqui um collect-a-thon quase casual e eu, que dificilmente me arrisco nesses desafios, consegui zerar um cômodo e chegar muito perto de zerar outro, sem muito esforço.

Além de objetos, de certa forma, Tinykin também convida o jogador a coletar… piadas. A maioria dos personagens que você irá encontrar em sua jornada tem algo divertido para dizer, um pedaço de sua vida, um arco completo de desenvolvimento em alguns casos ou pura e simplesmente uma referência a algum elemento da cultura pop.

Portanto, é possível esbarrar em easter eggs de Cthulhu, Men in Black, Titanic e até a conhecida rivalidade Senna versus Prost (embora eu tenha dúvidas se isso é uma sacada da tradução). De início, é possível se afogar na quantidade de NPCs, mas depois de um tempo você percebe que alguns se repetem, migrando de “região” e apresentando novos diálogos.

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Por conta de tudo isso, gastei cerca de doze horas para completar uma aventura que outros julgarão curta. Porém, não me abstive de abrir nenhuma opção de diálogo ou revirar cada centímetro dos vastos mapas, em múltiplos caminhos que se abrem. Quem se fixar na missão principal irá perder metade do charme e do desafio que o jogo coloca na mesa.

Simpatia é Quase Amor, Só Não Pode Forçar a Amizade

O que impede que Tinykin seja considerado exaustivo em suas explorações é certamente a fofura de seu universo. A Splashteam pega mais uma inspiração da Nintendo, desta vez de Paper Mario, e nos traz personagens 2D desenhados à mão, como que recortados em papelão, e os lança em cenários 3D. Em um exercício de metalinguagem, isso chega a ser mencionado por um dos NPCs, em um momento de consciência. Não há uma espécie que não transborde personalidade, desde os besouros rola-bosta humildões até as mariposas chapadas que habitam o banheiro.

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Além do aspecto visual, o jogo também encanta com uma trilha sonora perfeita para cada momento ou cenário. Certas faixas podem grudar no ouvido, te acompanhando por toda a fase sem enjoar.

Perceba que, nessa análise, os Tinykin, as criaturas que deveriam ser o centro do jogo, são o que pouco importa. De fato, eles estão lá, mas não roubam a cena. Elas se incorporam tão bem à jogabilidade, de forma tão fluida e intuitiva, em puzzles tão suaves de se solucionar, que o jogador tem tempo livre para se deleitar com a arquitetura dos mapas ou os diálogos dos personagens. É um ponto bastante positivo que a Splashteam tenha conseguida injetar mecânicas divertidas, sem que o jogo em si gire totalmente em torno dessas mecânicas.

O grande defeito de Tinykin acontece quando a Splashteam se lembra que precisa resolver sua premissa. Afinal, que casa é essa? Quem é Ardwin, o mítico humano que habitava esse lugar? Por que Milodane foi encolhido? Como surgiu essa sociedade de insetos?

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Na conclusão, a desenvolvedora ameaça um tom fortemente emocional. Senti por alguns minutos que o impacto viria, depois de horas de puro deleite. Porém, Tinykin sai pela tangente, minimiza o drama e nos apresenta um desfecho que consegue ser mais absurdo do que seu início. Era melhor ter deixado correr frouxo, sem enredo mesmo ou sem reviravoltas.

Por outro lado, há uma nítida brecha para uma continuação. Pode ser em forma de uma sequência completa ou uma expansão, mas não importa. Por tudo que me divertiu, estarei de volta nessa próxima jornada.

Ouvindo: ThouShaltNot - New Year

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