Os desenvolvedores de Port of Call sabiam que tinham em mãos um título anti-comercial por definição: curto, com pouca jogabilidade, com gráficos sui generis, e um tema que não costuma atrair audiência. Sabiamente, escolheram distribuir o jogo gratuitamente no Steam. Porque o inverso de comercial é Arte em estado puro e conciliar as duas esferas não é tarefa das mais fáceis.
A atmosfera de Port of Call é onírica. Mas não a de um sonho bom que você gostaria de lembrar no dia seguinte, mas de algo opressor, um terror noturno que se deita sobre o seu peito com perguntas sombrias e respostas ainda piores. Enquanto você tenta reconstruir suas memórias e porque está nesse estranho barco com passageiros mascarados, vai revelando uma história de dor profunda. Não é um jogo bonito para a alma, ainda que o final possa trazer algum alento.
Embora eu tenha colocado o marcador de Adventure, o título se assemelha mais aos infames "walking simulators", uma vez que não há enigmas para resolver e não tenho certeza se suas respostas nos diálogos levam a resultados diferentes. A louvável exceção está na cena do bar. Olhando em retrospecto, você entende porque você tinha que fazer o que fez, se tornando o agente da situação. É uma boa sacada em um jogo sucinto que se completa em meia hora.
Port of Call é um jogo para ser enfrentado em um dia cinza. Um conto gótico que se levanta das brumas do século XIX, azeda o leite e retorna para o oblívio.
Um comentário:
Excelente texto. Eu joguei ele ontem. Eu gostei dessa forma de abranger um jogo. Gosto de jogos em que você pode explorá-lo abertamente, sem se sentir obrigado a completar as missões rapidamente. Você deve ter visto que há 7 conquistas, todas são pura observações.
Realmente é um jogo triste. Creio que ele mexeu comigo por causa da trilha sonora. Sucesso para o seu blog!
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