Retina Desgastada
Idéias, opiniões e murmúrios sobre os jogos eletrônicos
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20 de dezembro de 2010

Jogando: Risen

Após uma longa espera pela redução do preço e uma rápida experiência curiosa com a versão demo, finalmente estou jogando Gothic 4 Risen. E a Piranha Bytes ataca novamente. Eu gostaria do fundo de minha alma de poder dizer que os gênios alemães produziram mais uma de suas obras-primas, mas começo a perceber tardiamente que a desenvolvedora é um mágico de um truque só, um cozinheiro com uma única receita. Não há nada em Risen que já não tenha sido feito exaustivamente em Gothic, Gothic II e Gothic 3. Nada.

Está tudo ali: o combate astuto que exige muita atenção do jogador está de volta, depois do festival de cliques nervosos de Gothic 3. Você, mais uma vez, começa o jogo fugindo do mais reles animal selvagem e apanhando vergonhosamente de qualquer um que tenha uma arma. Você passará horas comendo o pão que o Diabo amassou e analisando com cuidado cada passo dado e cada inimigo desafiado. A primeira noite em claro no meio do pântano em Risen é idêntica à primeira noite na floresta na longínqua prisão da ilha Khorinis; você terá medo da sua sombra e a trilha sonora fará você ver ameaças onde só existem plantas (ou não?). E, repentinamente você acumula pontos e dinheiros suficientes para melhorar suas habilidades e comprar um equipamento que preste. Daí para frente, você será um ousado guerreiro que irá destroçar toda a vida selvagem ao seu alcance e esquecerá o significado da palavra "medo".

Risen - My Screenshot 04Você terá que "matar X criaturas que estão atacando meu gado e vivem em uma caverna aqui do lado"; você terá que "juntar X ervas para fazer uma poção"; você terá que "encontrar X partes de um artefato"; e, principalmente, um clássico da Piranha Bytes, você terá que "conquistar a confiança de X pessoas para ver o Grande Chefão". A seu favor, os NPCs continuam carismáticos (alguns hilários) e o personagem principal continua com um dom para o sarcasmo que sempre vale a viagem. E cada missão se interliga com outras e o grande panorama político de Risen é intrincado o suficiente para você fazer vista grossa para as tarefas pouco inspiradas aqui e ali.

Risen - My Screenshot 07Se na série Gothic foi criada uma fauna especial de criaturas que fugiam dos eternos clichês do RPG, aqui em Risen temos uma nova coleção de modelos. E, quando eu digo modelos, eu quero dizer que os desenvolvedores criaram apenas novas figuras em 3D que repetem o padrão de ataque e comportamento de velhos monstros de Gothic... Temos grandes roedores agressivos, temos aves gigantes, temos humanóides semi-civilizados, temos insetos voadores (e terrestres) imensos que lembram muito suas contrapartes já vistas. E ainda temos os lobos, os javalis e os esqueletos que, por serem de domínio público, aqui parecem sem disfarces.

Comparado com o primeiro Gothic e seu universo cínico e brutal, Risen repete a mesma atmosfera sem acrescentar nenhum elemento e sem o horror do exército Orc logo ali do lado. Comparado com o segundo Gothic e seu apelo épico (dragões!), ainda não vi nada similar por aqui; a "grande ameaça" velada de Risen é tão velada que ninguém sequer comenta. E, se o terceiro Gothic podia ser resumido a batalhas homéricas contra hordas de inimigos e a falta de cuidado com os cenários, aqui temos felizmente o exato oposto, com batalhas mais contidas e reais e locações bem detalhadas. Em outras palavras, o novo RPG da Piranha Bytes não é tão impessoal e frouxo quanto Gothic 3, mas está longe de ser o melhor título da equipe.

Risen - My Screenshot 05Para minha surpresa, um dos históricos problemas da desenvolvedora foi extinto. Não há bugs! Você não leu errado: a Piranha Bytes criou um RPG de mundo aberto sem problemas técnicos. Após a lendária catástrofe de Gothic 3 em seu dia de lançamento, parece que desta vez eles aprenderam.

O grande porém de Risen é que, se a sua desenvolvedora se assemelha a um cozinheiro de receita única, sua receita é excelente. Ainda que o novo RPG não seja tão "novo" assim, eu não consigo largá-lo, já completando mais de quinze horas de jogo. Entre explorações audaciosas, intrigas políticas e duelos sangrentos, vou construindo minha história nesta estranha ilha, satisfeito com a refeição e esperando, talvez, que o gourmet tenha uma sobremesa escondida.

Risen - My Screenshot 01

Ouvindo: The Cure - Lament

2 comentários:

JNeto [The Joker] disse...

Excelente análise!

Nulagem disse...

"satisfeito com a refeição e esperando, talvez, que o gourmet tenha uma sobremesa escondida", genial, eajaehuaehh.

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