Retina Desgastada
Idéias, opiniões e murmúrios sobre os jogos eletrônicos
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25 de abril de 2020

(não) Jogando: Fugue in Void

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É impossível jogar Fugue in Void e não comparar boa parte do jogo com a viagem fantástica estabelecida anteriormente em NaissanceE. A impressão que se tem é que esse aqui é um rascunho inacabado do outro, realizado pelo mesmo autor, mas não é essa a verdade. Fugue in Void veio depois e perde em diversos aspectos.

Os dois títulos são similares ao nos trazerem espaços liminares, com arquitetura predominantemente brutalista e uma direção de arte quase idêntica. Entretanto, onde NaissanceE era um jogo completo, com contexto, progresso, desafios e até mesmo um inimigo final, em uma experiência que durava algumas horas, Fugue in Void está mais próximo do delírio criativo de Awkward Dimensions Redux, uma série de paisagens ou cenas indescritíveis sem nenhuma conexão, fio narrativo e que, felizmente, se encerra em pouco mais de meia hora. Ironicamente, NaissanceE é gratuito, enquanto Fugue in Void é pago.

O trabalho de Moshe Link poderia ser considerado um plágio ou uma homenagem não assumida do outro jogo se não fosse pela longa obsessão do ator por esse tipo de criação. Quis o Universo que dois desenvolvedores de jogos tivessem olhares parecidos em cantos opostos do mundo.

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Fugue in Void é cercado de pretensões artísticas e não se esforça nem um pouco em sua jogabilidade. A longa introdução é uma prova de que a visão do artista é mais importante que a vontade do jogador. Somos apresentados a uma sequência lisérgica, não interativa, que se estende por perto de dez minutos e que não pode ser pulada. Ela é importante para o que virá depois? Certamente, em algum aspecto simbólico cuja compreensão me escapa. Contemplei o "protetor de tela" se estendendo ad infinitum e confesso que minha resposta biológica foi sonolência. Talvez fosse o tardio da hora, talvez não.

Completada essa etapa do jogo, ganhamos agência e podemos perambular por enigmáticos cenários. Em NaissanceE ou mesmo em Awkward Dimensions, era necessário decifrar seus ambientes para prosseguir para o próximo na maioria das vezes. No jogo de Moshe Link isso não acontece: um temporizador invisível nos move magicamente para o próximo lugar quase sempre, o que pode gerar frustração em quem, como eu, tira prazer da exploração de cantinhos e da contemplação de paisagens.

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Certos ambientes de Fugue in Void desafiam a compreensão mais do que seria suportável, apresentando grafismos que não obedecem a qualquer senso espacial, como fractais de pesadelo. Não há o que fazer nesses casos, além de aguardar o tempo passar.

Quando Fugue in Void termina, há muitas perguntas no ar. Uma delas certamente é: "por quê?".

Ouvindo: Nigoro - Endless Challenger

3 comentários:

Marcos A.T. Silva disse...

Sabe que ambos já estão em minha lista, tudo devido a você? rsrsrs

O Fugue in Void, aliás, já está até instalado. Mas essa parte em especial do seu texto me deixou com um pé atrás em relação ao título, também:

"um temporizador invisível nos move magicamente para o próximo lugar quase sempre, o que pode gerar frustração em quem, como eu, tira prazer da exploração de cantinhos e da contemplação de paisagens."

C. Aquino disse...

Fugue in Void só vale se for comprado bem, bem barato e jogar sabendo que é uma experiência curta, com pouca agência. NaissanceE é muito melhor!

Marcos A.T. Silva disse...

Então, não me lembro bem, mas acho que peguei ele em uma "promo" no itch.io. De graça, mesmo.

Estou enrolando há dias pra começar. O backlog também não ajuda. :(

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