Retina Desgastada
Idéias, opiniões e murmúrios sobre os jogos eletrônicos
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11 de setembro de 2019

Marvel Desmontada

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O Universo Cinematográfico da Marvel, ame-o ou odeio-o, revolucionou a forma de se fazer cinema e ergueu um fenômeno cultural jamais visto em Hollywood: um universo compartilhado de filmes e histórias que é sucesso garantido de público, movimentando bilhões de dólares anualmente. Essa é uma saga que começou há exatos dez anos, quando a gigante do entretenimento Disney comprou a Marvel Comics e todas as suas marcas por singelos 4 bilhões de dólares, um valor que certamente já retornou diversas vezes aos cofres da empresa.

Entretanto, apesar de seu sucesso inconteste nas telonas e sua recém-anunciada investida maciça nas séries de TV, porque a Marvel não construiu um nome para si nos jogos eletrônicos? Até o espetacular Spider-Man da Insomniac e a incógnita de Marvel's Avengers, da Square-Enix, jogos de super-heróis da Marvel foram por um longo tempo associados a caça-níqueis de pouco impacto, ocasionalmente associados a filmes. Mesmo o UCM teve somente um par de jogos lançados simultaneamente, nenhum deles perto de memorável.

Segundo um artigo publicado no Gamesindustry.biz, a culpa é da Disney e é impossível não concordar. A mesma corporação que enxergou nos personagens Marvel o potencial de explodir as bilheterias, falhou miseravelmente em erguer um império de jogos e fugiu do setor com a mesma fúria que invadiu os cinemas. Em seu rastro, ficaram somente as ruínas de desenvolvedoras que poderiam ter sido, mas não foram.

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É irônico que os papéis poderiam ter sido invertidos: em 2009, a Marvel detinha os direitos de adaptação cinematográfica apenas de seus personagens "menos importantes". Homem-Aranha, Quarteto Fantástico, X-Men e Hulk pertenciam a outros estúdios. Em contrapartida, a editora mantinha em mãos a maior parte de seus heróis em termos de jogos eletrônicos e mesmo aqueles que estavam contratualmente com outras desenvolvedoras tinham prazo de validade para ter seus direitos revertidos. A Disney poderia ter colocado as mãos em jogos impressionantes enquanto explorava o catálogo secundário nos cinemas, mas preferiu abrir mão dos jogos por completo

Em 2009, não era esse o cenário que aparecia no horizonte. Em 2005, a Disney tinha comprado a Avalanche Software e criado a Propaganda Games. O estúdio Climax Racing entrou para a família em 2006, a Junction Point foi formalmente comprada em 2007, a Wideload Games foi adquirida em 2009. Era claro para todos que a Disney estava construindo uma "Manopla do Infinito" de desenvolvedoras. Tão logo a empresa comprou a Marvel, Bob Iger, CEO da Disney, pontou textualmente que jogos da Marvel passariam a ser desenvolvidos internamente e que seriam encerrados os acordos com terceiros, como a Activision ou a Sega. Era o anúncio de uma nova era que nunca viria.

Crepúsculo dos Estúdios

captain-america-super-soldierO primeiro obstáculo: os contratos em vigor seguraram o ímpeto da Disney. A Sega estava autorizada a lançar jogos baseados no UCM até 2011 e assim o fez, encerrando sua tépida parceria com Captain America: Super Soldier. A Activision tinha advogados melhores e havia conseguido arrancar da Marvel os direitos exclusivos de jogos baseados em Homem-Aranha e X-Men até 2017. A Actvision encerraria espontaneamente o desenvolvimento com The Amazing Spider-Man 2, baseado no filme da Sony.

Entretanto, o que realmente freou o avanço da Disney nos jogos eletrônicos com títulos Marvel foi a própria Disney. Embora marcas fortes como Vingadores, Homem de Ferro ou mesmo Quarteto Fantástico estivessem ao alcance de seus estúdios, a Disney abdicou por completo da indústria e promoveu um expurgo como poucas vezes se viu no setor.

Um ano depois de parecer que iria dominar o mercado, veio o começo do fim: em outubro de 2010, a Disney cancelou o desenvolvimento de um jogo baseado em sua multimilionária franquia Piratas do Caribe e demitiu nada menos que 100 profissionais na Propaganda Games. Os desenvolvedores restantes foram alocados para concluir Tron: Evolution da forma que fosse possível e três meses depois também foram parar no olho da rua, com o fechamento do estúdio.

Uma semana depois, a foice cantou em todas as desenvolvedoras sob a tutela da Disney. Metade da Junction Point foi mandada embora. A desenvolvedora ainda lançaria Epic Mickey 2 em 2012, mas seria o seu canto do cisne. Climax Racing, renomeada para Black Rock, também sofreria baixas agressivas ao longo do ano, junto com a Avalanche.

Os sinais dos novos rumos se tornaram bastante claros em 2012, quando a Disney adquiriu a marca Star Wars, o estúdio LucasFilms e a desenvolvedora de jogos LucasArts. Apesar de seu histórico elogiados de títulos ambientados na saga espacial, a LucasArts não teve um único momento de esperança na transação. Menos de um ano depois de concluída a compra, a Disney confirmava que os direitos de produção de jogos baseados em Star Wars seriam entregues nas mãos da Electronic Arts. Ironicamente, em seis anos de parceria, apenas dois títulos foram produzidos até agora: dois jogos multiplayer que falharam em cativar o público da franquia.

A queda da fábrica de jogos da Disney apenas se acelerou nos anos seguintes: em 2014, 700 funcionários da divisão Disney Interactive foram mandados embora; em 2016, seria a vez da Avalanche ser fechada, sendo salva no último minuto pela Warner Bros, que comprou o estúdio.

Nos dez anos que o Universo Cinematográfico Marvel atingiu seu ápice de popularidade, o desmonte dos estúdios de jogos da Disney estava completo. Nem um único jogo Marvel AAA foi produzido nesse período, com algumas aventuras pay to win sendo despejadas sem dó nem pena no mercado móvel, troco de pinga para um gigante do tamanho da Disney.

Nem de Graça

Marvel Strike Force

Os tempos mudaram e a gigante do rato hoje quer distância do mundo dos jogos, até mesmo daqueles de plataformas móveis. De acordo com rumores de bastidores levantados pelo Bloomberg, a empresa está avaliando a venda da FoxNext, a relativamente bem-sucedida divisão da Fox responsável por Marvel Strike Force. A FoxNext veio junto com a compra da Fox como um todo, mas seria um dos bônus nos quais a Disney não teria qualquer interesse. Ainda que Marvel Strike Force tenha faturado cerca de 150 milhões de dólares no seu primeiro ano e estivesse a pleno vapor para criar jogos baseados em Alien e Avatar, esta é uma cifra que não abre os olhos de Bob Iger, esses são planos que ele não busca mais.

O mesmo CEO da Disney que em 2009 prometia mundos e fundos para os personagens da Marvel nos jogos eletrônicos com seu próprio time de desenvolvedores, teria declarado para seus executivos que não deseja mais estar no mercado de jogos.

Aos fãs e jogadores, resta torcer que a empresa escolha com cuidado seus parceiros e não repita os erros do passado. Depois do vigoroso retorno do Homem-Aranha ao mundo dos jogos, as esperanças se voltam agora para um produto que busca se afastar da imagem dos Vingadores no cinema, mas que ainda não disse a que veio. O destino de um universo reside agora nas mãos da Square-Enix.

Ouvindo: Ratos de Porão - O Equivocado

2 comentários:

Anônimo disse...

A Disney parece ter algo contra games e tecnologia. Por que? Eu não sei. Talvez porque os executivos são babybomers que não cresceram com essa mídia, talvez porque eles vejam os games como concorrentes, afinal quanto mais pessoas jogarem games menos vão ver os filmes da Disney/Pixar, talvez tenham medo e preconceito ou porque os games vem com estigma negativo de "causar vício e violência" e querem se distanciar, afinal são uma empresa família.

Tem esse artigo interessante que diz que os filmes da Pixar carregam uma mensagem tecnofóbica por mais irônico que isso seja: Os filmes Incríveis têm uma estranha relação com a tecnologia - https://www.theverge.com/2018/7/3/17485088/the-incredibles-2-technology-technophobia-screenslaver-syndrome-villains

Anônimo disse...

Não podia esperar menos dessa empresa. Só olhar como eles retrataram os gamers em Ultimato através do Thor, como um jogador de Fortnite gordo, depressivo e fracassado. Os gamers deveriam boicotar a Disney/Marvel que mostra esteorótipos negativos.

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Blog criado e mantido por C. Aquino

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