Retina Desgastada
Idéias, opiniões e murmúrios sobre os jogos eletrônicos
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29 de setembro de 2018

A Saga dos RPGs Assassinos

Depois que Shadowrun Returns reabriu a velha ferida que nunca cicatriza de minha fascinação pelos RPGs, atravessei um daqueles momentos pelo qual acredito que todo jogador passa: a procura pelo próximo jogo. Foram necessários cinco títulos diferentes para o ferimento fechar novamente e eu meio que abrir mão do gênero mais uma vez.

Mas toda saga tem um começo...

The Temple of Elemental Evil

Minha primeira tentativa aconteceu com The Temple of the Elemental Evil, da finada Troika Games. Em meu currículo, entre muitas manchas, carrego a sina de nunca ter terminado Arcanum, o elogiado primeiro RPG da desenvolvedora. Na verdade, não ter terminado é um eufemismo: eu mal comecei, assustado pela colossal complexidade de seus sistemas e pela ainda mais aterradora coleção de bugs. Disposto a me redimir e também a revisitar o mundo de Dungeons & Dragons com um de seus mais famosos módulos, aceitei o desafio.

Tinha em minha mente que havia experimentado o demo de The Temple of Elemental Evil muitos anos atrás (possivelmente em 2003). Quinze anos foram o suficiente para, entretanto, apagar que eu havia desistido da demo exatamente no mesmo lugar em que desisti do jogo agora: no primeiro pântano, no primeiro confronto com sapos gigantes, na primeira vez em que vi que o combate é uma tormenta de estranho, com menus radiais e absolutamente nenhuma explicação. Mas as memória despertou em um instante e abandonei, pela segunda vez, meu time naquela mesma luta.

Planescape

Minh segunda investida veio com o clássico sagrado Planescape: Torment. De imediato, entendi porque esse RPG é tão reverenciado até hoje: seu cenário, sua atmosfera, seus diálogos e sua intrigante abertura são um sopro de criatividade mais do que bem-vindos em um gênero atormentado pelos mesmos dragões, elfos e orcs de sempre.

De imediato, entendi também que os gráficos datados seriam um problema. Na primeira oportunidade, instalei uma sequência de mods que corrigiram bugs que ainda não tinha visto e adicionaram suporte a widescreen. Infelizmente, se os gráficos ficaram adequados ao meu gosto esnobe distorcido por anos de auto-indulgência e jogos mais modernos, a interface ficou minúscula, um obstáculo intransponível para uma hipermetropia galopante. Retornarei um dia a Planescape: Torment, mas somente quando conseguir comprar a edição Enhanced, que resolve todos esses problemas. É um título que merece muito uma nova chance, mas não agora.

Oblivion

Frustrado, busquei abrigo em The Elders Scrolls: Oblivion, quarto jogo da franquia e sucessor do inesquecível Morrowind. Um erro lastimável. Poucas vezes em minha trajetória em RPGs testemunhei um título com um início tão insosso, tão genérico quanto essas minhas "aventuras" em Cyrodiil. Não que começar uma história em um lugar fechado, como um tutorial, e depois soltar o jogador no verdadeiro mundo aberto não seja um recurso usado com sabedoria por outras desenvolvedoras. Entretanto, uma caverna com goblins, ratos e zumbis é abusar da apatia.

Quando meu personagem finalmente viu a luz do dia, fui brindado com uma paisagem que não tinha um décimo do deslumbre da boa e velha Vvardenfel. A modelagem dos NPCs não ajuda nem um pouco em desfazer essa sensação de que tudo é muito igual em Oblivion. O fato de ladrões me atacarem na estrada a cada cinquenta metros também não contribui. Fui informado que o jogo melhora em algumas missões alternativas e na expansão The Shivering Isles, mas é um longo caminho até lá. Também existe uma miríade de mods que melhoram o jogo visualmente e até adicionam elementos novos que poderiam dar uma temperada na mesmice, mas a trabalheira da instalação desta vez me afugentou.

of-orcs-and-men-01

Não sei qual processo de raciocínio me levou até Of Orcs and Men, mas eu sentia que precisava dar uma chance a esse jogo estranho que comentei lá em 2011. O tempo voa. E talvez tenha sido implacável com o título da Cyanide. Tecnologicamente falando, os personagens parecem feitos de massinha e a chuva cai sobre seus corpos de uma forma uniforme e estranha, como uma animação passando por cima. Ainda assim, esses não são os principais defeitos do jogo.

Of Orcs and Men traz um dos mais estranhos sistemas de combate que vi, um derivado das instruções por turno que você enfileira em Star Wars: Knights of the Old Republic. Entretanto, enquanto você está especificando comandos, o tempo não para de verdade, apenas fica mais lento, o que coloca uma pressão desnecessária em suas decisões. Reduzir a defesa do oponente para o próximo golpe ou aumentar o dano? Reforçar sua defesa ou tentar atordoar? Você tem frações de segundo para especificar isso para dois personagens diferentes; Fazer uma lista de ações também perde todo o sentido quando o inimigo do qual você deveria se defender acabou morto pelo comando anterior e você fica com uma bagunça no final das contas. A história é mais longa do que precisava, visto que você vai mesmo é se aventurar por mal-disfarçados corredores moendo inimigos.

Lichdom

Entediado pelo combate nada dinâmico, busquei o extremo oposto em Lichdom: Battlemage, um título que promete transformar magos em máquinas de matar. Visualmente, é um título impecável, com alguns dos melhores cenários que já vi em muito tempo. Mas arquitetura deslumbrante com motor gráfico de ponta é uma armadilha que eu já tinha visto antes no mediano quase medíocre Deadfall Adventures. Novamente, o mapa é uma sucessão de corredores marotos, um pouco melhor disfarçados, com um ou outro segredo escondido.

Lichdom 01Lichdom 02

Em termos de mecânica de combate, Lichdom: Battlemage cumpre o que promete: é brutal. As magias são praticamente super-poderes devastadores com os quais você aniquila legiões de inimigos. Tudo muito divertido até chegarem os primeiros chefes, quando o RPG de ação adota algo que não faz minha cabeça: a necessidade de combos rápidos. Você é um poderoso(a) feiticeiro(a) desde que fique trocando de magias e aplicando elas na sequência e velocidades certas... o que não é mais divertido.

Movido pelo mais absoluto desespero, despedi-me dos RPGs propriamente ditos (embora os dois últimos sejam muito mais focados em ação) e fui encarar a barra pesada da sobrevivência em Conan Exiles. Com oito horas já acumuladas nessa fantástica Era Hiboriana, posso dizer que minha jornada encontrou seu fim.

Mas isso é uma outra história, para um outro dia...

Conan

Ouvindo: Guns N' Roses - 14 Years

13 comentários:

Marcos A.T. Silva disse...

Aquino, já pensou em tentar Skyrim? :D

Shadow Geisel disse...

"...com menus radiais e absolutamente nenhuma explicação." Neverwinter Nights? Você está aí?

Shadow Geisel disse...

"Poucas vezes em minha trajetória em RPGs testemunhei um título com um início tão insosso."

Agora me sinto na obrigação de dar um puxãozinho de orelha: julgar um jogo de 200 horas pelo seu tutorial é um erro que não devia ser cometido por jogador nenhum. E o Oblivion não fica bom apenas na Shivering Isles: ele tem quests excelentes, um humor muito bom e criatividade nessas mesmas quests. A Dark Brotherhood é um conteúdo que além de bom é enorme, podendo ser classificado como um jogo à parte, dentro de outro jogo (mas acho que isso é comum aos jogos da Bethesda). Se você citasse o design repetitivo de dungeons e o combate horrendo do Oblivion como motivos pra não jogar, aí sim eu ficava calado. Me valendo da liberdade de um fã de quase oito anos do seu blog, me sinto na ousadia de dar um conselho: eu sei que todos jogadores usam critérios particulares (que muitas vezes só fazem sentido na cabeça deles mesmos) pra decidir o que jogar e o que enviar direto pra lixeira, mas acho que usando esse tipo medidor pra desistir ou não de um jogo você vai perder de jogar jogos excelentes que, mesmo com suas falhas, trazem sim grandes experiências.

Shadow Geisel disse...

Sobre o Lichdom Battlemage, é um jogo que está na minha mira faz um bom tempo. Já encontrei ele por míseros 30 reais em promoções (míseros pros padrões de console, vale ressaltar), mas os relatos de bugs e queda de frame absurdos sempre me afastaram um pouco dele (é dito que o FR cai a risíveis 15FPS no PS4, apesar da promessa de correções via patch).

C. Aquino disse...

Marcos, sim, não tem como não pensar em Skyrim nos dias atuais. Mas eu queria testar primeiro o Oblivion. Além disso, descobri que só tenho a versão vanilla de Skyrim, é complicado comprar os DLCs separados, então vou ter que correr atrás da edição GOTY... coisas da Bethesda.

Shadow, você acredita que eu já tentei Neverwinter Nights... duas vezes?! Na primeira, eu esperava um novo Baldur's Gate e me decepcionei. Anos depois, já sabendo o que esperar, testei de novo, fui mais longe que antes, mas conclui que realmente não era pra mim.

Sim, eu tenho plena consciência que fui cruel com Oblivion. Retornarei a ele um dia e espero ter uma segunda experiência melhor do que tive com Neverwinter Nights!

Lichdom é lindo! É uma pena que não rode bem em consoles. Culpa dos desenvolvedores, com certeza. Sem querer me gabar nem nada, mas comprei ele por UM DÓLAR para PC em uma promo.

Marcos A.T. Silva disse...

É, Carlos, é complicado. Acaba morrendo uma graninha boa aí nessa brincadeira toda. :(

Sobre esse Lichdom Battlemage que vocês falaram, também estou querendo há um bom tempo. Mas sempre desanimo na hora H, sei lá porque.

Marcos A.T. Silva disse...

Aliás, tem algum bom RPG aí pra indicar, sem ser com gráficos datados? Nada contra, mas, atualmente não estou nessa onda...rsrsrsrs :D

C. Aquino disse...

Recentemente, curti muito Two Worlds. Apesar da idade, os gráficos são muito bons e é um título que abraça diferentes jogabilidades, sem divisão por classes. Você pode focar só em magias, só em magias de convocação, só em arco, só em espada pesada, escudo e espada, misturar um pouco de tudo, enfim, é bem flexível. O que pega mesmo é a história que não é lá grande coisa… http://blog.retinadesgastada.com.br/2017/10/jogando-two-worlds-conclusao.html

C. Aquino disse...

E tem Alpha Protocol também! Muita gente que é um RPG, embora seja de espionagem! É uma pegada bem diferente, mas muito interessante. Virou, mexeu está sendo vendido por uma merreca no Steam.

Marcos A.T. Silva disse...

Poxa, tenho o Two Worlds II na minha biblioteca do Steam. Vou dar uma lida no teu texto também. Sobre o Alpha Protocol, já joguei e inclusive escrevi alguns textos sobre ele. Jogo muito bom. Tem aqueles lances todos das escolhas, que achei muito legal também.

Shadow Geisel disse...

Quer uma dica de quem abriu cada pontinho do mapa da província de Skyrim (num save de 189 horas)? IGNORE os DLCs. São um lixo. A versão standard tem conteúdo pra mais de 150 horas de jogo, fácil.

C. Aquino disse...

Shadow, eu já vi essa novela ants: 90% dos melhores mods para Skyrim provavelmente vão exigir a versão GOTY do jogo e eu vou me arrepender de não ter. Foi assim com New Vegas… então, eu prefiro esperar mais um pouco. Não é nem pelos DLCs em si, mas pela possibilidades abertas pelos mods.

Michel Oliveira disse...

Devia pelo menos tentar os JRPGs então. Tem um monte atualmente no steam. Mas os melhores só emulando mesmo.

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Blog criado e mantido por C. Aquino

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