Retina Desgastada
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24 de junho de 2018

Jogando: Defiance e Defiance 2050

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Após minha análise inicial de Defiance, vivi uma montanha-russa de emoções dentro de seu universo, jogando quase diariamente durante cerca de duas semanas e logo em seguida dando uma pausa após o frenesi de adrenalina. Se passei do estágio de vício, acredito que já posso avaliar o jogo com a cabeça mais fria.

De fato, Defiance contém uma das características mais interessantes de Guild Wars 2, que são os eventos dinâmicos brotando a qualquer momento e abertos a qualquer jogador. Da mesma forma, até as missões tradicionais e fixas podem ser completadas com a ajuda de estranhos que aparecem, sem perda de itens ou de experiência. É um grande universo compartilhado e a dificuldade também se ajusta ao nível do jogador, como no título da Arenanet. Não há lugar bloqueado ou missão complexa demais que não possa ser realizada, embora sua contribuição para a vitória vá variar de acordo com sua capacidade militar. Ainda assim, me vi algumas vezes como o jogador no pódio em determinadas batalhas coletivas.

O que a Trion não aproveitou de Guild Wars 2 foi a variedade de missões e inimigos. Depois do décimo Arkfall ou do segundo cerco, você provavelmente já viu tudo que o jogo tem a oferecer e o deslumbre cede lugar à rotina. O mundo de fantasia do outro MMORPG é muito mais vasto, diversificado e fascinante do que o mundo de Defiance.

É uma comparação injusta, reconheço.

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Apesar da repetição, Defiance está anos-luz à frente de um Neverwinter da vida e sua jogabilidade me faz voltar a Arkfall após Arkfall, ansiar por um novo cerco e até mesmo fazer as missões paralelas, sabendo que suas recompensas são sempre pífias e seu desafio, às vezes, também. Graças à insistência do meu filho, troquei minha habilidade principal (de ampliar o dano em certos momentos) pela capacidade de ficar invisível e isso aperfeiçoou ainda mais meu estilo de jogar. Na furtividade, na malícia, me posiciono em um ponto alto no mapa e fuzilo meus inimigos de longe como um franco-atirador. Evoluí perícias para otimizar ainda mais essa tática e atingi minha zona de conforto no MMORPG.

Para quem procura (e tenha certeza que eu procuro), Defiance ainda guarda alguns tesouros interessantes. A atenção aos detalhes de seus desenvolvedores é algo digno de nota. Mesmo com a trama principal evoluindo de forma preguiçosa, com uma caçada por um artefato genérico e misterioso que é furtado por diferentes facções, o universo de Defiance brilha mesmo é nas missões secundárias, onde entendemos melhor as engrenagens que movem essa sociedade. Sua história é contada em fragmentos, em peças do cenário, em acampamentos abandonados, em ruínas de nossa civilização, formando um contexto coeso que merecia um enredo mais cativante.

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A profundidade de personagens e narrativas ficou guardada para a série de TV, que comecei a assistir na velocidade de dois episódios por semana. A ligação entre o jogo e a série é tênue, além do mundo onde se passa, com alguns elementos passando de uma mídia para outra. Sei agora que Nolan e sua filha provavelmente não voltam para o MMORPG e aquele acerto de contas que ele está me devendo vai ficar incompleto. Defiance, a série, é um produto muito mais dramático do que o jogo jamais será, o que apenas reforça o aspecto de playground de tiro que ele passa.

Um dos grandes problemas de Defiance, uma praga que aparentemente assombra o jogo desde seu lançamento, são os picos de lag. Nos meus primeiros dias era incomum, mas na última semana se tornou quase insustentável. Era possível acertar a cabeça de um oponente com um rifle e ele ainda ser capaz de esvaziar um pente em você antes do jogo registrar que ele estava morto. A onda de choque de uma explosão podia demorar dois segundos para arremessar inimigos longe. Voltou ao normal nos últimos dias, mas o fantasma ainda me assombra e o que eu vi foi algo que não tinha testemunhado antes em MMORPG algum até então.

Mais do Mesmo

Para desespero dos jogadores da velha guarda, a desenvolvedora anunciou e está testando Defiance 2050, um "sucessor" do MMORPG. O título está em Beta aberto nesse final de semana e obviamente a curiosidade falou mais alto aqui.

É uma grande decepção.

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Defiance 2050 traz um motor gráfico que ainda não sei dizer se é rigorosamente igual ou ligeiramente superior ao anterior. Se o salto de qualidade, partindo do pressuposto que ele exista, é imperceptível, a vantagem é que o novo jogo segue rodando macio em minha configuração modesta. Outro fator que também não muda é o mapa. Assim como as missões e a própria história principal.

A Trion mexeu apenas em algumas mecânicas do jogo, piorando alguns elementos, melhorando outros.

Ao invés de uma teia de habilidades que permite a customização extrema do personagem, temos classes específicas que evoluem em um caminho pré-determinado, uma escolha sábia para jogadores que ficam confusos com a árvore de habilidades anterior mas um grilhão pesado para quem, como eu, preferia a liberdade de montar a seleção que quiser.

O sistema de aperfeiçoamento de equipamento, que era confuso em Defiance, continuou confuso em Defiance 2050, mas de uma forma diferente. Há ainda mais espaço para modificações de armas e novas classes de escudos e o processo de desmantelar equipamento para evoluir outros foi alterado. Na prática, a Trion trocou seis por meia dúzia e não vejo como isso possa ajudar jogadores iniciantes. O inventário, que antes possuía espaço para somente 35 itens, agora comporta 100, um exagero que não vai facilitar a vida de ninguém. Apesar dos problemas, tive a impressão que encontrar armas melhores ficou mais claro do que era antes.

Finalmente, há um personagem com habilidades médicas, algo que fazia falta em Defiance. Não posso atestar sua eficiência, mas é uma adição interessante.

Granadas agora não precisam mais ser compradas por unidade, mas por tipo, uma vez que elas recarregam com o tempo, como uma habilidade qualquer. Não faz o menor sentido lógico, porém, do ponto de vista prático, é uma mudança bem-vinda. Você pode encontrar granadas melhores ao longo do jogo, o que aumenta e muito sua utilidade durante os combates. Em Defiance, eu geralmente arremesso por arremessar porque o impacto é patético. Em Defiance 2050, as granadas são importantes.

Há mudanças também na interface, que ficou mais enxuta e, consequentemente, mais útil. Ao invés de 10(!) moedas diferentes e um incentivo forte para gastar dinheiro de verdade, Defiance 2050 traz somente 5 moedas e, até onde vi, nenhuma mensagem "sugerindo" pacotes pagos.

Em outras palavras, Defiance 2050 é um remake do jogo anterior, algo que poderia ter sido incorporado ao invés de exigir um download separado, dividir a base de usuários e trazer a triste perspectiva de ter que reiniciar seu progresso do zero.

Para quem nunca jogou Defiance algum, a recomendação é clara: vá para Defiance 2050. É mais amigável aos novatos, é mais estável (apesar de alguns travamentos violentos nesse Beta) e certamente terá uma vida muito mais longa nas mãos da Trion. Para quem ainda está em Defiance, não há nenhum incentivo para migrar e começar tudo de novo.

Da minha parte, sigo no jogo original, por essa estrada devastada, até a missão principal acabar.

Ouvindo: After Forever - Silence From Afar

Um comentário:

Anônimo disse...

Estou profundamente decepcionado. Achei que era um jogo novo, como uma história mais coerente e sem os penduricarios da série de TV. Me lasquei.

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Blog criado e mantido por C. Aquino

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