Retina Desgastada
Idéias, opiniões e murmúrios sobre os jogos eletrônicos
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31 de outubro de 2017

Jogando: Kraven Manor

Kraven Manor 02

Eu nem queria.

Embora eu já tenha tentado anteriormente jogar títulos de terror durante o período coberto pelo Outubro do Horror, minhas experiências anteriores me mostraram que o tempo disponível é volúvel e não consigo terminar o título escolhido em tempo hábil para fazer parte do mês temático.

Então, eu não queria jogar Kraven Manor. Eu fui puxado para Kraven Manor.

Depois de concluir Two Worlds, o jogo randômico da rotação (que por sua vez havia substituído Deadlight), estranhos eflúvios se apossaram da aleatoriedade e as forças do acaso penderam para um jogo de terror, curto, bem acabado e assustador na medida certa. Não me lembrava mais como Kraven Manor veio parar na minha Biblioteca, mas agora sei como irá voltar para lá: com mãos trêmulas.

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O jogo nasceu de um projeto estudantil que criou vulto e volume através do YouTube, ao ponto de seus idealizadores fundarem um estúdio, ampliarem o projeto inicial e lançarem o jogo comercialmente. Para um título de estreia de desenvolvedores sem experiência, Kraven Manor é uma experiência surpreendentemente bem polida, uma declaração de amor ao horror gótico e a sua arquitetura, aqui desempenhando um papel crucial para a jogabilidade.

Em termos de enredo, o jogo é direto: você está no interior da mansão abandonada que dá nome à obra e precisa explorar seus segredos e sobreviver a seus desafios. Não há uma introdução, não há construção de personagem. Você tanto pode ser um herdeiro em busca de respostas sobre seus antepassados ou um simples desafortunado que furou o pneu do carro do lado de fora e entrou para dar um telefonema. Talvez haja um texto de abertura que explique isso, mas os detalhes me fogem completamente diante da noite de tormento passada ali.

Lá fora, relâmpagos rasgam um céu que você nunca vê através de janelas fechadas ou imundas. Aqui dentro, a subversão total do que você entende por "níveis". Os aposentos da casa se alteram segundo uma mecânica especial que você manipula e encontrar a combinação correta é fundamental para prosseguir. Enquanto isso, através de fragmentos como bilhetes, quadros e livros, você também vai combinando pouco a pouco a macabra história de William Kraven e sua família.

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Não há combate, mas isso não significa que seu personagem não corra perigo de vida. Uma... entidade com uma particularidade mecânica muito interessante irá persegui-lo, atormentando na maioria das vezes como um sinistro jogo de gato e rato, mas também sendo agressiva e até mortífera em outras.

O jogo não é difícil, muito pelo contrário, seus enigmas são fáceis de resolver e a equipe de desenvolvedores se preocupou em fornecer muitas dicas para você não se perder no que precisa ser feito. Mas Kraven Manor também não é tranquilo: em menos de duas horas de jogabilidade, morri três vezes, em todas elas por falhar em manter o sangue-frio.

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A sequência final é de tirar o fôlego, uma fuga inesperada, o ápice da insanidade e os estudantes conseguem logo depois dar uma lição de como se fazer um confronto desesperador, mas não impossível de se triunfar. Pena que é sucedido por um epílogo previsível.

Por um longo tempo de minha vida, consumi filmes de terror como se fossem doces. Hoje considero todos que vejo apenas dignos de um leve interesse. Por um bom tempo, jogos de terror me causavam apenas uma suave tensão. Depois de Amnesia - The Dark Descent, já começo a suar frio diante de jogos assustadores e beiro o mal-estar. Kraven Manor não é o jogo que me curou dessa condição e simples porões virtuais iluminados apenas por uma lanterna ainda me causam calafrios. Mas foi uma experiência com a dose exata para fazer a adrenalina pulsar e me fazer perder o medo de jogos de horror.

Em parte. Apenas em parte.

Nos primeiros minutos de Novembro, despeço-me do Outubro do Horror por mais uma vez.

Ouvindo: Grendel - Soilbleed [Obszön Geschöpf Remix]

3 comentários:

Michael Andrade disse...

A experiência que um bom jogo de terror proporciona é algo inesquecível. Lembro muito bem do meu primeiro jogo dessa categoria: F.E.A.R. Nunca vou me esquecer do momento em que estava em uma espécie de túnel no esgoto, com meia dúzia de lâmpadas ao longo desse túnel ajudando minha lanterna a iluminar o caminho a minha frente. Poucos metros adiante e a lanterna começou a piscar. Sinal de que algo ruim aconteceria. Ratos correm no sentido contrário ao meu caminho e algumas lâmpadas estouram.
Saí do jogo e só voltei duas semanas depois.

Não houve imagens inesperadas acompanhadas de sons barulhentos para me assustar de forma barata. Somente a lenta construção de uma grande expectativa e do medo pelo desconhecido.

Eu acredito que o ser humano possa nutrir medo facilmente, desde que acredite que está sozinho naquele meio. Para assistir a um filme, ou jogar um jogo de terror verdadeiramente, a pessoa tem que querer se assustar. Tem que estar escuro, tem que estar sozinho, tem que acreditar que aquilo é real. Tem que querer acreditar. E em pouco tempo, o suor frio começa a escorrer.

Raphael AirnMusic disse...

Que bacana, não conhecia esse aí. Adicionado na lista.

Aquino, não lembro se já recomendei, mas The Last Door é muito bom também no sentido de criar tensão e usar a sua própria imaginação para isso.

Shadow Geisel disse...

Amnesia eu ganhei na Plus mas ainda não tive tempo **coff, Overwatch, Coff coff** de jogar. Fear eu achei bem sem graça, com sustos telegrafados e clichês de filmes de terror aos montes. O combate, por sua vez, é uma delícia (O Slowmo sustentou meu interesse até o final do jogo). Kraven Manor eu nem sabia que existia, mas deu vontade de jogar. O único jogo de terror em que realmente meu coração palpitou freneticamente foi Alien Isolation, então preciso ampliar meu cardápio, já que sou um fã doente do gênero.

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Blog criado e mantido por C. Aquino

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