Retina Desgastada
Idéias, opiniões e murmúrios sobre os jogos eletrônicos
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11 de dezembro de 2016

Jogando: Alpha Protocol

Alpha Protocol 01

Na madrugada, vendo os créditos finais de Alpha Protocol, possivelmente o único RPG de espionagem jamais feito, tive a síntese perfeita do jogo. Uma voz de telejornal narrava as consequências de minhas decisões no cenário geopolítico mundial enquanto imagens cruzavam a tela com momentos importantes da trama que deixei alongar por meses. O final perfeito. Depois dos créditos, o jogo travou e tive que fechar a partir do Windows.

Alpha Protocol é isso: um título magnífico sabotado por falhas constantes em seus aspectos técnicos. Apesar dos pesares, um belíssimo exemplar de como é possível construir uma narrativa adulta, complexa e fugir de muitas convenções do RPG.

Na criação da Obsidian, você é um agente secreto que é traído pela organização para qual trabalha logo na primeira missão e precisa se tornar um renegado para debelar uma conspiração de grandes proporções. Sim, você já viu ou leu essa história várias vezes e, possivelmente até mesmo jogou algo bem parecido. Mas a forma como a desenvolvedora entrega a trama é o grande charme de Alpha Protocol.

Alpha Protocol 04

A estrela da aventura é o sistema de conversação e informação. As respostas que você dá para cada situação tem consequências e modelam o andamento da história de maneiras muito mais profundas que na maioria dos títulos que conta com essa abordagem. Quanto mais informação você sabe sobre a pessoa com quem você está dialogando, mais fácil se tornam as escolhas, mas, para isso, você como jogador precisa ficar atento para os detalhes, ler os dossiês e dançar conforme a música. Entretanto, a própria Obsidian informa que não há um caminho certo ou errado para jogar Alpha Protocol, mas diferentes desfechos para diferentes jogadores, então também é possível confiar apenas nos instintos e deixar a onda levar.

Sua complexidade beira o caos: são inúmeras facções com diferentes interesses atuando em diferentes regiões do mundo e você precisa passar por elas, como inimigo, neutro ou mesmo aliado. A insegurança é uma constante e a punhalada nas costas é aguardada a qualquer momento. Na verdade, a trama fica tão intrincada que acompanhar se tornar o maior desafio, enquanto o jogo posta no seu caminho um rol de personagens intrigantes: uma charmosa jornalista, uma guarda-costas muda, um lunático sádico, um mafioso oitentista egocêntrico, um agente chinês que parece saído de um anime, entre vários outros, sem nunca cair na caricatura fácil.

Alpha Protocol 08Alpha Protocol 15

É um título onde é possível se importar até mesmo com os vilões e que, na minha jornada, culminou em uma das mais merecidas execuções dos jogos eletrônicos: apertei o gatilho e apertei com gosto.

Mas, se em termos narrativos e de imersão, Alpha Protocol brilha, é nas mecânicas de combate que novamente o RPG deixa a desejar. A exemplo do primeiro Mass Effect, seu calcanhar de Aquiles está na hora do mata-mata. A impressão que fica é que os rumores são autênticos: o jogo deveria seguir por um caminho mas a produtora exigiu mais combate e esse foi feito às pressas. No caso, a Sega colocou uma equipe interna para ajustar o jogo e dizem que nos últimos seis meses de desenvolvimento a Obsidian nem teve mais acesso ao código.

Alpha Protocol 11Alpha Protocol 18

O resultado é um jogo que privilegia a abordagem furtiva, mas que perde muito de sua fluidez com controles imprecisos e falhas quando o alarme toca e o confronto se instaura. A Inteligência Artificial é capaz de olhar para as paredes no meio de um tiroteio. Mirar, mesmo com uma arma de longo alcance repleta de evoluções, é um sofrimento e o rifle de sniper é uma piada onde um tremor na mão pode tirar o foco por metros de diferença. São vários os pequenos detalhes que te fazem lembrar que está em um jogo e não em uma aventura de espionagem: botões que precisam ser apertados mais de uma vez para funcionar, som dos diálogos baixo mesmo no máximo, frases repetidas de NPCs e até mesmo chefes, texturas que saltam aqui e ali e bugs na hora de fechar.

Esses pequenos problemas mais uma grande quantidade de outros bugs na época do lançamento condenaram Alpha Protocol a um injusto esquecimento. A produção da Obsidian pode não entregar o grande RPG que poderia ter sido, mas, dado os longos quatro anos de desenvolvimento, a interferência da Sega e o fato de estar trilhando um terreno totalmente desconhecido, Alpha Protocol supera seus problemas e, para mim, é uma aventura única que dispensa continuações (a produtora foi categórica que nunca haverá), mas merece ser experimentado e deixar herdeiros.

Alpha Protocol 20

Ouvindo: Rammstein - Mein Teil

4 comentários:

Leonardo Rocha disse...

Na minha opinião, a maior falha de Alpha Protocol são as batalhas contra os "chefes". O jogo permite você lidar com situações de jeitos diferentes, permite você evoluir as habilidades que você acha mais importante, mas joga tudo isso fora nessas horas. Meu personagem que era quase exclusivamente voltado para o Stealth era simplesmente massacrado nessas batalhas fora de lugar. Por causa disso demorei 5 meses para terminar a historia.

Tu gostou do final que recebeu? O meu foi quase como eu queria, mas graças a UMA porta errada e um checkpoint maldito no fim do jogo uma das minhas aliadas morreu.

C. Aquino disse...

No PRIMEIRO chefe, já vi que tinha feito as escolhas erradas. Daí pra frente, tentei evoluir Assault Weapon e Stealth simultaneamente. Ainda assim foi difícil mesmo. E tomei uma surra de um dos chefes do final, que achei que não ia conseguir passar. Até que carreguei a munição certa, ativava o poder de Stealth, mirava, dava UM tiro, me escondia, esperava dar recarga do Stealth e ia de novo. Foram 15 longos minutos...

Gostei do final, mas um vilão que eu queria muito dar cabo acabou não cruzando meu caminho. Tem muitos fatores envolvidos no final e é complicado alinhar tudo.

Shadow Geisel disse...

"A estrela da aventura é o sistema de conversação e informação."

O mais curioso é que foi justamente isso que me afastou do jogo. Comprei há uns anos mas tinha medo de jogar, por causa da pressão de escolher as opções "erradas". Eu detesto a sensação de que algo é definitivo num jogo, que eu não terei chance de consertar se der alguma coisa errada. E os diálogos não me pareciam nem um pouco intuitivos de saber o que eu teria que escolher. Resultado: travei. Sei que não é problema do jogo.

marcosladarense disse...

Shadow Geisel, concordo com vc. E o fato de ter de escolher o diálogo em tempo real, com uma barra de tempo diminuindo, é péssimo, pq não dá nem pra gente ouvir tudo o que o npc está falando e já temos q escolher q tipo de abordagem fazer. E piora tudo para quem não tem domínio fluente em gírias do inglês americano, pq a gente tem que ouvir, ler a legenda e escolher o tipo de resposta; tudo concomitantemente.

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Blog criado e mantido por C. Aquino

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