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18 de outubro de 2016

Brasil dos Jogos: CleanWaterSoft

Já fiz aqui no blog uma série dedicada a desbravar o desenvolvimento de jogos em outros países fora do eixão EUA e Japão, chamada Volta ao Mundo. Uma das grandes falhas que eu notei desde o início da série foi a ausência do Brasil, ora porque a indústria de jogos nacional não andava muito bem das pernas anos atrás, ora porque eu achava que se tinha que traçar um panorama dos desenvolvedores brasileiros, eu teria que fazer ainda melhor do que fiz com países distantes, como Austrália ou Polônia.

O que nos leva a Brasil dos Jogos. A minha ideia é entrevistar desenvolvedores brasileiros para o site Código Fonte para entender como funciona o desafio de trabalhar com jogos por aqui. É uma proposta ainda embrionária, mas que promete ser uma jornada bastante interessante, assim como meus entrevistados. A primeira entrevista já saiu do forno e segue aqui na íntegra.

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(publicado originalmente no Código Fonte)

A CleanWaterSoft é uma desenvolvedora independente de jogos eletrônicos fundada em 2015 por Alysson L. Neto (também conhecido como CleanWater) e que, em um curto espaço de tempo, já lançou dois títulos no estilo metroidvania que foram bem-recebidos pelo público e está prestes a tomar de assalto o Steam com um terceiro jogo na série e um DLC, além de uma investida no PlayStation 4.

Conversamos com o desenvolvedor solitário Alysson L. Neto, responsável pela franquia Porradaria. O primeiro jogo da série, Porradaria foi lançado em Outubro de 2013, antes mesmo da criação da CleanWaterSoft. Com gráficos retrô e pixel art, o título contava a jornada de um assassino conhecido como Ninja, em um mundo repleto de criaturas mitológicas e grandes perigos. Em 2015, uma versão melhorada, Porradaria Upgrade, estrearia no Steam.

A continuação Porradaria 2: Pagode of the Night demoraria um ano e meio para estar pronta, chegando na loja digital em 2016 e trazendo Ninja de volta, desta vez na busca pelo Lendário Saco de Batatas Fritas Infinitas. Mas a série não vai parar por aí e a CleanWaterSoft tem muitos planos em andamento.

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Cena de Porradaria 2: Pagode of the Night

1) Vamos começar do início. De que região do país é a CleanWaterSoft?

Sudeste. De Minas Gerais.

2) Quem participa da equipe?

Eu trabalho sozinho.

3) De onde surgiu esse nome para o estúdio?

“CleanWater” é o nick que sempre usei nos fóruns de desenvolvimento de jogos. O “Soft” foi adicionado só pra diferenciar o nome do estúdio do meu nick.

4) Já que estamos falando de nomes, porque “Porradaria Upgrade”?

Muito tempo antes de desenvolver o primeiro Porradaria, em uma conversa com um amigo, eu perguntei sobre quais tipos de jogos ele gostava. Ele me disse que gostava dos jogos de “porrada”. Eu perguntei: Porrada? Tipo Street Fighter? E ele disse: Não, tipo Megaman. Eu só pensei: O que Megaman tem a ver com “porrada”? Putz. E esse nome acabou vindo em mente depois na hora de nomear o jogo. Já o Porradaria Upgrade foi o segundo jogo na ordem cronológica da série, um remake melhorado do primeiro. Por isso do “upgrade”, um Porradaria “melhorado”.

5) Há um toque de nostalgia dos anos 90 no estilo da franquia. Como começou essa relação com os jogos eletrônicos? Quais são suas influências?

Sempre fui fã dos jogos de plataforma antigos como Megaman, Castlevania e vários outros. A ideia da série sempre foi fazer uma homenagem paródica do gênero.

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O clássico Megaman, uma das fontes de inspiração para a franquia Porradaria.

6) Quais ferramentas foram utilizadas na produção da série?

Hoje uso Game Maker: Studio, antes eu usava a versão Lite do Game Maker 8.
Para os gráficos: MS Paintbrush, papel, caneta e lápis de cor.
Para as músicas: Meu violão e TuxGuitar.
Efeitos Sonoros: Minha boca e Audacity.
Dublagem: Mesma coisa dos efeitos sonoros.
Não, não é zueira, é a verdade.

7) No momento, Porradaria Upgrade Gold está sendo desenvolvido para Xbox One, a primeira investida nos consoles. É muito diferente de trabalhar para PC?

Eu não estou sentindo muita diferença.

8) Toda a franquia entrou no Steam através do Greenlight. É mais difícil entrar no mercado do Xbox One? Há planos para outros consoles? E as plataformas móveis?

Sinceramente achei mais simples do que pensei que seria. Tenho planos para o PlayStation 4 também. Já as plataformas móveis eu não decidi ainda.

9) Recentemente, o cancelado terceiro título da série foi “ressuscitado”. Conte como isso aconteceu!

Muitos fãs mandaram mensagens perguntando porque o jogo foi cancelado e se eu não poderia voltar atrás. Eu não pensei que esse jogo faria tanta falta assim pra tanta gente. Por isso decidi reabrir a página no Steam Greenlight.

(segundo a página oficial no Greenlight, “depois de cair com sua espaçonave roubada em um planeta desconhecido, o Ninja foi resgatado por um grupo de resistência chamado A Resistência. Agora, contra sua vontade, o Ninja deverá lutar ao lado de A Resistência para derrotar o governo maligno e escapar desse planeta atormentado”. Neto revelou que o subtítulo “End of Dream” é mais ou menos um indicativo do fim da franquia, o encerramento da trilogia do personagem).

10) Porradaria 2: Pagode of the Night vai ganhar um DLC ainda em Outubro. Isso significa que a CleanWaterSoft está trabalhando simultaneamente em três projetos! Há planos de ampliar a equipe?

No momento não. Talvez algum dia.

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Cena de Vladimirson, DLC de Porradaria 2, trazendo o mago do mesmo nome como personagem controlável no jogo.

11) Ainda há muita resistência do público brasileiro contra jogos nacionais ou isso vem mudando nos últimos anos?

Eu acredito que a aceitação está sendo boa nos últimos anos.

12) O primeiro jogo foi legendado para outros cinco idiomas, além do Português do Brasil. O segundo foi legendado para o Inglês. A resposta à série lá fora é positiva?

Sim. Mas a tradução para Inglês foi feita por mim mesmo, já os outros idiomas eu tive que pagar tradutores, e aí vieram pedidos para traduzir para Japonês, Chinês, Russo, e por aí vai. Eu decidi ficar só no Português e Inglês mesmo daqui pra frente, pois se eu for traduzir para todos os idiomas que tem no mundo, não vai sobrar dinheiro nem pra batata frita do dia a dia

13) Como é a relação da CleanWaterSoft com outros estúdios nacionais? Rola uma camaradagem ou o ecossistema por aqui ainda é muito isolado?

Eu participo de muitos fóruns de desenvolvimento de jogos ainda. Sempre estou trocando informações e sugestões com outros desenvolvedores, não só do Brasil.

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Cena da versão Gold de Porradaria Upgrade

14) Como você vê o cenário dos jogos nacionais nos próximos dez anos?

Eu vejo um futuro bem promissor para a indústria nacional. Acredito que já ocupamos nossa parte no mercado internacional e manteremos nossa posição daqui pra frente.

15) Nas horas vagas, quais são os jogos preferidos?

Além dos jogos de plataforma 2D tradicionais, meu estilo preferido sempre foi o JRPG. Mas também jogo de tudo um pouco.

Ouvindo: Mindless Self Indulgence - You'll Rebel To Anything (As Long As It's Not Challenging)

Um comentário:

Alysson L. Neto disse...

Excelente entrevista! A série "Brasil dos Jogos" foi ótima!

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Blog criado e mantido por C. Aquino

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