Retina Desgastada
Idéias, opiniões e murmúrios sobre os jogos eletrônicos
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7 de maio de 2016

NPCs

 

Complexo militar de alta segurança. Noite.

- Não tem Vale-Refeição?

- Não. Não tem. Você não come no trabalho. Nem vai ao banheiro. Para ser sincero, nossas instalações nem mesmo tem refeitório ou banheiro.

- E o que eu tenho que fazer mesmo?

- Você vai usar o uniforme e a arma que nós damos. Vai andar daqui até aquele ponto ali na frente. Olhar para a esquerda. Olhar para a direita. Ficar parado por 23 segundos. E depois voltar pelo mesmo caminho.

- Parece fácil.

- Não é difícil. Mas pouca gente aceita o emprego. Fazer o mesmo trajeto de vinte metros repetidas vezes durante um turno de 8 horas assusta os candidatos.

- Eu topo. O salário é bom.

- Seja bem-vindo à Evil Corp, então. Você não vai se arrepender. Está vendo aquele cara ali do outro lado do pátio?

- Aquele que também está repetindo o mesmo caminho de novo e de novo?

- Sim. O Johnny. Bom moço, nunca reclama. Entrou para a empresa já tem 11 meses. Daqui a pouco vai tirar sua primeira férias.

Um silvo quase imperceptível cruza a noite. A cabeça de Johnny explode com um tiro de sniper.

- Cacete! O que foi aquilo?

- Não foi nada. Lembre-se da orientação. Se vir algo estranho, pare onde está, olhe para os lados por 68 segundos e depois volte ao seu trajeto. Pode fazer isso?

- Acho... que sim. Mas e o Johnny?

- Que Johnny?

 

Loja de armas. Vila medieval. Meio da tarde.

- Boa tarde, eu queria vender uns itens.

- Mostra o que você tem aí.

- Olha: uma Armadura de Horadrin. Paga quanto nela?

- Dou dez moedas de ouro nela.

- Dez moedas?! Dez moedas em uma Armadura de Horadrin?! Você vende isso por 1000!

- Sim. Mas as que eu vendo não tem buraco de lança, marca de corte de espada ou queimadura de Magia. E nem sangue. Esse negócio ainda está pingando!

- Deu trabalho para conseguir.

- E vai dar trabalho para eu limpar, consertar e retocar. Está vendo esses entalhes aqui? Feitos à mão. E você acertou eles com um machado, não foi?

- Tecnicamente, foi uma alabarda...

- Não importa. O ourives vai me cobrar 300 só para refazer isso aí.

- E essa Espada ThunderStorm? Quanto você paga nela?

- Essa está intacta... bom material... desculpa perguntar, mas... como conseguiu?

- ...

- Eu não ouvi.

- ...

- Pode falar mais alto, por favor?

- Dropou de um rato!

O vendedor olha para a peça, totalmente sem interesse dessa vez.

- De um rato?

- Sim.

- Dou cinco moedas de ouro nisso.

 

Borda da floresta. Começo da manhã.

- Não quero mais cortar árvore.

- Não começa, Alfredo!

- Não percebe? A gente está acabando com a floresta! E para quê?

- De novo, não...

- A gente corta, corta, corta, nunca descansa, nunca dorme, nunca come, não ganha salário...

- Mas que p*** é salário, Alfredo?!

- É o que eu estou dizendo: isso não faz sentido! E a floresta está acabando!

- E daí? A gente encontra outra e corta mais madeira.

- Até não ter mais floresta nesse mundo! É isso que vai acontecer. Vão acabar todas as florestas! O pessoal da administração vai transformar tudo em catapulta, torre, muralha...

- ... para proteger a gente. É assim que funciona, Alfredo!

- Pra proteger? E aqueles caras de vermelho outro dia? Eles também estavam cortando madeira. Na deles, sem importunar ninguém. Tinha madeira para todo mundo! Aí vieram os nossos arqueiros e passaram os caras na flecha! Foi uma chacina!

- Pelo menos, aí a floresta ficou só pra gente.

- Essa mentalidade vai ferrar com o mundo, cara. Não percebe? A gente está se matando para ver quem acaba com as florestas mais rápido!

- E o que você queria, Alfredo? O que ia te deixar feliz e de boca calada, cacete?

- Eu queria quebrar pedra.

Ouvindo: Reagan Youth - Degenerated

4 comentários:

Michael Andrade disse...

Ahhhh, esses diálogos valem ouro! 300 moedas de ouro, para ser exato... hahahah

Marcos disse...

esse último basicamente fala de Acumulação primitiva de Karl Marx

kkkkkkkkk

Shadow Geisel disse...

"Dropou de um rato." kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk.
Ontem eu tava jogando o Fallout 4 e um carneiro dropou dez tampinhas de garrafa. bem que avisaram sobre o bucho dos ruminantes...

Rabisco Virtual disse...

Rindo de lacrimejar aqui. A postagem é magnífica, não só pelo humor contido, mas pela centelha de reflexão que habita nas passagens.

E quando eu achei que o sarro havia terminado, entro na sessão de comentário e vejo essa conversa do Geisel sobre ruminantes. Hoje terei cãibras de tanto rir, e a culpa será de vocês.

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