Retina Desgastada
Idéias, opiniões e murmúrios sobre os jogos eletrônicos
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2 de outubro de 2015

Limonada

Uma parte de mim gostaria de narrar essa história quando todos os fatos estivessem concluídos ou que pelo menos um horizonte com um belo por de Sol aparecesse no final. Mas é melhor contar agora, enquanto os detalhes ainda estão frescos em minha mente.

Porque essa é uma crônica sobre erros. Uma cascata de erros. Uma cascata de erros ridículos cometidos por excesso de confiança.

Mas eu chego lá.

Quando Kryta foi montada, o técnico da loja que juntou a fonte (que eu já tinha), com a placa-mãe, o processador e o gabinete que eu estava comprando foi categórico: "essa fonte é vagabunda e não vai durar muito".

Meu primeiro erro foi não ter dado ouvidos.

Bad Blocks!

Minha fonte anterior havia queimado, assim como aquela que veio antes dela, e aquela que veio antes, e aquela que veio... enfim, tenho uma longa tradição com fontes de baixa qualidade parando subitamente e sendo substituídas por fontes do valor que o dinheiro disponível poderiam comprar naquele momento específico. Imaginei que o caso se repetiria, baseado em minha experiência de vida.

Mas a maldita fonte não queimou. Ela derreteu o cabo de força, gerou um mal-contato, que provocou efeitos inimagináveis em todo o sistema.

Um destes efeitos foi o surgimento de bad blocks no HD. Ou não. Talvez o velho disco comprado em 2010 já estivesse com seus dias contados mesmo. Jamais saberei. Movido pela necessidade e pelos alertas do Windows que o disco poderia pifar a qualquer momento, comprei o mais rápido possível outro HD de 1TB.

Não imaginava o desastre que estava por vir.

Meu HD há muitos anos é dividido em duas partições: uma para sistema, outra para arquivos. Se precisar reinstalar o sistema operacional, bastaria formatar uma partição, deixando meus arquivos sempre intactos. Outro hábito que cultivava era sempre de gravar DVDs com meus filmes, jogos, arquivos e MP3s de tempos em tempos.

Para facilitar, daqui pra frente vou chamar o HD velho de Geraldo e o HD novo de Maldito FDP.

Com o Maldito FDP instalado, era só uma questão de fazer duas coisas: mover meus arquivos da partição de arquivos para uma outra partição no Maldito FDP e clonar meu sistema para uma partição de sistema no Maldito FDP. Simples, uma tarefa que inclusive já havia feito no passado.

Comecei pelo mais fácil: mover meus arquivos. Tinha 500 GB de documentos, porque infelizmente não gravava mais DVDs havia um bom tempo. Foi então que cometi o segundo erro e, talvez, o mais estúpido de todos.

Eu não copiei os arquivos. Eu os movi de lugar. Para o computador tanto faz, se você copia ou recorta, o processo dura o mesmo tempo. Estava lidando com um HD que seria aposentado, não importava liberar espaço nele. Eu poderia ter copiado meus arquivos e ficado com duas versões de tudo. Mas eu movi, e os Deuses do Caos e da Entropia viram a oportunidade para entrar no reino dos mortais.

Faltava nesse momento clonar o sistema. Tentei fazer o que se chama de clonagem quente: copiar o Windows de dentro do próprio Windows com o Windows rodando. Muita gente consegue fazer isso. Eu não consegui, por algum motivo. Talvez os tais bad blocks.

E pensei: "eu posso resolver isso".

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Então, instalei o Ubuntu em um pen-drive e parti para a ignorância. O Gparted me informou que não era possível clonar uma partição com erros de leitura (olha os bad blocks aí!). O que foi uma pena, porque ele poderia fazer isso com um simples arrastar-e-soltar de uma partição para outra. Mais fácil, teria sido impossível. Aparentemente, o dd poderia fazer o serviço.

Para quem não sabe, dd é uma função nativa do Linux considerada uma das mais poderosas e mais perigosas do sistema. Porque ela faz muitas coisas com seus discos e porque ela faz literalmente o que você mandar, sem nenhum freio de segurança. Meu terceiro erro foi saber dos riscos e ainda assim ignorá-los na arrogância de que havia entendido tudo. Mandei copiar uma partição para outra e sobrescrever os bad blocks com zeros.

O resultado foi que o dd tornou o Maldito FDP ilegível pelo Windows.

Segundo o Testdisk, as partições estavam lá no Maldito FDP e o sistema inclusive havia sido clonado. Mas alguma coisa, talvez o MBR do disco, estava corrompida. MBR são míseros bytes de informação que fazem o disco iniciar para o sistema, resumindo imensamente. E agora o MBR do disco pertencia a Tzeentch. Entretanto, o Testdisk conseguia enxergar meus arquivos, estava tudo bem, era só questão de corrigir o Maldito FDP.

E pensei: "eu posso resolver isso".

Foi então que cometi o quarto erro.

keep-calm-and-say-i-can-do-it-11Ao tentar reconstruir o MBR seguindo tutoriais da Internet, consegui fazer com que nem o Testdisk mais fosse capaz de ler os arquivos dentro do Maldito FDP. Minha única cópia de 500 GB de dados estava inacessível para o Ubuntu e para o Windows.

É claro que meu tormento não poderia parar por aí. Minha esposa pediu o pen-drive dela de volta. Fiquei sem Linux. Completamente obcecado e possuído pela mais absoluta estupidez, cometi o quinto erro e instalei o Linux em Geraldo, que estava quieto, na dele, na partição que antes era de arquivos e agora se encontrava vazia. Não me serviu de grande ajuda. Formatei a partição. Apenas dias depois me ocorreu que eu poderia ter utilizado o Recuva e recuperado facilmente meus arquivos todos desse mesmo disco. Se eu não houvesse instalado outro sistema operacional por cima. Se eu não tivesse formatado em seguida. Recuva não faz milagres. Os dados se perderam.

E pensei: "eu posso resolver isso".

Tentei remontar a tabela de partição do Maldito FDP. Todos os programas testados (e não foram poucos) demorariam dias, semanas, meses, para analisar o conteúdo. Com o Geraldo dando sinais de fim de carreira e sem a mínima confiança na minha sorte, por razões óbvias, eu não dispunha desse tempo. Com a placa-mãe instável, meu computador também estava desligando nos momentos mais impróprios.

Desisti de remontar a tabela de partição. Minha única saída será resgatar o que for possível e formatar o Maldito FDP, para novamente fazer o processo de backup da forma mais cuidadosa jamais feita. Isso não é mais uma guerra que eu possa vencer, é uma retirada cataclísmica, carregando um punhado de feridos.

O resgate é plausível. Há ferramentas que conseguem recuperar dados até do mais comprometido disco rígido. Mas é um processo imensamente lento. A melhor estimativa, novamente, é de algo em torno de 100 dias. Se o computador não desligar sozinho. Se não travar. Se o Geraldo sobreviver.

Resgatei alguns backups que guardo na nuvem. Perto de 50 GB. Os arquivos que uso profissionalmente. Tenho eles salvos na Amazon S3 tem vários anos, quando resolvi trabalhar apenas em casa. E pensar que me questionei por muitas vezes sobre a necessidade de pagar 2-3 dólares por mês e sincronizar as pastas a cada 15 dias. Pelo menos, eu posso voltar a trabalhar em meus projetos enquanto tento consertar o problema. Afinal, eu acho que posso resolver isso...

Os outros 450 GB? Provavelmente perdidos para sempre, como um monumento à minha burrice e teimosia. É um momento para reavaliar a necessidade de tanta tralha armazenada. Mas no fundo sei que acharei divertido correr atrás de todos os MP3 (que felizmente tenho listado em arquivos separados e salvos), filmes e jogos para baixar novamente. Mas não será nada divertido no caso daquele material raro que eu nem lembro mais onde consegui ou que o site saiu do ar. Ou daquilo que perdi e nem sei o que era, mas sentirei falta em algum momento.

Ou do meu segundo livro, inacabado, paralisado desde 2012 e cuja única cópia que me restou está desatualizada. Arquivo que tirei da segurança da pasta Meus Documentos (que tem cópia na nuvem) para colocar na pasta que um dia seria queimada em DVD. Um dia que nunca veio e nunca virá. Nesse momento, faço uma varredura específica por arquivos .doc dentro do Maldito FDP corrompido. O programa que varre com filtragem não recupera diretórios ou o nome certo do arquivo. E demora horas, muitas horas. Fico de olho esperando por um arquivo .doc de 2012 com 416 KB emergir das cinzas.

A vida me deu limões. Eu escrevi uma postagem.

Ouvindo - Nada! Ainda não recuperei meus MP3!

15 comentários:

Anônimo disse...

Falando nisso, rs, ainda tem seu primeiro livro para vender Aquino?

Anônimo disse...

luck:-10

LocoRoco disse...

A gente sempre pensa que tem tudo sobre o controle, que está tudo guardado no tal HD, mas nunca pensa que um dia aquilo vai estragar e tu vai perder tudo que está nele. Sim, o tempo é outro,ele é digital e efêmero. Tudo pode acabar em um instante.

LocoRoco disse...

sob o controle* , desculpa o erro

Helder disse...

E pensei: "eu posso resolver isso".
haiuhaiuha, passo sempre por isso, sempre dá merda.
Adorei essa crônica, ri muito aqui me identificando kk

Anônimo disse...

Bad Luck soldado!

Marcos A. S. Almeida disse...

Aquino, acredito que os problemas e erros não se repetirão mas o melhor conselho que eu posso dar - e tenho certeza que você já sabe - é o de salvar arquivos pequenos na nuvem ,com uma pasta sincronizada, e os maiores em um HD externo.Hoje eu tenho plena certeza que tudo o que está dentro do meu notebook ou está também no Skydrive ou é dispensável.Mas, infelizmente como muitos,também só fui me precaver depois de ter um "Maldito FDP" em meu pc.O interessante é que sempre que temos problemas no Windows recorremos ao Linux pra nos salvar e por não termos intimidade com ele se torna uma operação bem mais complicada do que imaginamos.

Anônimo disse...

Fazendo um check-up na saude de todos os meus hds depois disso.

C. Aquino disse...

Cinco dias depois... eu respondo o comentário do primeiro anônimo: sim, achei um exemplar do Juvenília perdido aqui entre os meus guardados. Estou vendendo por R$35, com frete grátis para todo o Brasil e autografado (está 35 nas livrarias, sem frete e sem autógrafo...). Avise se houver interesse, senão, lanço no Twitter/Mercado Livre!

C. Aquino disse...

A quem interessar possa, não consegui resgatar a última versão do doc do meu segundo livro inacabado. A única versão que encontrei, em outra pasta, está mais inacabada ainda... mas há males que vem para o bem. Quem sabe eu não me animo, termino e divulgo por aqui?

Anônimo disse...

Graças às essas suas narrativas sobre os problemas q vc tem com o Windows ou PC, me tornei usuário de MAC! Muito Obrigado!

Anônimo disse...

Nao parece muito coerente ser assiduo num blog de games para PC tendo um MAC, (depois de comprar, demorei a meter um bootcamp no meu, e me arrependo de ter demorado).

Tenho sim, mas seria so para o meio do mes que vem, (liberando a fatura rs), me viro em comprar em uma das livrarias mesmo (:

Michael Andrade disse...

Aquino, ainda há tempo para comprar esse seu livro autografado?!

C. Aquino disse...

Ainda está valendo sim, Michael! É o último exemplar sobrando que eu achei aqui em casa. Sai por R$35 para qualquer canto do Brasil, com frete incluso (e autografado, é claro)!

Se tiver interesse, entre em contato por [juvenilia ARROBA retinadesgastada.com.br].

Alexandra disse...

Você pode recuperar hd apenas em um centro especializado de recuperação de dados. Mas se seu disco é reconhecido, você pode restaurar os dados pelos programas: https://recoverhdd.com/ https://www.munsoft.com.br/EasyDriveDataRecovery/articles/software_para_recuperar_hd.php
https://www.lifewire.com/free-data-recovery-software-tools-2622893

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