Retina Desgastada
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4 de setembro de 2015

Off-Topic: Elegia Para um Herói

Nem todo mundo pode dizer que conheceu um Herói. Eu posso.

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Tive o prazer de conhecer Joel Rufino dos Santos por intermédio de minha esposa, de quem ele foi professor na Universidade. Era um senhor de fala gentil, sorriso fácil, mas olhar profundo. Em sua trajetória, defendeu as minorias, foi exilado da Ditadura, foi prisioneiro da Ditadura sem nunca ter pego em uma arma, apenas pelas suas palavras e por suas convicções. Historiador, escritor, professor, um homem que foi amigo dos poderosos e também dos fracos.

Em uma de nossas conversas, discutimos sobre o ateísmo, uma visão do universo que compartilhávamos. Assim como eu, ele acreditava que esta é a única vida que temos, que nada regula os Homens, exceto nós mesmos. E por isso devemos fazer o que é certo, por que se o certo não emanar de nós, não irá emanar de lugar algum.

Não vi o herói da democracia nem o defensor dos direitos dos negros em ação. Apenas ouvia falar.

Uma semana atrás, diante de um ato de barbárie, Joel Rufino, agora um senhor de 74 anos de saúde debilitada e ainda mais fragilizado do que quando o conheci, voltou a se transformar naquele gigante do passado. Por que, afinal, nunca o deixara de ser. Uma multidão em Copacabana ameaçava linchar um ladrão, diante do olhar complacente de um Policial Civil. Era a derrocada da civilização com o aval da autoridade legal.

Magro, de cabelos brancos, baixinho, sozinho,  Joel Rufino ergueu sua voz. Um homem que acreditava que esta é a única oportunidade que temos e que não há um Julgamento Superior fez o que achava certo, mesmo diante da fúria fácil da turba.

Joel Rufino faleceu hoje. Seu corpo físico provavelmente já foi cremado no momento em que escrevo isto. Mas suas ideias, aquelas que ele defendeu até literalmente seus últimos dias, estas permanecem. Seu legado estará presente nos seus 50 livros publicados, na memória de parentes e amigos e até mesmo naquela vida que salvou.

Eu conheci um herói.

3 comentários:

Marcos A. S. Almeida disse...

Compartilho da mesma "descrença" e ao contrário do que diz o Sr José Luiz " Dá Pena" não somos desprovidos de sentimentos ou racionalidade, pelo contrário , temos muito mais do que ele.E compartilho a idéia de que temos de ser justos, respeitosos e propagar o bem , simplesmente pelo fato de que fazendo isso eu me sinto bem, uma pessoa melhor, um ser humano com a mente sadia.Não pra salvar minha alma ou algo parecido: é apenas pra ter uma vida harmoniosa e tranquila nessa única oportunidade que temos sobre a terra.E não tomo essas afirmações como uma verdade universal porque cada pessoa têm a sua verdade e seus pensamentos , e eu respeito muito isso. A minha verdade não é a verdade de todos.

Jô do Recanto das Letras disse...

Ler essa crônica sobre o senhor Joel Rufino dos Santos abranda meu coração. Não, não o conheci. Ele escreveu cinquenta livros! E eu peno com alguns inéditos, nada mais... Joel: seja feliz na Eternidade!

Marcos A. S. Almeida disse...

Jô do Recanto das Letras libera pra gente , pô! Se publicar avisa que eu compro! Gosto de ler os "indies" também (pra criticar, claro, mas crítica construtiva).

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