Retina Desgastada
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4 de agosto de 2015

Ele Enfrentou John Romero... E Perdeu

Romero e Murphy

Kevin Murphy nunca tinha jogado Doom até duas semanas atrás. Como representante de uma nova geração de jogadores, ele era jovem demais para conhecer o pai dos FPS na época do seu lançamento. Como um bom representante de uma nova geração de jogadores, ele corrigiu essa falha no currículo, ainda que mais de duas décadas depois.

O que Kevin Murphy não esperava é que ele enfrentaria ninguém menos que John Romero quinze dias depois.

Murphy, o novato, e Romero, o veterano criador do jogo, formaram a primeira e a última dupla a disputarem Doom neste final de semana durante um evento beneficente.

Embates

Quis o destino que Murphy também seja desenvolvedor de jogos na independência e dono de um blog e uma verve à altura da sua desenvoltura no clássico FPS. Sem nunca ter jogado Doom em multiplayer, ainda assim o evento poderia ser uma oportunidade para mostrar seu próprio jogo Sons of Sol. Então, ele documentou o encontro histórico com a lenda viva, que resumo (muito) a seguir:

"Eu vivo em Co.Wicklow, exatamente ao Sul de Dublin na costa leste da Irlanda. Galway é a Meca cultural da Irlanda e fica localizada na costa oeste, então ira ao evento significaria ter que atravessar o país de carro. Na Irlanda, isso contabiliza cerca de duas horas no volante, entretanto.

(...) John e Brenda Romero chegaram na escola no começo da tarde e, enquanto as máquinas estavam sendo configuradas, tiveram uma entrevista com o Hit Start Now.

(...) Seria um torneio 1 vs 1 deathmatch, vitória para o primeiro que atingir 20 execuções, disputado em mapas do Doom 2, com os jogos rodando através do Zandornum.

(...) Primeira partida do torneio: eu vs John Romero.

(...) Então, eu seria derrubado logo no primeiro jogo. Ah, bem. Pelo menos eu teria a chance de jogar contra John. Eu percebi que eu tinha sido bem sortudo, na verdade, uma vez que nesse tipo de torneio de eliminação, nem todo mundo teria essa chance. Eu também iria jogar contra ele em sua primeira partida do dia, então talvez eu conseguisse atingir um par de execuções enquanto ele ainda estava se aquecendo, eu pensei. Dito isso, essa partida também seria minha primeira vez (NA VIDA) que eu jogaria Doom multiplayer, e eu não sabia onde ficavam os segredos e armas de nenhum nível, então eu não tinha muita chance nem nesse sentido. Eu não jogava um título de tiro no estilo arena desde Unreal Tournament 1 que eu lembre. Nem mesmo muito do multiplayer de Call of Duty. Battlefield ou Planetside 2 eram mais o meu estilo para multiplayer, e se você é fã de jogos de tiro, você sabe que isso não é de muita ajuda. A única coisa que eu tinha a meu favor era que eu tinha pelo menos jogado Doom 1 e 2 até o final duas semanas antes, então eu tinha uma ideia precisa do layout dos níveis, ainda que eu não pudesse encontrar as armas que queria neles.

O primeiro mapa, "Entryway", é muito pequeno, plano, fácil de aprender rapidamente, e com muito poucos segredos ou pontos de emboscada. Isso estaria a meu favor... um pouco.

Nós sentamos em nossos computadores, o de John conectado a um projetor de forma que os espectadores reunidos pudessem assistir o profissional em ação. Os servidores foram configurados, carregando o primeiro nível de Doom 2, "Entryway". Enquanto observava a configuração, John fez um comentário: 'Oh, nenhum monstro'. Vendo ali uma oportunidade de intimidar meu oponente, eu apenas disse: 'Espere, John. Tem um chegando'. Pergunte-me se surtiu efeito... não. Mas eu consegui algumas risadas.

(...) Eu dei spawn bem do lado da BFG 9000, a melhor arma do jogo e sorri. Saindo da primeira sala e indo em direção ao corredor que leva à armadura eu avistei o John indo em direção à sala da armadura também e abri fogo. Eu acho que errei. Eu não vou exagerar e fingir que lembro de cada detalhe da partida, mas eu acredito que neste primeiro encontro John correu e me fez desperdiçar meus tiros, então respondeu com um lança-foguete. Nós estávamos presos nos corredores apertados onde qualquer foguete disparado iria, se não acertasse você diretamente, com certeza atingir uma parada e provocar em você uma grande quantidade de dano por impacto de qualquer forma. Minha tática era, se eu tivesse apenas a pistola, correr, e se eu tivesse algo melhor eu iria me aproximar de forma que o John se arriscaria a fazer dano em si mesmo se disparasse um foguete em mim, enquanto eu minaria seus pontos de vida com o rifle de pulso ou a escopeta.

Eu acredito que John conseguiu a primeira morte, mas para minha grande surpresa, eu consegui infligir uma execução ou duas para cada tantas que ele fazia em mim e a multidão exultava (na minha cabeça eles iriam fazer isso de qualquer jeito). Essa simulação de igualdade era em grande parte devida ao nível, eu acho. Em um corredor não há lugar para fugir de um rifle de pulso, foguete ou BFG e todos geram seu dano máximo mas são difíceis de usar à distância ou em espaço aberto. Isso significa que eu fazia quase tanto dano quanto John poderia e fazer isso com quase tanta precisão. (...) A real diferença estava na experiência, entretanto. Muitas vezes eu perseguia John através de uma esquina, apenas para encontrar um perfeitamente sincronizado foguete vindo em minha direção. Essas armadilhas geniais e previsões quase oniscientes são o que separam campeões dos homens comuns. Eu tentei ser menos previsível. Deixar ele escapar quando ele fugia, ou apenas diminuir a distância e seguir atirando quando ele esperava que eu corresse. Não foi o suficiente, mas eu fiquei mais do que feliz com minha performance. O resultado final da minha primeira partida multiplayer de Doom: John Romero 20 - 8 Kevin. Talvez minhas táticas de intimidação tenham realmente surtido efeito.

BFG 9000

Eu nesse momento acreditei que tinha sido eliminado, mas estávamos na verdade disputando um Torneio de Dupla Eliminação. Isso significava que eu estava indo para um grupo de perdedores e ainda jogaria novamente até perder outra vez.

(...) Depois da primeira rodada, algumas pessoas foram embora, incluindo meu oponente para a segunda rodada. Perdendo suas primeiras partidas eu acredito que eles imaginaram (como eu) que estavam fora e foram para casa.

O tempo entre minha primeira partida e minha segunda (na terceira rodada) foi na verdade de cerca de três horas. Eu gastei um bocado desse tempo assistindo no projetor e vendo como John jogava. Não importava o quão complexo e labiríntico era o nível (cada rodada tinha um nível diferente), John sabia exatamente onde ir para encontrar a super-armadura, os itens de cura, a BFG ou o óculos de visão noturna. Eu assistia. E memorizava as localizações o melhor que podia. Afinal de contas, eu estaria jogando em um desses mapas a seguir, com nenhuma ideia se meu oponente seria um novato ou um jogador de Doom hardcore.

(...)

John Romero estava, é claro, ganhando cada partida, embora alguns poucos caras claramente conheciam os mapas muito bem e se saíram muito melhor contra ele do que eu poderia. Meu oponente da quarta rodada também tinha saído mais cedo, então eu avancei por padrão para a semi-final com apenas uma vitória verdadeira na manga.

(...)

Então, eu cheguei na final. Tinha sido um longo dia. Eu tinha disputado apenas três partidas, mas tinha ficado em pé por horas e estava detonado. John havia jogado todas as suas partidas, mas um número de amistosos. Eu brinquei que ele talvez estivesse cansado e que eu teria uma chance. Uma vez que ele já havia me vencido no mapa mais fácil de todos e vencido meu amigo Dan por 20 a 0 (e Dan detona contra pessoas normais, a propósito), todos sabiam que eu não conseguiria. Eu decidi que ficaria feliz com algumas execuções.

Eu expliquei como ter um mapa plano sem lugares para se esconder nivela o jogo e dá ao iniciante uma melhor chance contra o profissional que conhece todos os mapas. John escolheu "Dead Simple" para o nível da final, o que é, outra vez, um mapa plano e simples. A escolha foi provavelmente porque estava ficando tarde e ninguém queria assistir outros 30 minutos de esconde-esconde. Todos estavam reunidos para assistir ação rápida na final. É também um mapa muito justo e simétrico, entretanto, e isso também o tornava uma boa escolha para uma partida final.

Nós apertamos as mãos, nós tomamos nossos assentos e o jogo começou..

Em cerca de três segundos de partida, eu levei um BFG na cara e morri. Eu então ressurgi do lado do BFG e tentei retornar o favor. Porém John recusou minha generosidade e ofereceu em retorno uma barragem de mísseis. O resultado subiu rapidamente contra mim. O mapa apresenta uma praça central e uma seção por trás de um muralha externa. Se você está no canto de trás do mapa (onde a BFG está, no topo esquerdo superior) você pode avistar seu oponente vindo à distância. Isso torna o rifle de pulso, foguetes ou a BFG mais fáceis de desviar e favorece o seu uso de armas de balas, como a escopeta ou a minigun. Eu me afastei da área central tanto porque você é mais fácil de ser avistado quanto porque eu sabia que não era ali que eu iria achar a BFG. Eu nunca encontrei armaduras no mapa e então, em cada confronto, meus pontos de vida caíam rapidamente.

Mas, no que diz respeito a provocações, nós estávamos os dois no topo da forma. Eu lembro de John dizendo 'bye bye' e disparando uma sucessão de foguetes. Eu desviei deles e me aproximei com uma escopeta dizendo 'não diz adeus se não for pra valer'. Eu ia perder, mas eu ia dar a melhor luta que eu podia antes, papo furado e tudo mais. (...) Eu não ousava levantar meus olhos para olhar para o telão que a plateia estava assistindo, mas muitas vezes eu os escutava gritando para mim, para que eu 'corresse atrás dele' e me dava conta que eu tinha quase matado John, mas ele estava correndo para pegar mais vida e/ou armadura, e eu seguia ele, mas ele desaparecia. Temendo uma emboscada, eu recuava pelo caminho que tinha vindo. Se o John disparava a BFG eu corria ao longo das paredes. Ele atirava à minha frente, esperando fazer dano através das paredes, mas não via que eu tinha recuado e atirado de escopeta nele. Assim foi a partida, mas John estava no topo da forma e eu estava nas últimas. Eu fiquei imensamente satisfeito com o resultado final de 20 a 2. Eu peguei ele com a super escopeta e a BFG, eu acho, e a multidão exultou ao ver Romero morrer, mas em ambos os casos eu fui rapidamente caçado e recebi o troco em dobro.

Romero Wins

Após um carinhoso aperto de mãos e algumas fotos, eu ganhei alguns prêmios. Isso foi inesperado já que eu havia perdido, mas aparentemente o segundo lugar era considerado o 'vencedor que não é John Romero'.

(...)

Por último, muito obrigado a John Romero pelo seu tempo no evento e por uma aula sobre como um Deathmatch é, foi e deveria continuar sendo para sempre. Tendo visto agora tanto o lado single quanto o multiplayer de Doom, eu posso ver por que ele se tornou o fenômeno instantâneo que foi lá em 1993 e por que sua popularidade tem persistido até os dias de hoje com uma miríade de imitações pálidas de Doom, o original e melhor!"

Ouvindo: Apoptygma Berzerk - Burnin' Heretic

2 comentários:

Kevin Murphy disse...

Hi. I don't speak Portuguese but I just wanted to say I think it's really cool that you translated my article.

Thanks
Kevin Murphy

Marcos Almeida disse...

Obrigado pela tradução Aquino!Aliás, não só pela tradução mas também por trazer á tona esse mini-evento que passou despercebido pelo grandes portais.Se não fosse a sua iniciativa , nós fãs de Doom ,não saberíamos.
Hoje ele é um ilustre desconhecido, até porque não fez nenhum jogo relevante nessa geração , mas já faz parte da história dos jogos.Portanto, devemos sempre lhe render homenagens, como a desse rapaz, Kevin. Parabéns a todos os envolvidos.
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Alguém sabe dizer por que o Romero está com as unhas pretas? Heavy-Metal? Satanismo?Gótico? Luto?

Retina Desgastada

Blog criado e mantido por C. Aquino

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