O foco do Retina Desgastada são jogos para PC. Mas desde 2013 meu filho ganhou um Tablet Android classe econômica que está durando muito mais e sendo muito mais útil do que eu poderia imaginar. Minha reação inicial quando minha esposa comprou o "brinquedo" sem me consultar foi: "qual é a necessidade disso?". Depois imaginei que o aparelho se espatifaria no chão em algumas semanas ou fosse deixado de lado no mesmo tempo. Total engano em todas as pré-concepções.
Como o dispositivo não é meu, tem muito mais jogos para meu filho instalados (que eu eventualmente jogo) e sempre apenas um jogo para mim (que o garoto eventualmente joga). A bola da vez foi Organ Trail, que também está disponível para PC, então vale a análise.
O título de sobrevivência estratégica acerta exatamente em velhas queixas que eu tinha sobre jogos casuais: primeiro, ele não exige gráficos poderosos, resgatando aquele visual DOS do início dos anos 90, que não sobrecarrega os limites tecnológicos da plataforma e nem ocupa muito espaço na parca memória. Segundo, ele pode ser jogado com tranquilidade sem precisar ter dedos de um prestidigitador. Organ Trail é um título que pede interações ponderadas e confia mais na sua capacidade de pensar do que na agilidade, podendo, inclusive, ser largado a qualquer momento que depois ele recomeça do mesmo ponto. Finalmente, Organ Trail não se rende ao modelo das microtransações, um caminho que poderia ter seguido com facilidade pela desenvolvedora The Men Who Wear Many Hats, já que há muitas brechas onde um pague-para-receber-recursos se encaixaria.
Como o nome entrega, Organ Trail é uma justa homenagem ao clássico The Oregon Trail. No original, você atravessava o Oeste Selvagem norte-americano enquanto era castigado por toda sorte de evento aleatório e precisava administrar seus recursos e seu time para chegar vivo ao destino. No jogo moderno, você atravessa um Estados Unidos da América assolado por uma epidemia de zumbis enquanto todo tipo de azar maldito inferniza sua vida e tenta te matar. É um título ora cruel, ora cômico, onde a sobrevivência está sempre por um fio.
Na maior parte do tempo, você trafega por estradas enquanto acontecimentos totalmente arbitrários vão minando o que você conseguiu juntar. Ladrões roubam suas coisas, seus companheiros de aventura ficam doentes, você perde o caminho, seu veículo se deteriora, a comida acaba, um estouro de animais-zumbi quase põe tudo a perder. Em pontos estratégicos você pode negociar itens, curar membros da equipe ou se arriscar em missões de coleta, em áreas repletas de infectados.
Nesse ponto da coleta reside a principal diferença entre as versões PC e Android. Pelo o que eu li, mirar para acertar um zumbi usando o mouse e muito mais fácil de fazer do que usando uma interface de toque. Em contrapartida, o ideal é evitar confronto, então o defeito da versão móvel pode ser relevado até o final do jogo. Infelizmente, o final vai te cobrar precisão nos tiros e muito sangue-frio, ignorando o trabalho de administração de recursos que você veio fazendo até então. Não venci o jogo por causa dessa decisão controversa de design.
No modo de dificuldade normal, Organ Trail é brutal. Frustração é o nome do jogo, onde um bom trabalho pode ser rapidamente destruído por um evento aleatório segundos depois. Este capricho da sorte (ou azar) aproxima o título do exercício de irritação que foi Zafehouse Diaries, com a vantagem de que aqui os mecanismos estão mais claros e você consegue enxergar o que poderia ter sido feito para escapar da sua sina. No modo fácil, aos trancos e barrancos, cheguei ao final da jornada (para ser trucidado na última sequência). Uma dica: sempre, sempre saia em missões de Scavenge quando a densidade de zumbis for Low (Baixa).
A trilha sonora segura a tensão do jogo sem perder a atmosfera retrô e está sendo vendido mais caro do que o próprio jogo no Steam. Na verdade, a mesma trilha pode ser baixada de graça no site oficial.
Apesar do espectro de opções, Organ Trail se torna repetitivo rápido. Após quatro tentativas, senti que não poderia mais jogar novamente. Há também um modo sem fim, onde você acumula pontos que podem ser usados para desbloquear habilidades e um modo sem sentido onde você apenas atropela zumbis.
Eu só queria que me explicassem como é possível alguém "sentar tão forte" que estraga munição dentro do carro...
Um comentário:
A primeira vez que vi esse jogo eu me impressionei com a diversão (e dificuldade) do jogo. Se no Easy é difícil pra burro terminar imagina tentar a sorte no Hard ou Impossible. Mas nem a pau. Zerei o jogo (depois de mais de 30 tentativas fracassadas) e desintalei. Muito bom, mas haja paciência pra ganhar. Mas valeu cada stress e xingamento.
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