Retina Desgastada
Idéias, opiniões e murmúrios sobre os jogos eletrônicos
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7 de fevereiro de 2015

Jogando: Firefall

Firefall 01

Como um jogador de Schrodinger, gostei e não gostei de Firefall, um MMORPG que tenta ao mesmo tempo romper com determinadas tradições do gênero enquanto cai nas armadilhas que outros já pularam.

Esclareço de imediato que só joguei 4 horas, em quatro seções distintas e sempre com meu filho empolgadíssimo do meu lado sem parar de falar ou apertar o botão de pulo por um minuto inteiro. Em contrapartida, uma hora de ArcheAge já foi determinante para saber que o jogo não me queria por lá e na primeira hora de Guild Wars 2 eu já sabia que aquele era um mundo onde eu queria passar muito mais tempo.

Considero esses primeiros momentos muito relevantes para me cativar, embora as desenvolvedoras sempre se preocupem mais com o chamado conteúdo final, o ending game para personagens semi-deuses de altíssimo nível. A primeira hora de Star Wars: The Old Republic teria sido fatal para minha avaliação do jogo, se não fosse a cenoura da da franquia na ponta da varinha me impulsionando a seguir em frente. Já o finado Warhammer Online era misterioso e sombrio o bastante para atiçar a curiosidade.

Nas primeiras quatro horas de Firefall matei aranhas, aranhas e mais aranhas. Eventualmente alienígenas armados. Mas, basicamente, aranhas.

O lore do jogo é despejado sobre minha cabeça aos borbotões, em diálogos rápidos demais. Sei apenas que estou em Copacabana, mas não tem praias por aqui, nem vendedores de Mate Leão ou as famosas pedras portuguesas. Mas existem cogumelos gigantes, um nave colossal caída no oceano e um horizonte a perder de vista, sinais de um dos mais bonitos jogos que já experimentei. Os gráficos são mesmo deslumbrantes. Pena que eu não sei direito o que estou fazendo aqui.

Firefall 02Firefall 05Firefall 06

Na primeira hora, acontece um tipo de tutorial, onde o jogo te puxa pela mão e mostra uma penca de coisas legais de uma vez só: os jetpacks, os gliders, os tiroteios nervosos, as motocicletas futuristas de Akira. Ainda sonso com tudo aquilo, você é largado no cenário e agora é bola pra frente. As missões disponíveis a seguir envolvem matar aranhas, muitas aranhas, "aranhas" mesmo em bom Português porque estamos em Copacabana, não podemos esquecer.

Firefall não tem classes como conhecemos. Existem battleframes, ou tipos de armadura adequadas para cada função e você pode trocar a qualquer hora nas bases. Basicamente, você pode trocar de classe ao seu bel-prazer até encontrar uma que se adeque ao seu modo de jogar. A evolução de nível é exclusiva para cada battleframe. Comecei com Assault, troquei para Engineer e não tenho o que reclamar de nenhuma das duas. Exceto talvez as habilidades que pouco acrescentam ao combate.

Firefall também não parece ter um mercado como conhecemos. Existem pelo menos quatro tipos diferentes de moedas, para diferentes lojas. Embora seja um jogo F2P com microtransações, o uso de dinheiro real não é imposto aos jogadores e os itens que você pode comprar com grana ou são cosméticos ou são coisas que você mesmo pode fabricar ou adquirir de outras formas. Demorei horas para descobrir que é possível e até incentivado montar seu próprio equipamento. Mas trocaria facilmente todas essas lojas e crafting por um bom e velho modelo de loot-vender-comprar. Como é um jogo de ficção-científica, todo o jargão é adaptado para o futuro, então, crafting é "impressão em 3d", "quests" são "jobs" literalmente publicados em um quadro de avisos.

Uma missão envolve você ter que andar dezenas de metros até um sujeito que exige conversar olho no olho mesmo nessa época, depois andar centenas de metros até outro lugar, matar X aranhas, andar centenas de metros até outro ponto, matar X aranhas, andar centenas de metros até um terceiro marcador, matar X aranhas, voltar tudo para falar com o primeiro cara. Enquanto isso você faz isso, o operador de áudio não para um segundo de falar no seu ouvido e você não sabe se lê aquela historinha (se o seu inglês não for bom para tirar de ouvido) ou se concentra nas lutas.

Firefall 07

Há um risco real de sua munição acabar no meio do combate, a menos que tenha um ponto de munição por perto (nem sempre tem) ou você tenha fabricado antes de sair por aí. Sua arma primária tem um tiro secundário, que é inútil. Sua arma secundária também tem dois modos de tiro, ambos inúteis. Se você precisa usar sua arma secundária, é melhor encomendar o caixão. O que é uma pena, porque eu achei a maioria das armas secundárias bem mais interessante que as primárias até agora: escopetas, metralhadoras e até lança-granadas, enquanto a primária é aquele clichê futurista de pew-pew-pew.

A ação é acelerada, similar a um FPS. Até porque é possível mudar o campo de visão para primeira pessoa. As habilidades exercem pouca influência durante a luta, então atire e esquive (ou pule) e você estará com a vitória em mãos. É um daqueles raros MMOs onde você não precisa ficar o tempo todo de olho no cooldown dos poderes. Só na munição mesmo. Em contrapartida, você sacrifica o aspecto tático dos tiroteios e não há animações sensacionais que façam você se sentir um exterminador de vilões.

Firefall 03

Então, o que é legal em Firefall? O cenário. É uma versão sci-fi do saudoso Morrowind, com plantas exóticas, artrópodes gigantes, grandes colinas e uma água plácida. Dá muito gosto sair para explorar, principalmente com o uso do jetpack e seus pulos turbinados. Ao contrário de tantos outros MMOs, a paisagem não está infestada de monstros randômicos, então o passeio é seguro na maior parte do tempo. Meu filho adora escalar montanhas e ver quão alto podemos chegar. Firefall tem consciência disso e seu mapa privilegia bastante os espaços verticais.

Completei todas as missões de Copacabana e não faço a menor ideia de onde poderei ir agora para seguir o fluxo normal do jogo. Mas pelo menos estou livre agora para sumir na distância, talvez encontrar a glória, talvez encontrar outro assentamento humano. Talvez encontrar a morte. Talvez encontrar a desinstalação. Tudo é possível em Firefall.

Ouvindo: Sonic Youth - Wish Fulfillment

5 comentários:

Susej Menegroth disse...

Firefall já teve uma proposta de história bacana. Pena que tudo foi meio deixado de lado.
Vou tentar resumir o que sei, caso alguém tenha interesse.

[SPOILER]
Um meteoro foi avistado e, segundo cálculos, foi dito que o meteoro não se chocaria com a Terra. Os cálculos estavam errados e houve um impacto. Os cálculos estavam errados porque o meteoro estava cheio de uma substância com propriedades únicas, o Crystite. Uma delas era distorcer a gravidade (?), o que causou o erro de cálculo.

Enquanto o meteoro causou destruição generalizada, o novo recurso forneceu uma fonte de energia limpa quase ilimitada, o que causou uma nova "renascença". Mas o Crystite era finito e, como a sociedade já dependia completamente do cristal, foram lançadas várias sondas exploratórias aos sistemas estelares vizinhos em busca de mais.

E foi encontrado em Alpha Centauri um planeta cheio de crystite. Logo uma colônia foi formada e nomeada Alpha Prime. A viagem de ida e volta das naves cargueiras cheias de crystite demorava 18 anos e a demanda por crystite na Terra apenas crescia. E não apenas isso, a colônia estava no início de movimento de independência da Terra.
Para evitar que a situação se deteriorasse, a Terra ordenou a construção da maior nave de batalha já construída pela humanidade. A velha tática do Shock and Awe. A nave também tinha implementada a novíssima tecnologia de Arcfolding. Basicamente a capacidade de abrir buracos de minhoca e viajar distâncias impossíveis instantâneamente. No vôo inaugural da Arclight, isso aconteceu:
https://www.youtube.com/watch?v=MaujOsKDS6o

Capitão Nostromo jogou a nave em Fortaleza, cidade onde estavam sua esposa grávida e seu filho, para evitar ainda mais mortes. Os tripulantes da nave sobreviveram, em sua maior parte, mas a cidade foi totalmente devastada.

Mas ainda pior, por um motivo ainda não explicado, a falha no Arcfold trouxe o Melding, que infectou o planeta em questão de minutos. O único lugar a sobreviver ao melding, no começo do jogo, foi a área onde a Arclight caiu. Seus "Arcfold drives", que ainda estavam ativos, de alguma forma impedem que o melding avance. Desde então a tecnologia foi refinada em Melding Repulsors, que permite aos humanos reconquistar, aos poucos, partes do planeta. Então, a Copacabana de Firefall fica em Fortaleza. Segundo li muito tempo atrás no fórums, a "cidade" recriada ali tem este nome com a intenção de acalmar a população com um nome mais conhecido. O que sempre imaginei como desculpa para esconder que, provavelmente, este era o único nome de cidade brasileiras que os desenvolvedores conheciam e foi esse mesmo.

E o melding, que ninguém sabe exatamente o que é, corrompe ou mata todas as formas de vida que toca. Os Chosen não são exatamente alienígenas, mas humanos corrompidos pelo Melding. O mesmo se diz dos animais. A maioria que sobreviveu eram de zoológicos da fauna trazida de Alpha Prime e corrompida pelo Melding.
[/SPOILER]

Quanto ao que fazer e pra onde ir, Aquino, você verá uma quest dourada no Job Board de Copacabana marcada como "Priority Mission" que te leverá para a próxima base, assim que atingir o nível necessário.

Sobre as armas, o secundário do plasma cannon pode ser bem útil se usado bem de perto. Praticamente letal. O mesmo vale para habilidades. Mas não se deixe impressionar pelos battleframes básicos. Eles são feitos para ser ruins mesmo. Assim ou você joga bastante para comprar licensas pra usar os battleframes avançados ou os compra com dinheiro real.

Recomendo que invista num Firecat. É mil vezes melhor que o Assault e como suas armas e habilidade são quase todas AoE, mesmo com bastante lag, você quase sempre acerta alguma coisa.

Ou, se gostou do engineer, pode também investir num Bastion. É só jogar turrets pra todo lado e ficar jogando granadas de longe.

Michel Oliveira disse...

Enquanto isso estou começando Guild Wars 2 e totalmente perdido depois do level 15.

Sério mesmo que tenho que pegar Level 20 pra continuar a história?

Vamos lá matar bandido então...

C. Aquino disse...

Valeu pelas dicas Susej. E é impressionante como nada do que você contou sobre a história aparece no jogo... Se eu entendi certo, então eu estou no que seria o Nordeste brasileiro, em um assentamento batizado de Copacabana?

Michel, meu filho, Guild Wars 2 é para apreciar com calma, sair por aí, pegando umas quests no caminho, matando monstros, caindo de para-quedas em eventos e, eventualmente, voltar para continuar a história pessoal. Bem, funcionou comigo! E mate bastante bandidos porque eu odeio aquela corja e seus coquetéis Molotov do Inferno!

Susej Menegroth disse...

Exatamente isso, Aquino. Se você apertar M para trazer o mapa e der um click com o botão direito do mouse, você verá o mapa mundial. O Melding atrapalha um pouco a visão, mas dá pra perceber a posição das áreas jogáveis em relação ao mapa mundial.

E é triste mesmo. O development hell do jogo deixou a história completamente bagunçada. A Red5 espera que cada jogador novo encontre e leia os mangás e a timeline do jogo por si próprios. Isso quando nem a própria empresa torna a existência dessas coisas conhecida ou acessível a todos. Eu mesmo só conheço por que, quando foram lançadas há anos atrás, foram bem marketeadas. E agora estão completamente esquecidas e quase enterradas. Recomendo a leitura. Não porque fará alguma diferença no seu gameplay agora. Mas para ter idéia do que o jogo poderia ter sido caso continuasse com essa história mais densa, adulta.

Mangá: http://www.firefall.com/en/manga

Timeline: http://www.firefall.com/timeline/21778-the-golden-age

Essa timeline é bem interessante em seu formato. E feita como uma colagem de artigos publicados em anos e meses diferentes desde antes do Firefall, que foi o impacto do cometa cheio de crystite no planeta, e não a chegada do melding, até os "dias atuais".

Michel Oliveira disse...

Essa coisa da timeline desse jogo me lembrou World of Warcraft.

Todo mundo fala da lore linda do jogo, mas ninguém diz que ela está escondida nos três primeiros jogos - que eram RTS. - e em dezenas de livros. No jogo mesmo não tem nada, só um bando de NPCs idiotas te dando o mesmo tipo de quest "mate X bichos" e derivados.

E sim, acredito que fui suficientemente longe no WoW pra dizer que o jogo não tem história nenhuma.

Retina Desgastada

Blog criado e mantido por C. Aquino

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