Retina Desgastada
Idéias, opiniões e murmúrios sobre os jogos eletrônicos
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12 de dezembro de 2014

A Força Foi Dormir

The Old Republic 130

Empolgado pelo hype do primeiro trailer de The Force Awakens e saindo de uma longa jornada em Guild Wars 2, a escolha mais óbvia para ser meu próximo MMORPG caiu em cima de Star Wars: The Old Republic, ou TOR, para os íntimos.

O colossal título criado pela EA para desbancar o World of Warcraft da rival Activision gastou uma fortuna absurda para ser produzido, custou a cabeça de um CEO, não emplacou como deveria e se tornou (parcialmente) F2P. Os prognósticos não eram bons, mas entrei de cabeça, baseado no poder da franquia, na nostalgia da marca The Old Republic e no talento da Bioware.

E TOR não corresponde a nenhum deles.

Utilizando um motor gráfico que consegue ser visualmente inferior ao adotado anos atrás nos dois títulos da franquia Knights of the Old Republic, o MMO da Bioware opta por seguir a cartilha de design do antigo World of Warcraft, com ênfase no aspecto mais cartunesco do universo do que em uma busca por um realismo. No lugar da estética suja e pé no chão sabiamente escolhida por George Lucas, temos aqui cores vibrantes, cantos arredondados e rostos que são quase caricaturais. A "disneyficação" do universo Star Wars temida por tantos aparece justamente aqui, longe do comando direto dos advogados do Mickey.

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O sistema de combate é engessado no velho molde de clicar no inimigo e apertar os números dos poderes, onde você passa mais tempo observando o cooldown das habilidades do que efetivamente olhando a luta. Com o agravante de que o sistema de auto-mira é falho e obriga você a constantemente selecionar o oponente certo para enfrentar. Não é incomum também encontrar adversários derrotados que permanecem de pé, imobilizados para sempre em sua última pose e que não caem como os outros. Se serve de algum consolo, as lutas não são nem insanamente difíceis nem estupidamente fáceis e ouvir o som dos sabres de luz e dos lasers é sempre divertido.

The Old Republic 63

A Bioware tentou com todas as suas forças criar um MMORPG que se pareça com um RPG comum e se percebe esse esforço nos diálogos das missões e na história que se desenrola, mais refinados que a média por aí. É possível até se deixar enganar por um tempo, abstrair daquele exército de jogadores pulando de um lado para o outro e se imaginar dentro de um mítico KOTOR 3. Mas a ilusão é quebrada com momentos como aquele onde um policial da República acredita que seu time está perdido, porque os criminosos já mataram seis de seus homens e você intimamente pensa: "mas eu já matei mais de 50 desses bandidos sozinho, do que esse cara está falando?".

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Para dar crédito à Bioware, existem missões que não envolvem matar dezenas de oponentes iguais e podem ser resolvidas com decisões ou conversa. Eu ri alto quando usei o famoso truque mental Jedi para convencer um chefão do crime do tamanho de um armário a se entregar pacificamente. Em outros pontos, você pode decidir dilemas morais, flertar ou mesmo ser um potencial Jedi do lado negro.

Mas estes momentos estão perdidos em longas caminhadas por cenários gigantescos, desprovidos de pontos de interesse, e pela costumeira carnificina repetitiva de legiões de inimigos idênticos. O lore se torna a única mola propulsora depois de um tempo.

Distúrbio na Força

Para um jogo do porte de TOR, com centenas de milhões de dólares investidos, é indesculpável a quantidade de bugs presentes. São objetos e personagens que não carregam, lag em locais despovoados, animações quebradas, câmera extremamente sensível (mesmo com a sensibilidade do mouse ajustada para 0.6 de 100).

Mas o golpe de misericórdia que atravessou meu cansado coração nerd foi uma falha completa de atualização que tornou o jogo impossível de carregar.

Como todo MMO que se preze, TOR verifica em seu servidor se há atualizações. Havendo, ele as baixa antes mesmo de você poder jogar. No último final de semana, o processo de atualização travou e o jogo ficou horas sem funcionar. Mas funcionou. Cheguei a Coruscant, explorei os meandros políticos da cidade e sua bandidagem (matei uns 200).

Entretanto, ontem, o mesmo problema apareceu e não desencantou. Segui todas as orientações possíveis de todos os fóruns: apaguei pastas, baixei uma ferramenta oficial de correção, reiniciei o computador, repeti todos os passos em diferentes ordens, tentei reinstalar o jogo por cima da instalação anterior... Em um último e desesperado gesto, apaguei a instalação anterior e me propus a baixar os 25Gb de arquivos todos de novo. Deixei a máquina ocupada com esta tarefa madrugada adentro.

De manhã, a barra de progresso não havia avançado um único milímetro. Fechei. Reiniciei. Umas quatro vezes. Nada. Esperei. Fui paciente. Me deixei levar pela fúria.

Nos fóruns, jogadores com situações similares, em diferentes anos, vagando no limbo sem solução. Alguns deles eram assinantes. Duvido que voltem a confiar na EA.

Com a terrível conclusão de que Star Wars: The Old Republic não valia meu esforço, aceitei a verdade. E me despedi outra vez do universo mágico da série, outra vez frustrado.

Não me decepcione, J. J. Abrams.

The Old Republic 174

Ouvindo: No Doubt - Tragic Kingdom

6 comentários:

Michel Oliveira disse...

Pena que você não terminou a parte de Coruscant. Depois disso você ganha uma nave pra vagar livremente pela galáxia e reunir seus companions, como um Comandante Shepard com sabre de luz.

Aliás, a história me lembra muito Mass Effect em alguns pontos.

P.S: Você por ir para Taris(acho ser esse o nome do primeiro planeta em KOTOR) E você vê como ele ficou 300 anos depois dos acontecimentos do jogo - sim, TOR é praticamente KOTOR 3, mas com trolls.

estacado disse...

Testei esse jogo ano passa. Faço suas palavras a minha. Achei o jogo muito engessado e parado no tempo dos mmo´s. Achei tudo muito colorido e repetitivo. Não pensou em testar TESO? Posso te emprestar uma conta minha meio abandonada. Só precisa pagar uma mensalidade. Neverwinter esta free no Steam tb, vale o teste pois é um bom jogo, movimentação dele é melhor que eu já joguei. - pena que é muito p2w.

Michael Andrade disse...

Este comentário foi removido pelo autor.

Michael Andrade disse...

Ótimo texto como sempre, Aquino. No final dele me veio à mente sobre a existência de uma página sua no facebook. Não há, certo? Nunca pensou em montá-la? Tenho certeza de que o número de leitores aumentaria muito porque a qualidade de seus textos é indiscutível. O que falta apenas é um botão de "compartilhar". Um forte abraço e ótimo fim de ano!

C. Aquino disse...

Michel, se não fosse pelo bug, eu provavelmente continuaria jogando. O poder do lore é muito grande... sinta-se, de certa forma, invejado. E que a Força esteja com você!

Estacado, com tanto jogo free por aí e grana curta, não me vejo pagando mensalidade de MMO nessa vida. Mas Neverwinter está na minha "listinha" de opções, com certeza.

Michael, uma página no Facebook me daria mais dores de cabeça que vantagens... mas tem um botão de compartilhar embaixo do título dos textos! Está pouco visível? Falha minha, então.

Michael Andrade disse...

Aquino, eu realmente não sei como é administrar uma página no Facebook mas provavelmente redigir seus textos para lá acabariam por diminuir as visitas a este blog, não é? E quanto ao botão de compartilhar, eu é que não estava muito atento. Procurava sempre ou no final da página ou na parte de baixo de cada tópico.

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Blog criado e mantido por C. Aquino

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