Existe uma tag aqui no blog chamada "jornalismo marrom". Geralmente ela é aplicada para postagens que abordam a péssima cobertura que a mídia tradicional costuma oferecer sobre o mundo dos jogos eletrônicos. Você conhece a rotina: preconceitos, sensacionalismo e ignorância.
Mas a dita imprensa especializada também carrega sua cota de equívocos, seja no fascínio histérico por rumores ou por suas suspeitas ligações com a própria indústria.
Em um novo episódio, relações íntimas (até demais) entre jornalistas e desenvolvedores independentes serviram de estopim para um conflito que parece estar longe de acabar. Ofensas foram trocadas de ambas as partes e os dois lados perderam completamente a razão. Temas que não tinham qualquer relação com o caso subiram das profundezas mais sórdidas e apareceram na superfície: misoginia, paranoia, ameaças, ataques ad hominem, homofobia.
Se você toma partido de um lado, você é pior que Hitler. Se você toma partido do outro lado, você é o Capeta. Entrar na discussão é pedir para ser agredido. O Katamari ficou imenso e ainda não parou de girar.
Os "gamers" foram todos colocados debaixo do mesmo rótulo e declarados mortos. Inclusive por mim. Não vou negar. Aquele tipo de jogador é mesmo uma espécie em extinção.
Mas utilizar o genocídio gamer como desculpa para encobrir os próprios erros? Jamais deveria ser feito. É uma atitude leviana e covarde.
Com a função de cobrir um setor da indústria que só cresce, ano após ano, e tem o potencial de se tornar um grande motor cultural, o jornalismo de jogos precisa colocar a mão na consciência e reavaliar o seu papel.
Não pode ser uma forma de divulgar o trabalho dos camaradas. Não pode ser um repassador de press-releases. Não pode viver de boatos e iscas de cliques. Não pode omitir fatos. Não pode defender a ideia de que os fins justificam os meios. Não pode sufocar o diálogo com seus leitores. Não pode trocar favores. Nada disso seria jornalismo. Seria espetáculo.
A desejada objetividade jornalística é um mito, certamente. Mas não a transparência. Não a honestidade.
Não é possível que uma guerra inflamada pelo ego e a fúria de uma minoria termine manchando a reputação de uma profissão com séculos de existência. É hora do jornalista de jogos amadurecer, assim como seu público, mirar nos grandes exemplos do passado, bater no peito e dizer: "Sou jornalista. De jogos, de política, de esportes, do que for. Sou Jornalista. Meu tema não é brinquedo, minha ética também não deve ser".
Leituras recomendadas:
- Gaming Journalism Is Over (em inglês)
- GamerGate: A Closer Look At The Controversy Sweeping Video Games (em inglês)
- To fair-minded proponents of #GamerGate (em inglês)
- Sobre amizades, ética e corrupção do jornalismo de jogos (raríssimo texto em Português coerente)
- Apatia (outra alternativa em Português)
Um comentário:
o tratamento que publicações como a Edge Brasil recebem no país é um forte indício de que talvez nem o próprio público gamer desse país esteja preparado pra lidar com o tema cultura de jogos com a maturidade necessária.
Postar um comentário