Retina Desgastada
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7 de agosto de 2014

Jogando: Minecraft (Conclusão)

Se passaram exatos cinco meses desde minha análise inicial de Minecraft. Neste período, não houve uma semana em que meu filho e eu não nos aventurássemos pela folha branca oferecida por Notch e a Mojang.

Neste meio tempo, foram dezenas (centenas?) de horas gastas basicamente em explorações. O horizonte é ilimitado e o motor matemático do jogo gera paisagens aleatórias que precisam ser descobertas, que pedem para serem descobertas.

mapa

A Muralha

A Muralha cobre todo o território de Steve. Circunda o viveiro das ovelhas, o chiqueiro dos porcos, o estábulo dos cavalos e o cercado das vacas. Se funde com a montanha em um dos lados, envolve o lago, a plantação de abóboras e passa por cima da entrada da mina principal. Tem três blocos de altura, seis em alguns pontos. Levou dias para ser construída, com pedras removidas de uma das montanhas, agora rasgada como por uma faca titânica.

Há tochas a cada dez blocos no topo da muralha. Há tochas em cada espaço possível no que Steve chama de seu Reino. Na Escuridão, vem os monstros, ele sabe. Para isso, existe a Muralha. Para isso, existem as tochas. Steve não precisa mais dormir durante a noite, se ele não quiser.

Mas a vastidão lá fora é convidativa. Em nome da segurança, Steve abandonou a liberdade.

Desbravadores

Era óbvio que Steve não se daria por satisfeito em construir sua fortaleza. Havia um mundo para ser conhecido e ele começou a explorá-lo.

Minecraft - My Screenshot 54

Para marcar o caminho de volta, construiu marcos. Cada um deles, uma imensa seta de pedra, terra ou madeira apontada para a direção do seu lar. Com tochas. Para afastar monstros. E para brilhar na escuridão.

Mais de uma vez, Steve encontrou-se perdido. Mais de uma vez, um marco iluminado na distância serviu-lhe de guia.

Minecraft - My Screenshot 53

A cada dois marcos, Steve fazia um abrigo. Uma obra simples, pouco mais do que uma toca escavada com uma cama dentro, uma tocha e uma porta na frente. Às vezes, com uma cerca para amarrar o cavalo do lado de fora ou uma fornalha dentro para cozinhar ou derreter metais. Eram o seu lar fora do lar.

Steve caminhou para o Leste, Oeste, Sul e Norte. Quilômetros e quilômetros. Cruzou mares, desbravou terras geladas, desertos inóspitos, florestas densas, pântanos traiçoeiros. Encontrou vilas. Batizou três delas e também ergueu ali muralhas e postes de luz. Minerou, plantou, fez amigos.

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Mas sempre voltava para seu Reino. Uma viagem poderia demorar mais de um dia para ser concluída.

Expedições

Inicialmente, cada jornada tinha o intuito simples de conhecer o mundo. Capturar memórias.

Então, veio o zoológico. Ele não sabe muito bem como essa ideia começou. Mas tinha algo a ver com os animais novos que ele estava encontrando, em lugares distantes e exóticos. Para não precisar ir tão longe para vê-los, resolveu trazê-los para seu Reino.

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E ampliou a Muralha.

E ergueu mais tochas.

E construiu um lugar para cada animal.

Nada disso seria possível sem as Pokebolas, ele sabia. Elas pareciam tão estranhas comparadas com as leis que regiam o resto do mundo... mas cumpriam sua função: capturar animais, não mais memórias.

O Livro do Teleporte também foi fundamental em sua nova meta. A viagem de ida poderia ser longa, mas a volta sempre era instantânea.

A ironia do zoológico é que agora ele precisava ir para lugares cada vez mais afastados para conseguir ver novos animais, para poder capturá-los e colocá-los aprisionados onde ele não teria mais que viajar tão longe.

Novos marcos, novos abrigos, novas jornadas, cada vez mais longínquas. Ele as batizou de expedições.

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O Fim?

Encontrou leões, pinguins, gorilas, novas vilas, novos monstros, girafas, ursos, sapos, animais do ar e do mar.

Encontrou também dinossauros e gastou um tempo monstruoso para construir jaulas capazes de conter tais bestas.

Mas Steve, em seu íntimo, sabia que o ciclo não poderia ser infinito. Novos animais existiam lá fora, mas encontrá-los exigia cada vez mais tempo e sorte do que ele estava disposto a gastar.

As Lendas falavam de um Dragão, que vivia em um lugar que era o Fim. Para enfrentá-lo, somente o mais bravo e bem-equipado dos guerreiros.

Steve não se considerava um guerreiro. Recusava essa alcunha. Entretanto...

Sua armadura era do mais resistente dos elementos. Repleta de encantamentos dos pés às cabeças. Sua espada não era diferente. Havia tempo que os monstros naturais não o assustavam mais e não representavam ameaças.

Ele estava pronto para o Dragão, sabia disso.

Elaborou um detalhado plano de como chegar nas terras da criatura, de como capturá-la, trazê-la para uma situação desvantajosa e matá-la. Planos que falharam no primeiro confronto.

Steve não se considerava um guerreiro. Mas era. O Dragão não conseguiu matá-lo.

Steve ouviu uma voz no fundo de sua mente e descobriu a forma de destruir o monstro, mesmo no Fim. Era simples e genial. Tudo o que ele precisava  fazer era aquilo que tinha feito deste que se entendia como ser: improvisar, construir, destruir.

E ele matou o Dragão.

E ele leu a mensagem dos Deuses. Compreendeu qual era sua Natureza e qual era a Ordem das Coisas e do Universo.

Steve estava contente. Seguro e livre.

Emergência

Na ausência de um enredo, o jogador de Minecraft constrói. Constrói um Reino. Muralhas. Tochas. Marcos. Abrigos. Um zoológico. Uma jornada.

Sua.

Única.

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Ouvindo: Radiohead - In Limbo

5 comentários:

fmrbass disse...

Sensacional o texto, consegue transformar uma aventura em pixels em um mundo de fantasia. É um dom pra poucos. Pouquíssimos, eu diria.

parabéns

LocoRoco disse...

Parabéns! Para ti e teu filho.

Gledson A. disse...

Perfeito.

Luis Felipe Vitte Soligueti disse...

Esse foi o melhor texto de Minecraft que eu já vi, me deu até vontade de voltar a jogar - coisa que eu não sinto a dois anos, desde que parei de jogar por ter ficado entediado -. Ótimo texto, assim como sempre são os textos do seu blog.

Anônimo disse...

caracas! não faço ideia como cheguei no seu blog... cai nesse texto.. curti muito! nunca joguei esse jogo mas com essa descrição... deu vontade!!!! Vida longa!

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Blog criado e mantido por C. Aquino

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