Retina Desgastada
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10 de maio de 2014

Jogando: The Walking Dead

Toda vez que escuto sirenes. Toda vez que fico preso no engarrafamento. Um segundo antes de abrir a página do jornal online pela manhã. Toda vez que saio de um prédio depois de um longo tempo e passo por corredores escuros.

Eu penso: "e se for agora?".

Pode parecer bobagem, mas minha mente sempre divaga para o apocalipse zumbi, essa grande metáfora para o caos desenfreado e o colapso da civilização (entre outras metáforas). Aquele momento em que tudo que tomamos como certo é jogado fora pela ação de forças externas insuperáveis.

E The Walking Dead começa com sirenes. Com helicópteros sobrevoando a estrada. Com algo estranho cruzando o caminho do carro... "é agora, está acontecendo".

The Walking DeadMas o tema dos mortos-vivos já foi destilado centenas de vezes na cultura popular, a ponto de ter se tornado uma desculpa vulgar para inimigos de IA apática ou um substituto para um enredo. Seria possível, após metade de uma vida perseguindo essas criaturas, eu ainda ser capaz de me surpreender?

The Walking Dead, da Telltale Games, é a resposta. E a resposta é "sim".

Antes de prosseguir nessa análise preliminar, uma vez que fechei apenas os dois primeiros episódios da primeira temporada, vou logo comentar sobre o esqueleto no meio da sala: The Walking Dead merece o uso do termo "jogo" um pouco mais do que To The Moon, mas irá irritar profundamente quem espera interatividade de sua experiência.

Supostamente, a trama se desenlaça baseada em suas escolhas, mas todo mundo que jogou a trilogia Mass Effect sabe o que isso significa na verdade: há um enredo central e você pode influenciar somente nos detalhes. Se estas engrenagens ficarem muito expostas, você perde imersão. Se ficarem muito escondidas, você não tem qualquer sensação de estar fazendo a diferença. The Walking Dead chega a informar na tela as consequências dos seus atos, mas eu preferi desativar essa função. O resultado é mais fluido.

Entretanto, as escolhas são justamente o seu principal elo de ligação com o jogo, onde você se faz presente. Por que, de resto, é um adventure bem limitado. Eu tenho uma cota de experiências ruins com o gênero, na maioria das vezes porque sou péssimo em adventures. Aqui, não há charadas ou puzzles complexos demais. O nível de desafio é mínimo e mesmo os odiados QTEs (Quick Time Events ou "aperte rápido a tecla XYZ ou você morre") são infinitamente mais tranquilos e esparsos do que em um Indigo Prophecy ou jogo de ação.

The Walking Dead

Há momentos onde você terá que explorar o terreno, como nos adventures tradicionais ou até lutar e se esgueirar, mas 90% do jogo é decidido mesmo na conversa entre os personagens.

E que diálogos! Por que The Walking Dead entrega algumas das melhores interações entre personagens da indústria dos jogos.

Com personagens cuidadosamente construídos, que desafiam classificações e nos fazem pensar e tomar decisões, a Telltale mostrou que captou perfeitamente bem o tom da história em quadrinhos em que se baseia ao mesmo tempo em que emula a estrutura da série de televisão homônima. São três obras distintas, com a mesma atmosfera: em um apocalipse zumbi o ponto central não são as criaturas, mas os vivos e como eles se comportam diante do fim e perante uns aos outros.

Talvez o grande pecado da Telltale seja não utilizar todo o potencial que o meio oferece. Ao simular uma série de televisão (com direito a capítulos, cenas do "próximo episódio" e "temporadas"), perde uma boa oportunidade de ser um jogo "de verdade". Meu apocalipse zumbi perfeito seria um cruzamento da jogabilidade de Dead Island com a o enredo e os personagens de The Walking Dead. O grande triunfo de um é o calcanhar de Aquiles do outro.

Mas tudo isso é perdoável diante de Clementine...

Na trama, controlamos Lee Everett, condenado por um crime que iremos descobrir depois e que no começo do jogo se associa a Clementine, uma doce menininha que sobrevive sozinha em casa enquanto os zumbis rondam. A esta dupla, outros personagens fixos irão se juntar, cada qual com suas metas, suas qualidades e seus defeitos. Ninguém é perfeito, ninguém é 100% desprezível. Compreensão é a chave da vitória, mas a maioria não está disposta a encontrá-la. E nenhum personagem é indispensável, a morte espreita.

The Walking Dead

Se Mass Effect te obriga algumas vezes a tomar decisões difíceis em alguns momentos, se você embarcar na imersão, em The Walking Dead esses momentos acontecem todo o tempo. O apocalipse zumbi é insuportável. Algumas das suas escolhas precisam ser realizadas em meros segundos. Todas vão te atormentar, de um jeito ou de outro.

Talvez por ser um pai, eu esteja jogando de uma forma diferente de quem não é. Talvez quem seja pai de menina jogue de um terceiro jeito. Felizmente, The Walking Dead não te impõe uma rota. Não há pontos artificiais de Karma ou Paragon.

Mas eu sei que posso mergulhar por uma hora, uma hora e meia nesta aventura e nem perceber o tempo passando. Como um bom filme ou bom livro. Ainda que, certamente, não como um jogo propriamente dito. A estrada para minha lista de favoritos está aberta. Há um outro tipo de sirene tocando. "E se for agora?".

Ouvindo: Kill Hannah - Get Famous (New Mix)

8 comentários:

Blacksheepaway disse...

The Walking Dead foi, junto com To The Moon e Half Life 2, as maiores pancadas que eu já tomei de jogos. A cada episódio terminado era como se eu retornasse ao corpo, de tão intensa foi a experiência pra mim. Você vai ter muitas emoções fortes e tristes ainda, Aquino, se prepare.

E a Season 2 segue o mesmo formato, mas as escolhas são muito mais importantes: o final do segundo episodio dela, por exemplo, apesar de realmente não fugir do roteiro pre-determinado, influencia MUITO mais no jogo como um todo. TWD é meu jogo predileto de todos os tempos.

Shadow Geisel disse...

"...mas irá irritar profundamente quem espera interatividade de sua experiência."
foi exatamente isso que me afastou da série. nem passei da demo. acho que ele seria melhor aproveitado se fosse lançado como uma série de animação, em vez de dizer que se trata de um jogo. qual a ideia de lançar uma história interativa que as suas interações não têm impacto no desenrolar dos eventos? a história pode ser boa (não tive vontade de pagar pra ver) e a experiência pode valer a pena, mas empacotar uma novela e vender como jogo é desonestidade com o jogador.

Lucs disse...

Eu joguei com os avisos ativados.
O jogo The Walking Dead te dá a sensação de que as escolhas fazem a diferença sim!
E se fosse uma série de animação a imersão não seria a mesma, você não se sentiria tão na pele do protagonista nem o apocalipse fungando no seu pescoço.

(tanto que recomendo NÃO rejogar fazendo escolhas diferentes,talvez lá no futuro)

Mas o episódio 2 mesmo tão impactante é só o começo...
Nesse ritmo ele vai para a lista de favoritos sim!

Douglas disse...

Joguei os episódios 1 a 5, ou seja a primeira temporada. Como meus hobbies preferidos são games e filmes, com destaque para filmes de suspense e terror, minha nota para esse game não poderia ser menos que 10 pois tem tudo que gosto. O enredo do jogo é tão bom que poderia ser um filme. Estou esperando sair todos os episódios da 2a. temporada para jogar todos em sequencia. Fiz assim com a primeira temporada, em 5 dias joguei os 5 episódios, um por noite. Recomendo.

Vilas Boas disse...

Aí sim!!

Jogão, Jogaço!! listaria aqui mil adjetivos para essa obra prima!

Para os que não tiveram saco, acredito que nem se deram ao trabalho de terminar o 1° episódio, não tem esse que se arriscou e ficou sedento pelo 2° episódio!

E por sinal, desculpe a redundância, o 2° episódio é arrebatador!

Já tinha comentado em algum lugar, não lembro se foi aqui, mas ao fechar a 1° Temporada uma lagrima escorreu, sem vergonha alguma de afirmar, tamanho o envolvimento que tive com o jogo!!

E para os que curtiram a 1° temporada e não se aventuraram na segunda por qualquer motivo, aconselho a esperar (sei que é difícil) e jogar todos os 5 na sequência, é bem melhor!!

Raphael AirnMusic disse...

Joguei no início desse ano a 1a temporada inteira e não consigo perceber, Shadow, onde suas interações não impactam os eventos? Pra mim parece que impactam sim, visto que os personagens q chegam contigo no final podem variar bastante.

Joguei o DLC 400 dias e achei ainda mais fantástico porque, embora sejam várias histórias curtas, cada uma delas te joga no meio de uma coisa inesperada e as decisões que você tem que tomar em pouco tempo me deram vários socos no estômago.

Isaac Moreira disse...

Só um conselho ao jogar: prepare seus lenços. Pois os últimos eps são recheados de momentos que lhe farão suar pelos olhos! kkk

Pra mim, uma das melhores histórias feitas num jogo. O nível de imersão pra mim foi tão profundo que eu não consigo rejogar e fazer escolhas diferentes: O que rolou foi pra valer e suas escolhas, ecoam pra sempre.

Até mesmo na segunda temporada.
E que temporada kkk

Káh' Ribeiro disse...

Eu nem lembro quando joguei esse TWD mas eu conclui a história e joguei o 400 days tbm. Cada coisinha q eu fiz nesse jogo empactou o final pra mim. Ainda não joguei a 2º temp, to curiosa pra saber como está a Clementine.

Aquela parte da fazenda é tensa kkk fiz loucuras lá. Gostei bastante do jogo.

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