Retina Desgastada
Idéias, opiniões e murmúrios sobre os jogos eletrônicos
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5 de janeiro de 2014

(não) Jogando: Serious Sam 2

Serious Sam 03

Há certos jogos que não envelhecem bem. E há certos jogadores que não envelhecem bem. Ainda não sei afirmar com certeza em qual dos dois casos se encaixam Serious Sam 2 e eu.

Logo nos primórdios de minhas descobertas no mundo dos FPS, o primeiríssimo Serious Sam chamou minha atenção por dois fatores: era belíssimo, mesmo em uma configuração de PC modesta, e era insano. O demo do jogo me cativou o bastante para adquirir a versão pirata no camelô meses depois (está tudo bem, já legalizei minha situação tem anos, graças ao Steam). Havia dezenas, às vezes uma centena, de inimigos na tela ao mesmo tempo e sua jogabilidade se resumia em esquivar-e-atirar e rezar para ainda estar vivo quando o último monstro caísse. Era um triunfo de tirar o fôlego da pequena Croteam, da também pequena Croácia.

Imediatamente depois, seus desenvolvedores lançaram Serious Sam: Second Encounter, sempre confundido com Serious Sam 2, mas que podia ser melhor classificado com uma expansão stand-alone do primeiro jogo. Mas era tão grande quando o título de estreia, com inimigos novos, áreas novas, armas novas e que conseguia ser superior em todos os aspectos.

A Croteam retornaria com o verdadeiro Serious Sam 2 anos depois, com uma nova engine. Aparentemente, neste intervalo de tempo, a fórmula foi perdida e o título não deve uma recepção tão calorosa do público. Acusaram o jogo de ter um tom mais cartunesco e a mágoa foi tanta que Serious Sam 3 mergulhou de cabeça na paleta ocre dos campos de batalha dos FPS de guerra moderna dos últimos anos.

Uma grande bobagem.

Serious Sam 06 Serious Sam 04 Serious Sam 05

Serious Sam 2 é, talvez, uns 10% mais tolo do que seus antecessores, que nunca foram para serem levados a sério e isso estava óbvio desde o nome do protagonista. A galhofa dos inimigos absurdos é uma parte importante da franquia, assim como os cenários castigados por um Sol de verão. Na série, tudo é festa. Sempre foi assim.

Então, o que deu errado entre a nova aventura do herdeiro de Duke Nukem e eu? De forma resumida, Serious Sam 2 peca pelo excesso. E este excesso cansa.

Embora haja menos inimigos na tela por batalha, é impossível andar cinco metros sem que eles se materializem de todos os lados. A cada cinquenta metros, temos uma arena gigantesca que irá consumir dez minutos de tiroteio frenético. São 42 níveis no total e eu estava com uma velocidade média de um nível a cada 30 minutos! Cometi o erro de tentar jogar um Serious Sam no modo Normal. No sexto nível eu já tinha sensação de que não ia dar certo. Comecei tudo de novo no modo Easy e aqueles mesmos níveis se arrastaram, um pouco fáceis demais. Acreditei que o enfado se devia à repetição, mas então entrei nos níveis que eram inéditos para mim e a sensação permaneceu. Agora, nenhum oponente é marcante, esquivar em círculos não é mais a melhor estratégia e o ritmo está todo diferente.

Serious Sam 02

Por pura insistência do meu filho, que parecia sentir um prazer sádico em ver o próprio pai bufando e apertando teclas como um louco, prossegui ao ponto de fechar o primeiro planeta. O primeiro planeta de cinco e já me sentia cansado como se tivesse rejogado os dois jogos anteriores da franquia. Veio o segundo planeta e percebi que os NPCs era basicamente o mesmo modelo do primeiro planeta com outras texturas. Os inimigos, com algumas exceções, eram os mesmos.

Foi então que recebi uma iluminação. Apesar da euforia das primeiras horas, apesar do surto de adrenalina ocasional, apesar de, em muitos aspectos, ser o mesmo Serious Sam de antes, eu estava encarando cada batalha como uma tarefa a realizar para desbloquear... a próxima batalha. No Normal, o jogo te obriga a se superar de uma forma em que você tem a impressão de que o computador está sempre roubando. No Easy, é uma longa fila de inimigos que você despacha com a eficiência e a monotonia de um carimbador de documentos. Em algum ponto computacionalmente impossível entre os dois modos, o jogo me perdeu.

Serious Sam 01

O que torna tudo mais estranho é que devorei First Encounter e Second Encounter. Ria da horda infinita de inimigos, com um dedo no botão de strafe e outro dedo pressionado sem nunca soltar no botão de tiro do mouse. Explorei seus níveis gigantescos e matei seus chefes idem. Não me importava de morrer e tentar de novo. Quando ouvia o galope incessante dos touros-esqueletos de Sirius ou o berro suicida dos cabeças-de-bomba, trincava os dentes em um sorriso tenso e começava a dança.

Quem mudou de verdade? Serious ou eu?

Ouvindo: Ruth Brown - Sweet Baby Of Mine

4 comentários:

Marcos disse...

nesse caso eu acho que foi o SS2 que envelheceu mal. eu me tiro como exemplo, SS First encounter e Second Encounter a gente se sentia mais a vontade jogando, mesmo com a lógica repetitiva de cada cenário nascendo inimigos, a gente tinha tempo de respirar e admirar o cenário, depois de limparmos a área podíamos passear com uma leve calma pelo cenário e vez por outra até encontrar algum secreto regado a inimigos, mas nada que comprometesse os bônus que até era divertidos. No caso do SS2, ele é modo arena sempre num ritmo muito linear e com inimigos mais irritantes, piadas muito bobas e cenários reciclados desde o primeiro planeta. Sem dúvidas é um FPS que não se leva a sério, desconsiderando o trocadilho, mas se ele foi pioneiro para uma nova geração de FPS descomprometidos, por que não fazer como faziam nos idos dos anos 2000 sem ter que se prender aos vícios dessa geração?

Vilas Boas disse...

Serious Sam (1) não joguei, o 2° tentei... instalei, joguei 20min e desinstalei!

Veio o SS 3 BFE (de presente) esse consegui jogar 1 hora, mas teve o mesmo final do segundo da franquia!

Resumo da obra (sobre a minha ótica, bom lembrar)

Serious Sam? um horrível Duke Nukem New Age! não recomendo...

Michel Oliveira disse...

Tentei jogar a demo acho que do Second Encouter e achei um saco. Não gosto muito desses shooters arcade. Talvez por isso me afasto dos multiplayers

Nulagem disse...

Não conheço a franquia, mas esse trecho foi engraçado: "que parecia sentir um prazer sádico em ver o próprio pai bufando e apertando teclas como um louco".

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