Retina Desgastada
Idéias, opiniões e murmúrios sobre os jogos eletrônicos
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28 de abril de 2013

Jogando: You Are Empty

You Are Empty Afinal, o que há na água da Ucrânia? Terra de S.T.A.L.K.E.R., Metro 2033, Boiling Point, Pathologic, Chasm, Vivisector. E You Are Empty. Nenhum destes jogos se encaixa nos padrões que costumamos chamar de FPS ou RPG aqui no Ocidente. Mesmo nas mais comportadas produções, há sempre algo de melancólico, algo de grotesco, algo de bruto misturado à fórmula.

Em janeiro de 2011, comprei You Are Empty para experimentar o sistema de venda de jogos digitais do Extra. Não deu muito certo, fiquei com o jogo mofando no HD e a frustração no coração. Mas o mundo gira e o título reapareceu no Indie Gala em um pacote interessante. Movido pela curiosidade, fui testar se a instalação seria menos problemática desta vez. Para meu espanto, tudo funcionou perfeitamente! Nada de tentar colocar codecs bizarros do Windows Media Player, nada de plugins de áudio, nada de demora na instalação, nada de bugs e nem mesmo qualquer tipo de DRM! Definitivamente, a versão do Grupo Pão de Açúcar era um equívoco de distribuição.

Aproveitando um momento sem internet, testei You Are Empty.

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O jogo foi massacrado pela crítica e dificilmente irá agradar a todos os públicos mesmo. É lento demais para um FPS, frenético demais para um survival horror, exótico demais para nossa sensibilidade acostumada à produção cultural americana. O mouse é tão sensível que o menor toque manda o personagem girar 180º. Os inimigos são modelados de uma forma que oscila entre o patético e o medonho (incluindo galináceos gigantes) e as armas são versões de modelos russos da década de 50, não aquela boa e velha M16 ou Shotgun ianque que você jogou a vida toda. O cenário é opressor, a música é opressora, até as malditas texturas comprimem o seu peito. Não é um título divertido de explodir cabeças e mascar chiclete.

E, apesar disso ou por tudo isso, gostei do que vi.

You Are Empty mostra uma visão distorcida do sonho comunista, uma distopia mais cruel e aguda do que a City 17 de Half-Life 2. Apesar da engine DS2 ter sido criada pela ucraniana Digital Spray especificamente para este projeto, a arquitetura do jogo lembra muito o título da Valve. Enquanto Viktor Antonov buscou inspiração nas cidades do Leste Europeu para construir sua cidade dominada pelo Combine, o pequeno time de You Are Empty reproduziu fielmente a paisagem urbana do Leste Europeu. Velhas cidades com edifícios austeros, ruas estreitas e pedras por todo o lado. Não foi obra do acaso a decisão de Antonov. O resultado é um ecossistema de opressão. O time de desenvolvedores visitou lugares antigos, pesquisou em bibliotecas, desenterrou pôsteres motivacionais dos anos 50, impressos, livros de propaganda comunista, fotos, mobiliário e tudo que pudesse ser usado para dar autenticidade ao ambiente. O compositor foi colocado para ouvir marchas e hinos soviéticos por dias a fio. Neste ponto, o jogo parece uma viagem no tempo.

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Mas, pelo visto, o regime soviético deixou um gosto amargo nos desenvolvedores porque o jogo traz uma realidade alternativa onde tudo que podia dar errado, deu muito errado. Há caos nas ruas, o proletariado se transformou em monstros deformados, decadência e morte abundam em toda parte. A história dos bastidores da trama não é apresentada de forma direta, mas aparece em cutscenes poéticas e arrepiantes em preto e branco (com toques vermelhos) criadas por um animador premiado. Parece cinema de arte. Há fragmentos da catástrofe que se abateu sobre o mundo em bilhetes e papéis encontrados pelo cenário. Tudo contribui para um clima de fatalismo. Não importa quantos inimigos você mate ou a direção para onde você está indo, a impressão que se tem é que é tudo em vão e a insanidade triunfará no final.

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A possibilidade de se explorar os cenários como nos jogos do passado em busca de uma chave ou saída associada às ruínas e barricadas espalhadas remetem a S.T.A.L.K.E.R, mas sem a exuberância gráfica e sem tanta liberdade. Não é um jogo de mundo aberto, apenas um FPS com níveis enormes. A munição escassa segura o frenesi de sair atirando em tudo que se move e cada confronto começa com um susto e pode terminar com a sua morte, impondo um ritmo mais lento. Em muitas partes, fiquei incomodado ou assustado. Ainda assim, You Are Empty é um jogo curto. Em parte porque alguns cenários e inimigos foram cortados da versão final, depois de um ciclo de desenvolvimento que durou três anos, e em parte porque o título tem uma atmosfera a preservar e alongar sem necessidade a jogatina poderia quebrar a imersão.

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Se você não tem medo de sair de sua zona de conforto ou se já se cansou dos mesmos FPS todo santo ano, vale a pena dar uma chance não apenas a You Are Empty, mas a toda a cena ucraniana. Caso contrário, mantenha uma distância segura.

Ouvindo: Moby - Stella Maris

8 comentários:

Shadow Geisel disse...

munição escassa já quebra paradigmas. sobre as cutscenes eu vou dar uma olhada no Youtube. um link do vídeo seria uma boa adição, camarada.

Gledson A. disse...

Parece interessante.

Não sei se estou enlouquecendo mas acho que a algumas semanas atrás eu tinha visto este jogo no greenlight, porém, não o acho mais.

Marcos A. S. Almeida disse...

A idéia do Shadow me remete á outra: linkar para um gameplay seu.Não sei se é uma idéia boa ou ruim, apenas uma idéia.Acho que você já deve inclusive ter cogitado isso em algum momento.
Quanto ao jogo, meu primeiro contato foi tê-lo visto á venda anexo á uma revista (não lembro qual).Vi um gameplay e achei mais do mesmo , bem bizarro, mas nada tão diferente e desisti de comprar.Gosto de títulos com essa opressão e o vídeo do gameplay não me passou isso.Gosto da paleta de cores que esses Ucranianos usam.

Eder R M disse...

*sigh*

Tá certo que todo mundo tem algum tipo de "obsessão", mas essa fixação por FPS estilo B-movie já deve ter virado patologia.

Repito: Outcast, Aquino. Outcast.

Vou insistir até o fim dos tempos. ;D

C. Aquino disse...

Shadow, tem todas as cutscenes no YouTube (o que até tira um pouco da graça, mas enfim...). Tente esta em HD (são todas reunidas em um vídeo só!): http://www.youtube.com/watch?v=gZPHH55St8I.

Gledson, engraçado você comentar porque eu acho que também vi no Greenlight. Mas acho que foi naquela confusão inicial onde qualquer um podia cadastrar qualquer coisa. De qualquer forma, o jogo aparece fácil em pacotes indie e está vendendo no Gamersgate.

Marcos, já me passou pela cabeça essa ideia sim. Mas ainda não coloquei em prática. E agora já apaguei o jogo do HD! O problema de vídeo de gameplay é que nem sempre o cara que está jogando joga da mesma forma que a gente! Eu gosto de calcular cada passo em FPS, ir com calma, dedo no gatilho e coração na mão. Tem gente que joga de peito aberto e, se morrer, recarrega.

Eder, eu SABIA que você ia revirar os olhos! Quando você recomendou mais uma vez o Outcast eu já estava quase no meio de You Are Empty e pensei: "caramba, o Eder vai ficar louco quando descobrir que estou jogando esta bagaça...". Mas fica tranquilo! Eu JURO que ainda jogo Outcast. Este é o ano dedicado a continuações e jogos que ficaram pendentes (tecnicamente, era para ter jogado YAE em 2011...). Mas prometo começar 2014 com Outcast, combinado? Talvez 2014 seja o ano para resolver todas as lacunas do meu currículo de jogador...

Marcos A. S. Almeida disse...

Eder R M, o Outcast que você está falando é o Outcast mesmo?O antigo?O adventure?Se você me disser que apesar dele começar lento depois melhora , até EU volto á jogar.Mas se o ritmo dele ficar o mesmo até o final...Gosto de adventures , e esse foi um dos primeiros em 3D que tive contato, mas achei tão complexo, com tantos diálogos que desisti.Recentemente comprei no GOG, apliquei a tradução, comecei á jogar e desisti novamente.Infelizmente ele não me empolgou.Mas as análises sempre são positivas.Outra dica:existe um patch que deixa ele com uma resolução maior.

Aquino,em outras palavras, você não quer se tornar "vidraça" , não é mesmo?Ehehehehehehe!

Shadow Geisel disse...

eu dei uma olhada no vídeo, Aquino. as cenas são incríveis mesmo. alto nível. não vi mais pra não estragar, pois não sei se um dia tereia chance de jogá-lo.

wesley disse...

Jogo muito bom, só isso que tenho a dizer...

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