Retina Desgastada
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1 de março de 2013

Prey: A Série Maldita

Prey 2

Alien Noire não é o prometido Prey 2, como foi especulado. O site é uma desesperada e inacreditavelmente bem elaborada tentativa de exigir das empresas envolvidas que o jogo seja concluído. É mais um bizarro passo na tortuosa trajetória de uma franquia fadada ao azar.

O primeiro jogo da série foi anunciado em 1995, pela agora infame 3D Realms. Antes mesmo de Duke Nukem Forever se tornar o foco das piadas envolvendo a desenvolvedora, Prey já dava sinais de ser um daqueles jogos que nunca sai. Na verdade, Prey deveria ter saído antes mesmo de Duke Nukem 3D! Mas George Broussard e seu time resolveram não utilizar a engine Build, esta que seria o bem-sucedido pilar de uma trilogia de FPS inesquecíveis: o próprio Duke Nukem 3D, Blood e Shadow Warrior. Em uma decisão ousada, a já pronta Build foi descartada em prol de uma nova engine, que seria construída do zero para poder colocar em ação o grande diferencial de Prey: portais.

Prey 1998 Pode-se dizer que a 3D Realms estava à frente do seu tempo neste quesito. Doze anos antes de Portal (ou dez antes de Narbacular Drop, para sermos honestos), a desenvolvedora já tinha imaginado um sistema similar para seu FPS. No comando do time de programadores estava William Scarboro, veterano responsável por boa parte da programação de Rise of the Triad. Em 1996, Scarboro aprendeu mais ou menos como funcionava a cabeça do perfeccionista Broussard, quando o chefe determinou que Prey deveria suportar apenas aceleração de gráficos via hardware. Hoje em dia, nem se fala mais em transferir o poder gráfico para o software e ignorar a placa de vídeo, mas, naquela época, placas aceleradoras estavam começando a se tornar um padrão. Com a ordem, aconteceu o primeiro atraso do projeto. Scarboro teve que literalmente reescrever todo o código.

Se Scarboro estava na linha de frente da programação, o líder criativo era ninguém menos que Tom Hall. O bom mestre era responsável pela história, personagens, inimigos e temas do jogo. E abandonou o barco meses depois que o código começou a ser reescrito. Hall iria para a Ion Storm, atendendo a um pedido de John Romero e lá criaria sua obra-prima, Anachronox. Em outras palavras, Hall estava no ápice do seu talento quando deixou Prey. O que teria acontecido se tivesse liberdade de ação e se seu velho camarada não tivesse feito uma proposta indecente? Jamais saberemos.

Prey 1998 02 Para o lugar de Hall foi convocado Paul Schuytema, designer responsável por Mech Warrior 3 e com ampla experiência em ficção-cientifica. Outros talentos também foram contratados e, como acontece nestes casos, o novo time chegou querendo mostrar serviço e isso significa reescrever boa parte da história. Ao contexto de abdução alienígena criado por Hall foram acrescentados detalhes: o protagonista seria um índio americano, o cenário seria uma imensa nave-mãe onde algumas espécies competem pela supremacia.

Aparentemente, tudo estava indo bem agora com o projeto e Prey foi exibido na E3 de 1997 e na E3 de 1998, para deslumbre da platéia.

Mas era uma falsa ilusão. Assim como o primeiro vídeo de Duke Nukem Forever, também de 1998, não era um sinal real de que tudo estava indo bem na linha de produção. Havia bugs demais e o sistema de portais não estava funcionando como deveria. Dentro da 3D Realms, todas as atenções estavam focadas no próximo capítulo de Duke Nukem e Prey foi abandonado às moscas. Desestimulados, tanto Scarboro quanto Schuytema jogariam a toalha em novembro daquele ano. Ironicamente, a desenvolvedora fundiu os dois times, na esperança de concluir pelo menos um dos jogos. Nunca aconteceu.

Os anos se passaram, Scarboro faleceu em 2002, a 3D Realms parou de lançar jogos, Duke Nukem Forever virou uma mancha no currículo da desenvolvedora, Prey virou uma desculpa.

Nos bastidores, porém, o projeto jamais foi cancelado. No final de 1998, Corrine Yu foi chamada para reescrever a engine. Mas também foi embora, para a Ion Storm, trabalhar em Anachronox. Em 2001, a 3D Realms desistiu da ideia de criar seu próprio motor gráfico e licenciou a id Tech 4 da id software. E também decidiu terceirizar a conclusão do jogo para a Human Head Studios.

Prey Mesmo assim, se passaram quase cinco anos de quase total silêncio para que a nova desenvolvedora conseguisse concluir o jogo. A id Tech 4 foi modificada para aceitar a tão visionária tecnologia de portais perseguida por Broussard desde 1995, assim como alterações de gravidade. Então, em 2006, Prey foi finalmente lançado.

Como se carregasse uma maldição, o jogo foi o carro-chefe do serviço de distribuição digital Triton. Se você nunca ouviu falar deste nome, é porque ele foi fechado em outubro de 2006, três meses depois do lançamento de Prey! A empresa havia falido subitamente e sem avisar a 3D Realms. Posteriormente, foi liberada uma atualização que desvinculava o jogo do serviço, assim como cópias físicas foram enviadas para vários usuários. Em seguida, Prey foi distribuído no Steam, e antigos comprados pelo Triton tiveram acesso a chaves no sistema da Valve.

Misteriosamente, o Steam suspendeu a venda do jogo em seu serviço. Hoje, o título não pode ser encontrado em nenhum sistema de distribuição digital e é muito raro de se encontrar em formato físico.

Prey 2006 02 Prey 2006

A Maldição do Índio: Parte 2

A continuação era óbvia: o próprio final do jogo terminava com a fatídica frase "Prey irá continuar". E, em 2008, foi oficialmente anunciada pela própria Human Head. Cinco anos depois e aqui estamos nós documentando outra trajetória turbulenta.

Inicialmente, Prey 2 seria uma sequência direta do jogo anterior, trazendo novamente o herói índio Tommy Tawodi, mais portais, mais Mundo dos Espíritos, mais mitologia tribal. Em nenhum momento do planejamento inicial foi cogitada a hipótese de trocar de protagonista ou fugir do padrão estabelecido. Haveria uma evolução natural do personagem, saindo da posição de homem errado na hora certa ou herói involuntário para algo mais arrojado, mais experiente. Mas, sem dúvidas, Tommy voltaria.

Só que não voltou. Nem ele, nem os portais, nem os corredores escuros, nem o Mundo dos Espíritos, nada.

A 3D Realms fechou as portas, a produtora Radar Group, criada de suas ruínas, também não aguentou a responsabilidade, o mundo deu voltas e, em 2009, a franquia foi parar nas mãos de quem menos se esperava: Bethesda. A Human Head continuava na linha de trabalho, mas o novo chefão Pete Hines tuitou que "este é o Prey 2 que a Human Head queria fazer" (?!). Sai de cena Tommy e entra o branquelo Killian Samuels.

Prey 2 - Killian

Apesar da reviravolta, o novo Prey 2 parecia um jogo para se ficar de olho.

Uma demo de jogabilidade de 10 minutos foi exibida na E3 2011 e foi muito bem-recebida. Mas era apenas o primeiro indício de que a maldição estava se repetindo. Mais de um ano de silêncio se seguiu. Até que em fevereiro de 2012, Brian Karis, chefe dos programadores da Human Head, cancelou uma apresentação no GDC sobre Prey 2. A suspensão atingiu o ventilador quando ele afirmou que a ordem partira da Zenimax, empresa-mãe da Bethesda. Começaram os primeiros rumores de que, na verdade, era o jogo que havia sido cancelado. O jogo sumiu da lista de lançamentos no site oficial da Bethesda.

Prey 2 02

Em abril de 2012, a Bethesda declarou publicamente que não havia cancelamento nenhum, mas que o jogo atrasaria por "não atingir atualmente nossos critérios de qualidade". A insinuação de que a Human Head não estava fazendo um bom trabalho foi ignorada por quase todos, exceto Nathan Cheever, designer da desenvolvedora que escreveu, extra-oficialmente, que gostaria de arrancar as "bolas da Bethesda", embalar e lançar no lugar do jogo.

Boatos apontavam para uma terrível disputa judicial nos bastidores. Há quem diga que a Bethesda não pagou o que deveria para a Human Head, mas este é o tipo de assunto que não se comenta na frente de um gravador. Há quem diga que o jogo estava quase pronto quando os desenvolvedores resolveram cruzar os braços. O que realmente aconteceu talvez nunca veja a luz do dia.

Agora, na era da mobilização e do crowdfunding, um determinado séquito de fãs criou um complexo viral para perguntar que fim levou a série e qual será o próximo capítulo desta longa jornada de lágrimas.

Prey 2 - Distintivo 

Ouvindo: Syrian - Musika Atomika

7 comentários:

Shadow Geisel disse...

Ah, Bethesda... eu te amo ou te odeio? ainda tentando descobrir...

Breno disse...

Existe um jogo com um tempo maior ainda em desenvolvimento(17 anos). O rpg Grimoire:Heralds of The Winged Exemplar que atualmente se encontra no indiegogo, com demo incluso.

O desenvolvedor desse jogo é uma lenda urbana ambulante, com diversos topicos controversos, usuario do RPG codex, afirma ser da raça dos neandertais, ex empregado da instinta Sir Tech, a qual ele conta em detalhes o nivel precario da gestão incluindo detalhes sordidos difamando pessoas que trabalharam por lá de incompetentes e acusando os donos da empresa de pedofilia.

Ah, ele também construio um bunker para se preparar para o apocalipse nuclear.

Quem se interessar, pode olhar o video da campanha Indiegogo e demo no link:
http://www.indiegogo.com/projects/grimoire-forever/

Michel Oliveira disse...

A live US ainda vende Prey, Aquino. Logo ainda tem um serviço que oferece o jogo.

Shadow Geisel disse...

off-topic: alguém sabe me dizer o que significa esses caras que postam como anônimo e escrevem um monte de baboseiras em inglês? já tô cansado de ter que excluir esse tipo de comentário do meu blog.

Breno disse...

SPAM! Haha,o ultimo foi engraçado, é para comprar viagra online. Alguem se abilita?

C. Aquino disse...

O spam é uma praga desde que eu removi o CAPTCHA do formulário. Todo dia eu apago uns 15. O sistema do Blogger filtra metade e deixa passar metade, sabe-se lá por qual critério... Mas acho que ninguém quer aquele CAPTCHA incompreensível de volta, certo?

Andrei Olardi disse...

Me ajude com esta pesquisa e receba uma cópia. É para uso acadêmico. http://www.surveymonkey.com/s/videogamefia

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