Retina Desgastada
Idéias, opiniões e murmúrios sobre os jogos eletrônicos
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23 de fevereiro de 2013

Jogando: Mass Effect 3

Mass Effect 3 Jogar sequencialmente uma trilogia que foi separada em seu lançamento por anos de diferença tem suas desvantagens. Uma delas é que as discrepâncias de jogabilidade de um título para o outro se tornam mais acentuadas. A outra é que as guinadas de tom são mais fortes. A impressão que eu tenho é de que a saga de Shepard ficou ao cargo de dois times diferentes dentro da Bioware, que se alternam. E eles se detestam.

Entre Mass Effect e Mass Effect 2 são abandonados todos os cenários do primeiro jogo, toda a equipe de NPCs, as granadas, os Reapers (de uma forma geral) e até para quem o protagonista trabalha. Sai o militarismo seco e entra a iniciativa privada a bordo da Normandy, com direito a banheiro, socialização com a tripulação e até um cozinheiro residente. É como se um time de desenvolvedores estivesse querendo demarcar seu território. Mesmo o rosto de Shepard pode ficar diferente, dependendo das escolhas do jogador.

Começa Mass Effect 3 e o time do primeiro reassume as rédeas. Você quase pode ouvir os gritos: "danem-se esses caras do Cerberus, voltem com a Alliance". Mais uma vez, os personagens com quem você construiu uma relação de afinidade são levianamente descartados. E quem retorna? A Alliance, Kaidan (ou Ashley, depende do que você decidiu, lá em Virmire) e Liara, relegada a um DLC no capítulo anterior. Parece troca de diretoria em time de futebol. Até as granadas reaparecem.

E para deixar bem claro quem manda no pedaço, a equipe de desenvolvimento já traz de volta os Reapers nos primeiros minutos de partida, sem dar tempo para o jogador respirar. Supostamente, era para a grande ameaça cósmica estar adormecida no espaço profundo em perpétua espera da abertura de um portal na Citadel, a principal (e talvez única) rota deles para nosso canto do Universo. Ou eu perdi alguma coisa? Mas não, aqui estão eles, se materializando quase instantaneamente na capital da raça humana, matando a torto e a direito, forçando o protagonista a realizar uma desembestada fuga pelo lado de fora de prédios. O time 1 da Bioware parece também não ter tempo para sutilezas e usa do artifício do infanticídio para tentar criar um senso de horror na mente de jogador. Desculpe aí, sou favorável a este truque narrativo, mas é preciso talento para escapar da banalidade. Quando aparece a primeira criança em toda a série, é mais ou menos claro que ela é um artifício. Quando ela morre, cinco minutos depois, não foi dado tempo o suficiente para a platéia estabelecer qualquer senso de relevância ao fato. Soa forçado.

A abertura é um tutorial que se estende por tempo demais. Há dicas demais para o jogador, sendo que este é o terceiro capítulo de uma saga. Há cutscenes demais, diálogos de menos, opções de menos, ação de menos. O combate é risível e provavelmente será a primeira vez em um jogo eletrônico em que subirei a dificuldade no meio da aventura, ao invés de abaixar. O poder de abrir buracos negros(!?) com a mente de Liara torna qualquer batalha em um massacre. A Omnitool, que sempre achei uma magnífica ferramenta futurista, agora tem uma lâmina jedi, porque a tecnologia dá saltos em poucos meses.

Marte

Não há nenhuma explicação para os eventos que aconteceram entre um jogo e outro. Se você não tiver comprado todos os DLCs, lido todos os livros e quadrinhos, alguns detalhes podem não fazer o menor sentido. Udina é agora o representante da Humanidade no Council, sendo que Anderson, minha escolha no primeiro jogo, renunciou ao cargo em algum momento fora dos jogos. Apesar de Shepard ter ordenado que o Council fosse salvo no primeiro jogo, eles insistem em recusar apoio aos humanos. Há ingratidão, há politicagem e há Mass Effect 3... O status de Shepard como Spectre é restaurado pela segunda vez, ignorando totalmente que isso já tinha acontecido comigo no segundo capítulo.

A liberdade de circular pela Citadel já havia sido reduzida anteriormente, mas aqui atinge o seu ápice. É basicamente ser teleportado de uma cutscene para outra. A menos que você resolva passar pelo hospital e esbarrar em duas coincidências improváveis. E por que motivo toca uma música romântica quando Shepard deseja que Kaidan se recupere de seus ferimentos? Quando foi que eu dei entender que meu Shepard tem "algo mais" por Kaidan? É a política do "simpatia é quase amor" do segundo jogo elevada à enésima potência?

Depois disso, temos uma sequência em sonho (?!) em câmera lenta (?!). Aí, eu desliguei o jogo. O que aconteceu contigo, Mass Effect 3?

Horas depois da aventura começar e ainda não tive a chance de andar pela Normandy. Aposto que tiraram os banheiros.

Ouvindo: Metric - Blindness

11 comentários:

Gyodai disse...

Preocupante ler sua opinião...
Eu comprei ME3 e nunca cheguei perto da campanha, porque não joguei o segundo jogo ainda. Na minha tentativa ridícula de conseguir elevar meu personagem do ME1 até o lvl 60 antes de transportar meu save, acabei deixando o jogo de lado. A minha experiência em ME3 resume-se ao multiplayer, que é divertidinho.
Eu sempre esperei que aquele monte de reclamações sobre o jogo, a palhaçada da mudança de final e tudo mais fosse apenas manifestação exagerada de fanboy, mas pelo jeito a choradeira tem algum fundamento. Que pena isso...
P.S.: Impressionante como a Bioware parece ter adquirido o costume duvidoso de insinuar relacionamentos entre personagens mesmo quando não existe qualquer tipo de manifestação por parte do jogador. Em Dragon Age 2, todo mundo quer "pegar" seu personagem.

Jimmy Fischer disse...

Olha, ja falei mil vezes e repito:
Não consegui jogar o ME1 e acho o ME2 um dos ou o melhor jogo da atual geração!
Isso me fez comprar ME3!
Comecei a campanha, tb me senti perdidão e se a função da criança era me comover com a ameaça iminente dos Reapers, odiá-lose desejar vingança a todo custo infelizmente comigo também não funcionou.
O inicio do jogo é alucinante, as coisas acontecem uma atras da outra e o jogo flui bem...
Nem vou dar pitacos na história porque sinceramente não me aprofundei nela nos dois titulos anteiores...
Se ME2 me fez jogar varias horas por dia e me prendeu, ME3 chegou em um determindado momento que meio que cansou... estou num save perto do fim do jogo e não me sinto tentado a voltar.
O jogo é bom, está no mesmo nivel do 2 mas falta alguma coisa...o multiplayer brinquei um pouco, não é uma maravilha e tampouco uma desgraça, dá pra se divertir!

Jimmy Fischer disse...

Vou parabeniza-lo com alguns anos de atraso pelo texto sobre crianças em jogos.Não tinha lido ainda e o achei genial.Parabens!

Breno disse...

"Quando foi que eu dei entender que meu Shepard tem "algo mais" por Kaidan?"

Os desenvolvedores colocaram opções de romance homosexual masculino apenas em ME3. Nos anteriores somente dava brecha a romances lesbicos. é a grande chance de Sheppard sair do armario e levantar a bandeira arcoiris,kkkkkkk.

"Se você não tiver comprado todos os DLCs, lido todos os livros e quadrinhos, alguns detalhes podem não fazer o menor sentido."

Não diga que eu não avisei...



Breno disse...

"ogar sequencialmente uma trilogia que foi separada em seu lançamento por anos de diferença tem suas desvantagens. Uma delas é que as discrepâncias de jogabilidade de um título para o outro se tornam mais acentuadas."

Na verdade isso não é muito comum de ocorrer em sequencias, a não ser que vc esteja falando da bioware pos baldurs gate, pois eles não conseguem entrar em consenso sobre o tipo de jogabilidade ideal para determinado jogo(ver tambem a serie Dragon Age).

Jimmy Fischer disse...

A série Dragon Age tem apenas 2 jogos.
O primeiro, que é uma espécie de "sucessor espiritual" de NeverWinter Nights e o segundo que foi feito ás pressas e foi uma tentativa frustrada e discutível de lançar a série para o publico casual.
Ou seja, é só evoluir o primeiro título da série que vai ser outro sucesso(e vai ser, dada o hiato entre o DA2 e o terceiro título que teve algumas poucas artes divulgadas até o momento), o problema é que a Bioware acenou que o DA3 iria na mesma linha do Skyrim devido ao sucesso deste ultimo...(uma idiotice, até porque estou de saco cheio de mundo aberto).
Eu até recomendaria o Aquino a emendar essa jogatina de Me para uma jogatina de DAO.

Breno disse...

"o problema é que a Bioware acenou que o DA3 iria na mesma linha do Skyrim devido ao sucesso deste ultimo...uma idiotice, até porque estou de saco cheio de mundo aberto."

Essa é uma decisão puramente financeira. Skyrim é o (a)rpg single player ocidental mais bem sucedido financeiramente na história dos jogos, e até mesmo a série The Witcher ta indo nessa linha...

"O primeiro, que é uma espécie de "sucessor espiritual" de NeverWinter Nights"

Oficialmente ele foi marketeado como sucessor espiritual de Baldurs gate 2, mas ele acabou mais sendo um sucessor espiritual de KOTOR com tematica medieval...

Breno disse...

Só lembrando a Aquino, o DLC com um NPC adicional está embutido no jogo, vc só precisa alterar um arquivo .ini se não me engano. Acontece que a EA acredita que editar arquivos ini é equivalente a pirataria, ai é com vc mesmo se quer fazer ou não...

Ed R M disse...

GENIAL! Grande texto.

É por isso que gosto de acompanhar o blog, esses posts tão diretos e incivisos (e com os quais concordo totalmente, heheh :D ) que são excelentes.

Marcel C. Da Silva disse...

Eu sinceramente não acho o The Witcher (1 e 2) parecidos com Skyrim, e olha que TEVS eu joguei bastante, e the witcher já tenha jogado até o pc dar tela azul. Mas é bem por aí, o que a Bioware tem feito até agora é lançar uma franquia de sucesso, bem elogiada e com uma ótima experiência de jogo, e depois, devido às boas expectativas ouriundas do primeiro título, se apoiar pra vender mais.

Lembro que vi o anúncio do Dragon Age: Origins em 2006 e pensei "Nossa, quando lançar vai ser perfeito", e não foi menos do que isso. Depois veio o Dragon Age 2 e pense "Oba, mais darkspawn pra matar" aí, apareceu aquele festival de sangue e desmembramento onde o único chefe realmente desafiador não é o último boss.

Edgar Menezes disse...

Pra mim a trilogia Mass Effect é a melhor já feita no mundo dos Games, daria 3 filmes muito bons. Senti falta de algumas coisas em Mass Effect 3 em relação ao 2, uma delas foi a Miranda Lawson quase não ter aparecido no 3... Ontem assisti ao filme animado Mass Effect Paragon Lost que foi lançado ano passado e ele se passa entre os eventos de Mass Effect 1 e 2, contando um pouco sobre o tenente James Vega e quase nada sobre a morte e depois ressurgimento de Sheppard. Mas com bastante coisa sobre os Collectors. Recomendo!

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