Retina Desgastada
Idéias, opiniões e murmúrios sobre os jogos eletrônicos
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23 de janeiro de 2013

Mentiras Gritantes

Juro, no exercício das funções de meu grau, assumir meu compromisso com a verdade e com a informação.
Juro empenhar todos os meus atos e palavras, meus esforços e meus conhecimentos para a construção de uma nação consciente de sua história e de sua capacidade.
Juro, no exercício do meu dever profissional, não omitir, não mentir e não distorcer informações, não manipular dados e, acima de tudo, não subordinar em favor de interesses pessoais o direito do cidadão à informação.

Juramento do Curso de Jornalismo

O Jornalismo Doritos não é o único problema que afeta a cobertura da indústria dos jogos eletrônicos. Babado, confusão e gritaria vende jornal, gera clique, atrai anunciantes, reverbera pelo ecossistema da informação e pode render assunto por anos a fio. Na lógica fria dos números, todo juramento sucumbe diante da necessidade do espetáculo e não se pode deixar algo desagradável como a verdade se intrometer no meio de uma boa história. Iscas de links de todo o tipo terminam no topo da cadeia alimentar dos textos mais clicados (e copiados). E isso se repete todos os dias, em todos as redações.

Garganta Profunda

Xbox Surface

A mais cruel e bem elaborada isca de link se espalhou hoje pela internet como um tufão e foi engolida pelo Yahoo, CNET, Gizmodo, Venturebeat, Tech Digest, VG247, NowGamer e, possivelmente, centenas de outros. Uma fonte anônima se dizendo funcionário da Microsoft "vazou" uma avalanche de detalhes sobre o console sucesso do Xbox 360. Repleta de detalhes técnicos, com afirmações plausíveis, o informante apontava o nome do novo console e até a estratégia de lançamento e integração com o Windows 8.

Era tudo mentira.

Como um vilão de histórias em quadrinhos, X-Surface, um jogador sem nome ou rosto, planejou uma terrível vingança. Ele alegou estar "cansado de ver rumores infindáveis e especulações citando 'fontes anônimas' ou 'informantes' sem nenhuma evidência, nenhuma prova, nenhuma garantia de que seus fatos foram checados ou possam ser confiados". Determinado a humilhar suas vítimas, criou o texto do nada, sem nunca ter trabalhado na Microsoft.

X-Surface enviou sua montagem por e-mail para os principais portais e sites de jornalismo de jogos. Sem qualquer sinal de identificação, nem mesmo uma conta de e-mail de dentro da Microsoft. Nada além de sua palavra de que era um funcionário no desenvolvimento do próximo Xbox. Em menos de uma hora, o modesto Pocket-Lint.com republicou o texto imaginário sem confirmar uma única vírgula. A partir do momento em que um site publicou, o resto assumiu que alguém checou e repostou com link para o Pocket-Lint, ou nem isso. E a bola de neve cresceu. A página de resultados do Google é a prova do sucesso do experimento.

Tudo isso, pouco mais de um mês da denúncia do Penny Arcade de como a replicação de notícias é prejudicial para o jornalismo de jogos e flerta com o plágio.

Em letras garrafais, X-Surface declara: "ISSO NÃO É JORNALISMO". E completa:

Muitos "jornalistas" de jogos não tem o direito de se chamar assim. A vasta maioria não faz nada além de copiar e colar de outros sites (...)

Tudo gira em torno de ser o primeiro. Publicar tais notícias (quer você acredite ou não), antes que alguma outra publicação o faça, irá garantir suas visitações e o todo-importante faturamento de publicidade. "Jornalismo" de jogos está completamente quebrado.

Ao marcar uma postagem como "rumor', a maioria dos escritores/editores acreditam que eles podem passar adiante informações falsas para seu próprio benefício. Eles são os únicos a ganhar destas práticas, enquanto os fãs de jogos terminam com especulações e, às vezes, mentiras gritantes.

O Pequeno Príncipe

Capitão Wales

Em uma longa entrevista, o príncipe Harry, um dos herdeiros da Coroa Britânica e atualmente combatendo ao lado das tropas inglesas no Afeganistão, declarou: "É um prazer para mim porque eu sou uma daquelas pessoas que adora jogar Playstation e Xbox". Minha reação inicial, foi a revolta.

Removida completamente do seu contexto, a frase foi interpretada pelo Talibã como uma banalização da guerra. Um porta-voz do grupo extremista teria rebatido, apontando que "descrever a guerra no Afeganistão como um videogame rebaixa qualquer um, especialmente um príncipe, que supostamente devia ser feito de coisas melhores". Juntou-se ao coro dos ofendidos o comandante da base militar onde Harry se encontra alocado e até o supostamente esclarecido site de jogos Kotaku. Qualquer causa que una na mesma indignação segmentos tão díspares é, no mínimo, estranha.

O pequeno príncipe de Wales tem uma longa folha corrida de escândalos: racismo, bebedeira, fotos pelado, uniforme nazista, beijo gay, enfim, se é jocoso, seu nome já esteve envolvido. A conclusão mais natural é de que ele seria o exemplo perfeito do mítico alienado que não sabe a diferença entre matar em um jogo e matar em combate.

Mas não é o caso.

Tanto o artigo do Kotaku quanto a reportagem do Globo apontam para uma matéria no The Telegraph. No texto citado, surge um contexto: Harry descreveria seu papel como operador do sistema de armas de um helicóptero Apache e como sua experiência nos controles de um console tornariam a tarefa mais fácil para ele, ao utilizar os polegares. Essa revelação por si só já seria o suficiente para esvaziar boa parte do peso da declaração da discórdia. O polêmico príncipe não estaria comparando a Guerra com um jogo, mas o controle de um helicóptero de guerra com um jogo. E não estaria mentindo: ergonomicamente, os militares já perceberam há muito tempo que os fabricantes de consoles estão certos.

Ainda se pode argumentar que o insensível Harry estaria afirmando ser "um prazer" operar o sistema de armas de seu helicóptero, certo? Mas não para por aí.

A entrevista do Capitão Wales, como ele é conhecido em sua unidade, foi feita, na verdade, para outro jornal, o Daily Mail. No texto original, onde tudo realmente começou, Harry explica como conseguiu se tornar um piloto respeitado. Confirmando sua fama de bad boy, ele afirma que não se dava muito bem nos exames escritos e os descreve como um "pesadelo". Mas que achava mais fácil jogar bola, voar ou jogar do que caminhar, às vezes. Para o príncipe, suas habilidades esportivas e nos jogos eletrônicos o ajudaram a se tornar um bom piloto. E, então, veio a frase fatídica: "É um prazer para mim porque eu sou uma daquelas pessoas que adora jogar Playstation e Xbox". O polêmico príncipe não estaria comparando a Guerra com um jogo, mas falando como é melhor em provas físicas e práticas do que em testes escritos na academia de pilotagem.

A mesma frase, em diferentes contextos, distorcida, adaptada, entreouvida, de uma pessoa com antecedentes ruins e temos um incidente internacional moldado pelo poder do jornalismo.

Na ânsia do clique, na fúria do preconceito, desde o herdeiro da Coroa Britânica até o soldado anônimo, o sensacionalismo triunfa e os anunciantes vibram.

Ouvindo: Turok 4 - [Vertigo] Vertigo

12 comentários:

Breno disse...

"o supostamente esclarecido site de jogos Kotaku. "

kkkkkkkkkkkkkkkk
A minima suspeita que Kotaku possa vir a ser um site "esclarecido" me faz rir. Kotaku é a central de pessoas com deficiencia cognitivas...

Eu pouco me importo com esse tipo de notícias, embora isso caia como uma luva para as pessoas que vivem denunciando os criticos de jogos. Se esses palermas não conseguem checar um unico fato, vcs acham que eles vão desbravar um jogo de 20 horas, ou até menos, para dizer se ele vale a pena? Tempo é dinheiro meus caros...

Jimmy Fischer disse...

http://www.youtube.com/watch?feature=player_embedded&v=bDyq0u2vAc4

Shadow Geisel disse...

kkkk. o termo jornalismo doritos chegou pra ficar.

realmente, o príncipe Harry podia ser feito de coisas melhores: ele bem que podia jogar um Bioshock ou Fallout em vez dessas porcarias de COD...

sobre os rumores de nova geração, esse nem poderia me afetar, pois simplesmente não estou acompanhando nenhum (exceto aqueles que abrem perigosos precedentes, como trava de jogos usados). cansei dessa encheção de saco sobre console x ser melhor que console y e blá blá blá... tão esquecendo que o importante são os jogos. se eu quisesse um supercomputador eu montava um supercomputador. eu quero uma máquina que rode "joguinhos" sem ficar carregando ícones a todo instante e engasgando ao menor sinal de multitarefa.

Breno disse...

"realmente, o príncipe Harry podia ser feito de coisas melhores: ele bem que podia jogar um Bioshock ou Fallout em vez dessas porcarias de COD..."

O cara rico do jeito que é ficar jogando em consoles beira o ridiculo. Se eu tivesse o dinheiro que ele tem ai sim é que eu ia ter uma supermaquina para rodar jogos em resoluções gigantes e tudo o mais. Só iria pros consoles por conta dos exclusivos(dessa geração, visto que as gerações anteriores podem ser emuladas com facilidade) e olhe lá... E shadow, Bioschock não tá longe de COD em termos de qualidade...

Breno disse...

"se eu quisesse um supercomputador eu montava um supercomputador. eu quero uma máquina que rode "joguinhos" sem ficar carregando ícones a todo instante e engasgando ao menor sinal de multitarefa."

Mais uma contradição de Shadow. Se o computador é um supercomputador, porque ele engasgaria ao menor sinal de multitarefa? Logica de consoles,rsrs... As vantagens de ter um PC são bem maiores que as vantagens de um console. Isso é fato. Meu computador é bem pebinha atualmente, nem placa de video tem, mais ainda assim a biblioteca de jogos que eu tenho é 10 vezes maior que a de qualquer console. E isso é apenas uma vantagem...

Anônimo disse...

http://www.neogaf.com/forum/showpost.php?p=46817540&postcount=325

Breno disse...

Perdi tempo lendo o link do anonimo. O que aquilo tem a ver com o topico?

Jimmy Fischer disse...

O Breno ia montar uma supermaquina pra jogar Phantasy Star do Master System numa tela que ia parecer minecraft...kkkkkkkkkkkkkk

Shadow Geisel disse...

"Bioschock não tá longe de COD em termos de qualidade..."

qualidade é uma coisa muito relativa nesse caso. aqui eu considero qualidade como capacidade de divertir. como o comentário é meu, então bioshock tem mais qualidade que COD. e a grande diferença entre bioshock e COD é que o primeiro eu joguei cinco vezes do começo ao fim. o segundo eu não suportei jogar mais que meia hora.

breno, sinceramente, comparar COD com bioshock é querer dizer o contrário do óbvio só pra dizer que tem opinião forte, coisa que vc não precisa fazer, diga-se de passagem. seu problema são, como sempre, os extremismos.

sobre uma mega tela de ultra resolução, liga o teu detector de sarcasmo, pois eu tava brincando. aliás, todo o comentário (exceto a parte do termo jornalismo doritos) foi uma brincadeira.

Shadow Geisel disse...

sim, breno, eu sou um jogador de consoles (no geral). pelos meus comentários e pelos textos do meu blog dá pra chegar a essa conclusão com muita facilidade. me lembra de vestir a minha coroa de espinhos e de me autoflagelar depois...

Breno disse...

"qualidade é uma coisa muito relativa nesse caso. aqui eu considero qualidade como capacidade de divertir. como o comentário é meu, então bioshock tem mais qualidade que COD. e a grande diferença entre bioshock e COD é que o primeiro eu joguei cinco vezes do começo ao fim. o segundo eu não suportei jogar mais que meia hora."

Esse comentário se resume em poucas palavras a "prefiro Bioschock a COD". E minha pergunta é simplesmente "porque?". Eu tenho motivos para acreditar que COD é tão bom quanto Bioshock, ou até melhor(não que eu ache os dois jogos bons).

" me lembra de vestir a minha coroa de espinhos e de me autoflagelar depois..."
O problema nesse caso é que vc usa o apelo emotivo como argumento. Não me interessa saber o console ou PC de sua preferencia, me interessa saber qual das plataformas é a melhor. Se vc não acha relevante ou não quer debater, tudo bem...

Shadow Geisel disse...

não é que eu use apelo emotivo, camarada. vc é que não entendeu. o que eu quis dizer com isso é que vc tenta incutir culpa pelo fato de uma pessoa jogar em consoles ou pc. isso pouco faz diferença, pois a maioria dos jogos de hoje em dia são multiplataforma (o próprio bioshock é um exemplo). e se vc não gosta de bioshock, que pena. é um clássico caso de quando a expectativa de uma experiência acaba atrapalhando a própria experiência e impedindo que ela flua. Breno, às vezes seus comentários são um bom exemplo do que discutíamos antes sobre levar uma coisa a sério da forma errada. só uma palavra pra vc: MENOS...

Retina Desgastada

Blog criado e mantido por C. Aquino

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