Retina Desgastada
Idéias, opiniões e murmúrios sobre os jogos eletrônicos
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4 de outubro de 2012

Clive Barker: Jogos de Sangue - Parte I

Clive Barker Quanto eu utilizei o destino da franquia Hellraiser como uma comparação para os rumos tomados pela série de jogos Painkiller, eu cometi uma grave injustiça com Clive Barker. O autor britânico, que já foi descrito como o "futuro do terror" pelo próprio Stephen King, tem uma relação íntima com o mundo dos jogos eletrônicos. Uma relação feita de altos e baixos, de sucesso e fracasso, de horrores e delírios.

Ainda que Barker tenha se tornado um nome conhecido do grande público com a série Hellraiser, foi na literatura que ele se destacou desde 1985. Sua bibliografia não foi totalmente traduzida para o português, mas seu primeiro livro O Jogo da Perdição foi publicado por aqui, assim como as excelentes coletâneas de contos Livros de Sangue. Porém, cinco anos após sua estreia literária, em 1990, Barker já se aventurava no mundo dos jogos eletrônicos.

Estimulado pela boa receptividade de Hellraiser, filme que ele mesmo dirigiu em 1987 a partir de um de seus contos, Barker resolveu retornar à cadeira de diretor com Nightbreed. O lançamento em 1990 coincidiria com uma trilogia de jogos para Amiga, ZX Spectrum e DOS, além de uma série em quadrinhos. O filme, entretanto, foi um retumbante fracasso comercial. Enquanto os quadrinhos, que se estendiam bem além da trama do filme, chegavam ao número 25 antes de serem cancelados, a "trilogia" de jogos ficou restrita aos dois primeiros títulos.

Nightbreed - Interactive Movie Coube à Ocean Software a tarefa de ser a pioneira em transportar os estranhos mundos da mente de Barker para as telas eletrônicas. A especialidade da empresa era justamente esta: converter franquias cinematográficas em jogos, já tendo trabalhado com versões de arcade para Rambo, Miami Vice, Platoon, Batman e muito mais. Clive Barker's Nightbreed: The Action Game foi o primeiro jogo de terror da Ocean Software e pode ser descrito como um jogo de plataforma sidescroller com alguns elementos fantasmagóricos. O segundo jogo foi Clive Barker's Nightbreed: The Interactive Movie, que buscava na mistura de adventure com ação uma forma de trazer um diferencial em relação ao seu antecessor. A despeito do título e de apresentar o diretor David Cronenberg na capa, reprisando o papel de Doutor Decker que fez no filme, há muito pouco, ou quase nada, de "filme interativo" no jogo. O terceiro título da série sequer foi esboçado.

Nightbreed Action GameO maior sucesso de Barker no mundo dos jogos viria somente onze anos depois. E viria por acaso.

Laços de Família

Undying Cover Em 1999, a finada DreamWorks Interactive, braço eletrônico da empresa de Steven Spielberg, estava trabalhando em um projeto do próprio Spielberg. Mas o resultado não estava satisfatório. Para trabalhar como consultor da história foi contratado o escritor Clive Barker. E ele trocou tudo no jogo. Nascia Cliver Barker's Undying, dois anos depois.

Originalmente, o protagonista seria um certo Conde Magnus Wolfram, um homem careca coberto de tatuagens com força sobre-humana e habilidades sobrenaturais. Barker enterrou o Conde Wolfram e trouxe o herói Patrick Galloway, um personagem mais frágil com o qual os jogadores poderiam se identificar. Se a Dreamworks Interactive antes queria um título de ação com toques de horror, Barker criou uma intrincada história de maldições familiares, suspense e muito horror.

Apesar da abertura proporcionada por Half-Life três anos antes, em 2001 ainda não eram comuns jogos de tiro em primeira pessoa com NPCs, sequências de pura exploração e conversação. Barker usou a mídia para contar a história macabra da família Covenant, cujos integrantes se corromperam por forças sinistras em busca de poder eterno. Jeremiah, o último descendente vivo dos Covenant mora sozinho em sua mansão, na companhia somente dos criados e dos fantasmas de seus irmãos, ansiosos para que ele se junte a eles. Entra em cena o investigador do paranormal Patrick Galloway, com quem Jeremiah lutou na Primeira Grande Guerra. Galloway tem uma história passada que também se revela ao longo da aventura, assim como um inimigo mortal e um estranho poder de visualizar o invisível.

O jogo trazia algumas novidades para a época, como a capacidade de carregar uma arma na mão direita e um poder mágico na esquerda, além das chamadas visões, que revelavam elementos cruciais da história em lugares saturados por eventos passados. Com um ritmo incomum para o gênero FPS, Undying atravessava diferentes dimensões e nos trazia algumas bizarrices saídas da mente do mestre do terror. E sustos, sustos de arrepiar a alma.

Undying - Covenant

Infelizmente, ainda que bem recebido pela crítica, Undying naufragou nas vendas. Um modo multiplayer, desnecessário mas prometido para ser lançado como um adicional após o lançamento, nunca foi concluído. Versões para console foram engavetadas, assim como planos para a eventual continuação que o final já indicava. Para Barker, Galloway se tornaria um herói clássico, resolvendo diferentes casos em diferentes jogos, sempre perseguido por seu eterno rival do passado. No mesmo ano, o jogo ganhou um prêmio do Gamespot: "Melhor Jogo que Ninguém Jogou".

O Terror Nunca Dorme?

Jericho - Cover Barker só voltaria a se envolver com a indústria dos jogos eletrônicos em 2007. A mesma desenvolvedora Mercury Steam do medíocre Scrapland se associou ao escritor para produzir Clive Barker's Jericho. Curiosamente, apesar do autor ter trabalhado no jogo desde o começo, Jericho acabou se tornando justamente o título de ação frenética que Undying não foi.

Na trama de Jericho, uma divisão secreta das forças especiais americanas chamada de Department of Occult Warfare (DOW) é convocada para uma estranha estrutura que emergiu no deserto. Dentro da estrutura reside uma criatura que é o Firstborn, a primeira criação inteligente de Deus, tão abominável que foi aprisionada pelo seu criador no começo dos tempos. Agora, o Firstborn pretende se libertar e instalar o caos na Terra. Cabe a um time de setes especialistas militares desvendarem o segredo de sua prisão e detê-lo a qualquer custo.

Se Clive Barker não estava inspirado no dia em que criou o roteiro, a jogabilidade foi pelo mesmo caminho. Cabe ao jogador controlar seu esquadrão, onde cada operativo possui habilidades e armas diferentes, trocando de lugar com eles enquanto atravessa diferentes cenários repletos de monstros que servem ao Firstborn. Mas o título também incorpora diversas modernidades, como Quick-Time Events e saúde regenerativa, e foi comparado a Call of Duty e Rainbow Six. Além da ausência de suspense, a Inteligência Artificial foi o último prego no caixão de Jericho, com os soldados se comportando com espetacular incompetência no instante em que se abandona o controle direto deles, segundo a opinião de vários críticos.

JerichoArmamento pesado e "horror": cinco anos antes de Resident Evil 6 

Em 2007 mesmo, com o jogo ainda fresco nas prateleiras, Barker forneceu constantes dicas de que o DOW retornaria para mais uma missão. O novo jogo começaria em "um porta-aviões, no meio do oceano, com 666 crianças a bordo...". Cinco anos depois, não há sinais de que o projeto vá adiante. Nesse meio tempo, a Mercury Steam seguiu outro caminho e lançou Castlevania: Lords of Shadow, com continuação no forno.

Por enquanto, o baú de mistérios de Clive Barker permanece trancado. Mas ainda há algumas criações abortadas que devem ser relembradas a seguir...

Ouvindo: Cavalera Conspiracy - Terrorize

5 comentários:

Jimmy Fischer disse...

Eu joguei Jericho, apesar das críticas foi um baita jogo.Uma pena que cheguei em um ponto que não consegui passar, foi um balde de agua fria.
Pra um FPS a jogabilidade era bem diferenciada.

Augusto Lacerda Dalpiaz disse...

O Resident evil 5 já era assim, puxa até o quatro tinha uns resquícios

Gabriel disse...

Joguei Undying, zerei e foi um jogo muito legal, o problema é que era pra ter uma continuação, o que não teve...Clive Barker acertou nesse e posso dizer que se ele continuasse, iria dar o que falar...mas infelizmente morreu...
Jericho gostaria de jogar...muita gente que jogou disse que é assustador, mas vendo algumas screens...vi que é um doom meio disfarçado...não sei o que tera na parte dois, mas esperando ansiosamente! =D

@iguuu_poa disse...

Ainda não li o post por falta de tempo, mas devo admitir uma coisa: ótima música que está ouvindo! Cavalera Conspiracy é muito bom!

Tiago disse...

Undying na minha opinião foi espetacular. Graficamente era muito bonito, a jogabilidade de FPS era ótima (se não me engano ele utiliza a engine do Unreal) e os elementos de história de horror permeavam muito bem a trama. Barker acertou no jogo, mas talvez a EA não ajudou a alavancá-lo para o sucesso.

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Blog criado e mantido por C. Aquino

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