Retina Desgastada
Idéias, opiniões e murmúrios sobre os jogos eletrônicos
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2 de agosto de 2012

Reinações Eletrônicas - Parte II

Manhole

Rodar o emulador Dolphin para jogar com meu filho significava: configurar o televisor para receber o sinal HDMI, plugar o gamepad, plugar o extensor USB para alcançar o sófá, abrir o emulador, torcer para o jogo não travar, rodar com velocidade inferior ao que eu estou acostumado. Meses nesta rotina e um gamepad com mal-contato no fio depois, passei a comprar jogos casuais e/ou infantis no Steam ou indies ou freewares e procurar alternativas para o acervo do Gamecube. Ao mesmo tempo, algo começava a acontecer com o garoto: uma bela transição dos quatro para os cinco anos.

O desabrochar não foi livre de obstáculos indesejados, entretanto. Snuggle Truck, por exemplo, é um mal-disfarçado jogo em Flash que enjoa depois de vinte minutos e não vale nem os US$2.50 investidos durante uma promoção. BEEP é uma simpática aventura envolvendo plataforma e um projeto de Gravity Gun que se transforma depois de uma hora em um exaustivo teste de paciência.

Graças a uma dica do Gamesfoda, descobrimos o cativante Dino Run. Em um dia em que meu filho estava em casa, gripado, foi nossa diversão por tempo o suficiente para o meu dedo doer. No dia seguinte, reprise da sessão do webgame. Por um destes acasos do destino, a versão desktop do jogo foi incluída em um destes pacotes indie da vida e arremetei com gosto. Agora, a corrida com o dinossauro ficou séria: com a versão paga, se tornou possível escolher as cores do animalzinho e até chapéus! Não preciso dizer que meu filho adora escolher um dinossauro diferente a cada partida. A versão paga também roda em tela cheia e tem algumas novidades. Mais de um mês depois, o garoto continua pedindo o título de jogabilidade simples, gráficos pixelados e cuja corrida pode durar até 30 minutos sem parar. Haja dedo.

Mr Bree

Para quem curte plataforma, mas está com a grana curta, a pedida é o gratuito e nacional Mr. Bree. Até onde eu sei, o único lugar para fazer o download é através da Nuuvem. Mais uma vez, os gráficos remetem aos jogos do passado e as armadilhas são cruéis. A trilha sonora é um trabalho excepcional que transborda melancolia. A dificuldade é brutal e é impossível (pelo menos para mim) atravessar um nível sem morrer pelo menos umas trinta vezes: por todo o cenário, lâminas que transformam o pobre porquinho em pasta rosada. Meu filho não se intimida diante do constante destino cruel do protagonista e grita instruções ou pede cautela.

Aos trancos e barrancos, acabei encontrando uma boa opção através do Steam. Depois do desastre de Sonic 4, resolvi apostar outra vez no ouriço e comprei Sonic & All-Stars Racing e não me arrependi. Finalmente, um jogo de corrida com velocidade, colorido e divertido. E, depois disto, ainda viria Plants vs Zombies.

Viagem Fantástica

Antes de nossas férias, percebi que, entre Dino Run, um ocasional BEEP, Sonic, PvZ e Mr. Bree, em ritmo quase diário, eu estava com um futuro jogador nas mãos. Para o retiro de uma semana, imaginei que teria que colocar algo "extra" na bagagem.

Como o computador da vovó é uma antiga máquina minha com 512MB de RAM e sem placa de vídeo decente, boa parte do meu acervo estava fora de cogitação. Não faço a menor ideia de como se autentica o Steam em um computador diferente (e nem se é possível). Então, seriam apenas jogos sem qualquer DRM e simples. Convoquei Dino Run e Mr. Bree para a tarefa e dois títulos do GOG: Manhole e Treasure Adventure Game.

Durante o dia, meu filho brincava no quintal como uma criança solta no parque: mexia na areia, cavava, corria pelo mato, inventava aventuras. De noite, a jogatina no quarto com o pai enquanto os adultos viam Empreguetes, Carminha e Rita na televisão. Mas Dino Run esgota depois de um tempo, Mr. Bree empacava na dificuldade e Treasure Adventure Game sequer rodou no computador antigo. E, por um estranho preconceito, tive a impressão de que Manhole não iria impressionar o menino. Estava ficando encurralado.

Claw Minha salvação veio dos demos de jogos antigos. Títulos que eu havia experimentado dez, doze anos atrás, mas não tinham me cativado por serem infantis demais. Que ironia: seriam perfeitos agora. Gex: Enter the Gecko, Pandemonium, Claw. Jogos brilhantes, coloridos, com poucos requesitos e cujo download poderia ser feito rápido em uma conexão de banda média.

A resposta do garoto foi mágica: entusiasmo, fascínio, alegria. Não importava que alguns destes demos durassem pouco mais de 20 minutos. Ele queria de novo, e de novo, e de novo, e de novo. Com uma fome de novidades que eu não via em muito tempo, ele devorava cada movimento. No final de nossa estadia, eu já estava testando jogos ainda mais antigos e abandonwares.

Até estes dias fantásticos na casa da vovó, ele não tinha o controle de nada. Temia que a frustração da dificuldade e a quantidade de botões pudesse assustá-lo nestes primórdios da odisséia eletrônica. Enquanto um jogo baixava, resolvi mostrar Manhole. E foi apoteótico.

Toca do Coelho

Manhole foi um dos primeiros trabalhos dos criadores de Myst, então a fórmula já estava presente no jogo. Você navega por telas estáticas (ou com pouquíssimas animações) e clica em objetos ou caminhos para descobrir coisas fantásticas. Ausente em Manhole estão justamente os puzzles infernais que fizeram muito marmanjo arrancar os cabelos ou comprar um guia para Myst. Em Manhole, não há desafios, enredo ou inimigos, apenas o infinito prazer de explorar e passear por um universo que parece saído dos sonhos delirantes de Lewis Carroll.

Manhole-03

Toda a interação do jogo acontece através de cliques do mouse. É impossível antecipar o que pode aparecer ou acontecer em cada ambiente e personagens exóticos desfilam na sua frente. Apesar do mundo de Manhole ser pequeno, existe uma farta quantidade de detalhes e muitas formas de se chegar a um determinado lugar. Se perder, afinal, faz parte da brincadeira.

Inicialmente, eu controlava o mouse e meu filho dizia onde queria ir ou o que queria clicar. Mas eu achei monótono. Lamentavelmente, existe um limite para o quanto um homem de 38 anos ainda pode se deslumbrar com animais falantes e coisas absurdas. Então, tomei a melhor decisão que poderia tomar: coloquei o garoto sentado na minha cadeira e o mouse em sua mão. "Agora vai". Nos primeiros minutos, o cursor insistia em sair da área de jogo. Os desenvolvedores foram cuidadosos o bastante para colocar um botão de "Kid Mode" que desativa o controle de desistir (que passa a ser possível apenas com a combinação Alt+F4, que nenhuma criança conseguiria descobrir). Mas, com perserverança, o garoto de cinco anos passou a clicar onde queria. Seu tempo para dominar o uso do mouse foi infinitamente mais rápido do que o meu, quinze anos atrás. O que eu fiz em dias, ele conseguiu em menos de meia hora.

Manhole-01

Nos outros dias, entre sessões de demos e outros jogos em que eu controlava, ele pedia o "jogo do coelho" e assumia o comando. O rosto concentrado na tela, a pequena mão movendo o mouse deixou a família inteira de queixo caído. Ele estava imerso. Era um jogador pleno agora.

Ouvindo: Fabulous Disaster - Down the Drain

5 comentários:

breno disse...

"Treasure Adventure Game sequer rodou no computador antigo."

Isso é uma das coisas que mais me irritam em jogos "indies"! Jogos com graficos inferiores a um playstation 1 requerendo configuração de Playstation 2 pra rodar! Nem os ports de console conseguem essa proeza! Cade as opções de configuração?

E ai Aquino, já testou algum jogo estilo beat em up? Seria interessante vcs jogarem algum jogo co-op! Interessante notar que crianças não estão nem ai pra graficos!

Anônimo disse...

Minha menina tem 6 anos e ja joga no pc desde os 4 e sozinha fico apenas de longe no notbook observando, pena que ela só se interesse por stardoll e jogos da barbie, uma vez criei uma conta para ela em Tibia e no começo até ficou empolgada com a posibiladade de liberdade, andar e sair por ai e os controles simples, criei até um novo char para a gente poder jogar junto, mas o mundo é cruel e ela logo perdeu o interesse depois que chegamos em Main, por causa das mortes.

Marcus Gonzallez disse...

Aquino, até onde eu sei basta instalar e logar com sua conta do Steam em qualquer pc. Usava na empresa (sic) onde trabalhava e na casa de meu cunhado também, sem problemas. E à propósito, tenho um filho de 3 anos e 3 meses e fiz uma troca com um amigo de um violão em um N64, que hoje é dele e possui apenas o Mario 64. Não é que o cara aprendeu a jogar? Joga todos os dias pelo menos uma hora e tem que se vestir de Mario pra jogar, com camisa e boné vermelho, calça azul e eventualmente tenho de pintar um bigode nele, acredita? Hahahaha... Cara, o meu gosta demais de jogos. Mario é o favorito, mas também joga Sonic e até passa algumas fases sozinho. As vezes até me preocupo do tanto que ele fala que é o Mario, mas enfim... Filho de peixe, peixinho é!

Shadow Geisel disse...

"...e tem que se vestir de Mario pra jogar, com camisa e boné vermelho, calça azul e eventualmente tenho de pintar um bigode nele, acredita?"

kkkkkkkkkkkk. eu acredito. kkkkkkkk

Gabriel disse...

Recordo da minha infancia, só q ao inves de jogar jogos do estilo, me divertia jogando duke nukem e tomb raider 1...gostava de jogos coloridos, mas vivia jogando jogos do meu pai "os jogos de adulto" temo em até dizer que eu já tinha ideia de como era um corpo nu de mulher com 5 anos de idade, só de jogar os adventures e os jogos de tiros mal feitos.

Sei que pode parecer idiotice, mas acho que para seu filho é bom jogos em flash...já que são diversão garantida de não gostou é só voltar a pagina e escolher outro.
Newgrounds creio que é um dos melhores portais e também tem emuladores de jogos antigos e o nosso querido amigo Clickjogos, quando cuidava de crianças pequenas, sempre colocava nesse site, deixava um joguinho meio idiotinha e eles se divertiriam por horas a fio.

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Blog criado e mantido por C. Aquino

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