Retina Desgastada
Idéias, opiniões e murmúrios sobre os jogos eletrônicos
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29 de setembro de 2011

Jogando: Enclave

Enclave - Box Um antigo demônio aprisionado a muitas gerações está prestes a retornar. Seu exército sombrio de Orcs, Goblins, Necromantes e Assassinos marcha em direção ao reino dos homens e dos elfos. Cabe ao jogador impedir o avanço do Mal. Esta envelhecida espinha dorsal de história já alimentou sagas desde a época de Tolkien e foi explorada sabiamente em muitos jogos. Não é este o caso de Enclave.

Um enredo repleto com todos os clichês do gênero impulsiona este jogo de ação hack and slash que não tem um único traço de RPG em seu DNA. Pelo menos a Starbreeze Studios, em seu segundo trabalho após o obscuro RTS The Outforce, não tentou enganar ninguém e sempre descreveu o título como um jogo de ação e aventura. E ação não falta em Enclave: a ininterrupta ação de clicar sobre os inimigos até que eles caiam. Guerreiros só carregam duas armas (e um escudo opcional), arqueiros podem levar até dois tipos de armas de longo alcance e uma arma branca, e magos podem levar até dois cajados mágicos (embora não haja a menor necessidade de usar dois). Só existe um tipo de poção mágica que pode ser utilizada, que restaura energia. Com estas opções táticas limitadas e um sistema de combos praticamente inexistente, cada combate na aventura exige pouco raciocínio e pouco reflexo.

Enclave - My Screenshot 08 Enclave - My Screenshot 03

Para piorar o desinteresse pelas batalhas, inimigos mortos não rendem qualquer pontuação. A verdadeira moeda de troca de Enclave são o ouro e as jóias espalhados em cada nível, o que transforma cada oponente em um aborrecimento entre o jogador e a grana. Com o dinheiro acumulado, se investe em armas melhores capazes de derrotar inimigos melhores enquanto a "trama" progride. Em alguns níveis menos lineares chega a ser divertido quebrar a cabeça para tentar alcançar aquela última sacola de ouro colocada em uma altura aparentemente impossível.

Em teoria é possível destravar e utilizar diferentes classes de personagens, mas isto não é obrigatório ou incentivado. O equilíbrio entre as classes tampouco é balanceado. Segundo o enredo, todos estão viajando juntos e são vistos durante as cutscenes, mas o jogador só controla e vê um de cada vez dentro do jogo. O que não chega a ser ruim, se levarmos em conta o nível da inteligência artificial presente. Todos os personagens tem acesso à mesma quantidade de ouro, então você não precisa descobrir um santo para cobrir outro quando escolhe o equipamento do personagem antes de cada missão. O que também torna ridículo manter o acesso às armas iniciais depois de um certo tempo. Quem em sã consciência escolheria a Espadinha de 50 Moedas quando se tem dinheiro para equipar a Destruidora de Mundos de 900 Moedas?

Enclave - My Screenshot 02 Enclave - My Screenshot 04

Por muito pouco, eu não desisti no meio de Enclave. Uma história patética acompanhada de batalhas insossas não é a minha definição de diversão. Um outro cenário consegue apelo visual no início (como a impressionante prisão submarina de um mago), mas a generalidade predomina. Felizmente, o jogo é dividido em duas campanhas: Luz e Escuridão. Enquanto a primeira oferece aquele clichê nosso de todo dia, a segunda coloca o jogador no papel de um agente do Exército das Trevas. A história desiste de tentar ser grandiloqüente e se reduz ao mínimo: mate fulano aqui, pegue o objeto X ali, missões passadas rapidamente pela líder do Exército que teletransporta o personagem sem mais delongas direto para o ponto-chave de cada operação. Por incrível que possa parecer, essa dinâmica mais objetiva funciona muito melhor que a ladainha da campanha da Luz. E, mais incrível ainda, com direito a reviravolta perto do final, mesmo sem muita surpresa. O grande defeito é que você precisa sofrer a Campanha da Luz para desbloquear a Campanha da Escuridão.

Na Campanha da Escuridão estão também os melhores cenários e, neste aspecto, Enclave realmente se destaca. Imponentes Castelos, místicos refúgios e algumas novas visitas a lugares já vistos na Campanha da Luz, desta vez no outro lado da guerra. Os cenários estão caprichados, ainda que alguns sejam muito curtos. Na pele de uma Assassina, de um Goblin, de um Ogro ou Necromante, você passar a campanha inteira destruindo a Utopia dos Paladinos, Elfas e Cavaleiros. Ver o seu Goblin encapuçado e de olhos vermelhos trafegando pelos belos jardins de um palácio, enquanto dizima a flechadas a guarda élfica, é uma experiência que não se vê todo dia.

Enclave - My Screenshot 05

Parabéns também ao pessoal que cuidou da parte sonora do jogo. Tanto a trilha quanto os efeitos sustentam o clima clássico medieval e fornecem uma nova camada de apreciação a um jogo quase raso.

Enclave deveria ter uma continuação. As duas Campanhas terminam com ganchos para mais acontecimentos. E, de fato, uma sequência chegou a ser anunciada pela Starbreeze, no mesmo ano em que o jogo chegou no PC, vindo do Xbox. Enclave II prometia um novo sistema de combate e modo cooperativo para vários jogadores, duas mudanças que poderiam ter grande impacto no jogo. Mas uma data de lançamento nunca foi definida e o projeto afundou. No ano seguinte, a Starbreeze produziria o elogiado Knights of the Temple e dois anos depois criaria o magnífico The Chronicles of Riddick: Escape from Butcher Bay.

Enclave - My Screenshot 06

Pontos positivos de Enclave: a Campanha das Trevas e seus cenários, a trilha sonora de qualidade, gráficos compatíveis para o ano de lançamento. Pontos negativos de Enclave: a história descartável, a mecânica insípida de combate, o sistema de evolução desprovido de imaginação. Nota final: 7.0.

Ouvindo: Leaves' Eyes - Farewell Proud Men

13 comentários:

Valber disse...

Aquino, vc ja jogou ou ouviu falar de Blade of Darkness? Lembra um pouco Enclave, so que foi lançado uns dois anos antes e tem um sistema de combate muito mais sofisticado, em que vc ganha combos à medida em que sobe de nivel. Cada espada tem seus proprios combos tambem. So que os combos nao funcionam como em outros jogos de ação. Vc tem que estudar o movimento dos inimigos e o momento certo de desferir os combos. É meio complicado de controlar, mas depois que vc treina, se torna um sistema muito bom.

Tem alguns problemas: O jogo pode ser muito frustante na dificuldade, e é meio perturbador ver seu personagem ser feito em pedaços (literalmente). É MUITO violento. Um dos mais violentos que ja vi. A dificuldade tambem ta nos cenarios, que sao complexos e podem fazer o jogador se perder (nao tem minimapa). E ainda tem umas armadilhas mortais. Se vc nao liga pros problemas citados, eu recomendo.

C. Aquino disse...

Hack and Slash não é um dos meus gêneros favoritos, mas é bom para extravasar de vez em quando. Fiquei interessado nesse Blade of Darkness. Infelizmente, não encontrei ele em nenhuma loja virtual...

Marcos A. S. Almeida disse...

Na verdade o nome é Severance:Blade of Darkness.Se quiser testar baixe a demo aqui=> http://www.fileplanet.com/51710/50000/fileinfo/Blade-of-Darkness-PC-Demo

Breno disse...

Bah!jogo datado e ultrapassado!

This is the real deal:
http://cloud.steampowered.com/ugc/542888359877359995/6BB62BA08559DF8E70D7D8043D0B1C4869686A53/

Agora falando serio,Aquino quando vc vai jogar thief

Valber disse...

Tambem nao gosto muito de Hack and slash, mas achei Severance muito à frente do gênero. Tambem achei os cenarios bem trabalhados, ao contrario dos corredores lineares de hoje em dia.

Dragon Age 2? Breno, espero que a postagem do link tenha sido por sarcasmo hehehehehe. Sobre Thief, tambem recomendo, mas tem que ver se o Aquino gosta de jogos de Stealth, ja que Thief respeita o gênero (pouco combate)

Marcos, verdade, esse é o nome completo. A principio, o nome do jogo era "Blade: The edge of darkness", mas teve que ser mudado por direitos autorais.

Sei que é um pouco complicado rodar em sistemas modernos. Tem uma chance maior de rodar no XP, ou com um renderer de opengl.

C. Aquino disse...

Marcos, valeu pela dica do demo. Vou testar quando tiver um tempinho (apesar de eu não dar sorte com demos...).

Breno, ri muito com o screenshot do Dragon Age 2. Demorei para reconhecer o jogo, de tanto sangue na tela. Não imaginava que era esse desastre! Lembrei na hora do Warhammer 40K: Space Marine, onde é tanto sangue, tiro e efeito de luz em cena que você não sabe mais em quem está batendo ou se está apanhando. Eu joguei o demo do Thief na época do lançamento e achei sensacional. Acabei adquirindo o jogo, mas ele foi ficando arquivado, foi ficando... um dia eu juro que jogo.

Valber, meu sistema ainda é o XP e deve continuar sendo por pelo menos mais um ano. Supostamente, o Severance esteve à venda na loja da Codemasters por menos de dez dólares até o ano passado. Hoje, eles trocaram o site por uma página no Facebook (?!) e a loja sumiu.

Valber disse...

So pra completar: sobre essa Demo do jogo, nao da pra avaliar por ela. É uma Demo bem limitada, muitos controles do teclado nao tinham sido implementados ainda.

C. Aquino disse...

E para quem curte ou curtiu o Severance: Blade of Darkness, este site que o tempo esqueceu tem MUITO material guardado: http://blade-of-darkness.bigtruck-canada.ca/. Tem mapas, mods e 40(!) wallpapers do jogo.

Breno disse...

Não sei se vcs perceberam um dialogo no fundo que diz:"nossa esse lugar nunca esteve tão calmo",enquanto o sangue jorrava solto a poucos metros.Em termos de mundo reativo,DA2 é um dos piores nesse requesito.

Pra quem gosta de Thief, tem o mod The Dark Project que utiliza a engine do Doom 3 para recriar o mundo de thief.Pelo que eu vi ate agora,o time de modders fizeram um excelente trabalho.Para quem gosta de FPP imersivos e com furtividade,a trilogia thief é obrigatoria.

Valber disse...

Caramba, agora que reparei esse detalhe na screen. Mais um dia monótono em kirkwall hahahahahahah (e que coisa ridicula, os inimigos explodem quando morrem?)

Sobre a duvida de Aquino com relação a Codermasters, olha o que Wikipedia diz:

"On 3 June 2011, the Codemasters.com website was breached. It is believed that the attacker was able to gain access to the personal information of registered users with Codemasters accounts. Codemasters notified its users about the attack via email on 10 June 2011, after which their websites were pulled down and users redirected to their Facebook page"

Breno disse...

Valber:acho que vc não acompanhou a campanha de marketing deles.O lema era "press a button,something awesome happens"(pressione um botão para algo incrivel acontecer)por isso que os inimigos EXplodem aos golpes de espada e marreta.O que é mais incrivel é o fato de este ser o jogo mais desprezado da empresa,pelo menos em termos de critica(sem contar produtos de baixo orçamento como sonic:dark brotherhood e MDK2).Mas mesmo assim,eles não querem abandonar essa direção.

Anônimo disse...

Essa é a mesma produtora do futuro syndicate ?

C. Aquino disse...

Isso mesmo, a Starbreeze é a desenvolvedora por trás do "novo" Syndicate. Como eu não joguei a série original e virei fã da Starbreeze depois de Riddick, eu estou torcendo pelo sucesso do jogo. Vale lembrar que a idéia de ressuscitar a franquia Syndicate foi da EA, dona da marca, que provavelmente contratou a Starbreeze para criar sua própria versão de Deus Ex: HR quando o título da Eidos começou a gerar burburinho. Se a EA deixar a Starbreeze trabalhar em paz (o que é raro), podemos ter um jogo de qualidade.

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Blog criado e mantido por C. Aquino

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