Retina Desgastada
Idéias, opiniões e murmúrios sobre os jogos eletrônicos
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27 de agosto de 2011

Mudando Vidas

Portal 2 - Proposta de Casamento

Na semana passada, Gary Hudston conquistou de vez o coração da garota que ele amava. Até aí nada demais, se ele não tivesse usado o jogo Portal 2 para fazer o seu pedido de casamento. Até aí nada demais, se ele não tivesse conseguido contatar dois programadores em segredo para criar uma série de mapas exclusivos para surpreender Stephanie “Stephy” Harbeson no dia seu aniversário de 21 anos. Até aí nada demais, se ele não tivesse feita a própria GLaDOS realizar o proposta. Hudston telefonou insistentemente para a Valve e conseguiu chamar a atenção da própria Ellen McLain, a dubladora oficial da arquivilã do jogo, que aceitou gravar as falas de graça para serem utilizadas nos níveis customizados. O resultado final deixou a metade masculina dos jogadores impressionados com a determinação e a criatividade e a metade feminina morrendo de inveja de Stephy.

O blog Girls of War provou que é possível fazer jornalismo de jogos de qualidade no Brasil e obteve uma entrevista exclusiva com Gary Hudston. Vale a conferida para ter todos os detalhes desta emocionante loucura e prestigiar o trabalho do blog.

Os mapas criados para Stephy estão disponíveis publicamente para download (73MB).

Influências Positivas

A mídia sensacionalista tem a desgastante tendência de apontar os jogos como a origem das mazelas do mundo ou a motivação por trás de crimes hediondos. Como se costuma dizer, notícia boa não vende jornal. Eu diria também que não gera clique, não ganha voto, não rende seguidores, nem no Twitter, nem no púlpito. Ainda assim, a vida segue desafiando a lógica enviesada das redações e bons exemplos como a história de Gary Hudston existem aos borbotões.

O Tumblr How Games Saved My Life tem a proposta de reunir em um só lugar um punhado destas histórias, de pessoas que foram de alguma forma influenciadas pelos jogos e tomaram decisões positivas em suas vidas ou se tornaram capazes de triunfar acima das adversidades. Apesar de estar no ar por pouco mais de uma semana, o site já se tornou um relicário de momentos poéticos.

Stephen Ploch conta a história de um amigo, Jason, que se tornou viciado em drogas pesadas. Até um dia em que, na casa de seu "fornecedor", ele parou diante de um Xbox e jogou a noite inteira até ser posto pra fora. A partir daquele dia, Jason passou a economizar uma parte do dinheiro do vício para comprar seu próprio console. Quando juntou o dinheiro necessário, passou a comprar um jogo atrás do outro. Até que não sobrou mais nada para comprar drogas. E ele viu que não precisava mais delas. Poderia se argumentar pejorativamente que Jason trocou um vício por outro. Mas seu amigo escreve: "para todos os fins ele deveria estar morto agora considerando o quanto ele usou. Mas seu amor pelos jogos salvou sua vida. Ele está livre das drogas tem cinco anos agora".

Final Fantasy VIII

Greg Kaperski perdeu a primeira namorada em um acidente de carro durante uma viagem que os dois estavam fazendo. Durante muito tempo, ele se isolou do mundo ao redor e de si mesmo, incapaz de lidar com as emoções geradas pela perda. Através de Final Fantasy VIII ele projetou a namorada morta no personagem de Rinoa e, através daquele filtro, recuperar a capacidade de lidar com o riso e com o choro. Naquele ambiente controlado da ficção ele desenterrou as emoções e recuperou a coragem de viver. Desde então, ele vem jogando cada novo título de Final Fantasy. Hoje, ele tem um casamento maravilhoso e um emprego na área de animação e aprendeu que "a vida é incrível...curta pra caralho às vezes... mas incrível assim mesmo".

Fable 2 Antony nos conta como conseguiu ensinar moralidade ao seu irmão caçula, Charlie, usando as escolhas existentes em Fable 2. Aos oito anos de idade, o caçula estava obcecado por GTA, Gears of War e Modern Warfare, títulos completamente inadequados para sua idade. Pior do que isso, Charlie estava se tornando agressivo e distante da família. A típica história que os tablóides adoram, ignorando a existência de uma classificação etária. Entretanto, Antony virou a mesa ao começar a jogar Fable 2 em modo cooperativo com Charlie. Pela primeira vez, o garoto foi apresentado a um titulo onde atos e consequências estão profundamente relacionados e onde sacrifícios são exigidos dentro da narrativa. Ao final do jogo, o pequeno Charlie havia tomado uma série de decisões que provocaram a morte de sua família virtual, mas haviam salvado a vida de muitos. Em prantos, ele não aceitava que não poderia ter tudo ao mesmo tempo, mas Antony explicou que ele havia tomado o caminho moral. "Eu não vou dizer que meu irmão é uma criança perfeita agora, mas seu comportamento e suas notas melhoraram muito, e eu estou mais envolvido em sua vida".

A história de Morgan McCormick é controversa em tempos de homofobia declarada. Mas ele/ela é um transexual lésbico. Explicando em miúdos, ele é um cara que virou mulher, mas ainda gosta de mulheres. Ele conta as dificuldades de sua infância e sobre como sua luta interior beirou o insuportável, sentindo-se uma menina aprisionada em corpo de menino. Ainda que não existam personagens transexuais populares, os jogos eletrônicos ajudaram Morgan a aceitar que é possível ser uma pessoa determinada e arrojada mesmo sendo uma mulher. Pode parecer uma afirmação óbvia, mas quando analisamos a maioria dos heróis truculentos dos jogos (e da cultura moderna, como um todo), nós percebemos que eles são homens: Master Chief, Solid Snake, Kain, Wolverine. Entretanto, personagens como Joanna de Perfect Dark e outras tantas mostraram a Morgan que ele poderia ser uma personagem feminina de poder, sem nenhum problema. Se os jogos eletrônicos são capazes de elevar a auto-estima de um rapaz em crise, o que eles não podem fazer com as meninas? McCormick está feliz consigo mesmo agora e feliz com sua namorada, e jogam juntos para celebrar a união.

Como diz McCormick, "obrigado, jogos eletrônicos. Por me fazerem companhia e me ajudarem durante a tempestade (...) e por tornar a vida significativamente menos angustiante para um monte de pessoas".

Ouvindo: Guns N' Roses - Patience

3 comentários:

Eder RM disse...

Fantástico!

É de exemplos assim que o mundo precisa.

Anônimo disse...

Ótima matéria se não fosse aqui nunca teria conhecimento disso, Valeu cara!

Anônimo disse...

Final Fantasy VIII é o jogo da minha vida também. Joguei-o logo após a morte de uma grande amiga que era apaixona pela série. Mas joguei achando que seria um simples passa tempo, por ser um jogo imenso e que me levaria tempo e assim, me faria pensar em outra coisa. Mas a história me cativou bastante e eu me espelhei durante o jogo inteiro no Squall. FANTÁSTICA a matéria. Assim vemos que jogos não trazem somente a violência, como dizem. São uma "terapia".

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Blog criado e mantido por C. Aquino

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