Retina Desgastada
Idéias, opiniões e murmúrios sobre os jogos eletrônicos
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2 de agosto de 2011

Masmorras e Sonhadores

Todo mundo que estuda os RPGs no computador gosta de citar o livro Dungeons and Desktops, de Matt Barton. Eu devo ter me confundido em algum momento e acabei comprando Dungeons and Dreamers, de Brad King e John Borland.

Dungeons and Dreamers

Se o motivo foi esse mesmo, minha memória desgastada não pode ter certeza. Mas posso dizer que a "troca" foi muito afortunada.

"Dungeons and Dreamers" narra não apenas o surgimento dos RPGs para computador, mas o nascimento e a evolução do próprio conceito de comunidades virtuais de jogadores, do surgimento de toda uma cultura em torno do hábito de jogar e sua prática coletiva. A saga vai desde a primeira reunião dos futuros criadores de D&D até a formação de ligas profissionais de jogadores de esportes eletrônicos, cobrindo cerca de 25 anos de história essencial do crescimento da indústria e, principalmente, da paixão dos primeiros desenvolvedores e usuários.  Infelizmente, sendo um livro de 2003, ele não cobre a astronômica ascensão de World of Warcraft no cenário dos MMORPGs. Por outro lado, temos o surgimento dos MUDs, detalhes da criação de Ultima Online e da briga de Richard Garriott para ver sua visão de mundo virtual concretizada, a chegada de Everquest, a explosão de Counter-Strike e até os primeiros esboços do que seria o mal-fadado projeto Tabula Rasa, do mesmo Garriott.

Vemos que os RPGs dominavam o cenário dos jogos para computador nos anos 80, pelo menos no aspecto social de interação entre os jogadores e a formação de simpatizantes, pessoas que, pela primeira vez, vestiam a camisa gamer. O livro mostra a força dos novos universos virtuais proporcionada pelos espaços tridimensionais de Wolfenstein e Doom e as primeiras competições deathmatch entre os jogadores. Em seguida, entram em cena os universos virtuais persistentes e as ondas provocadas por estes novos espaços. E, finalmente, aquilo que se iniciou em torno de mesas de jogo em guetos geek de faculdades se espalha para o sofá da sala e invade o imaginário de toda a sociedade. Hoje, é impossível fechar os olhos para a força do multiplayer ou para as comunidades construídas em torno do prazer de ser um jogador.

id software (1992)id software (1992): John Carmack, Kevin Cloud, Adrian Carmack, John Romero, Tom Hall, & Jay Wilbur

Porém, "Dungeons and Dreamers" não é uma análise fria e acadêmica do assunto. Brad King e John Borland escrevem com conhecimento de causa e paixão pelo tema abordado. O resultado é um livro repleto de histórias deliciosas sobre aquilo que todos nós gostamos, com revelações que oscilam entre o poético e o documental. De que outra forma eu saberia que Richard Garriott escreveu Akalabeth, o precursor de Ultima, em 29 cadernos porque não tinha acesso em tempo integral ao computador da escola? Ou que o jogo rendeu a Garriott em poucos meses três vezes mais do que seu pai ganhava em um ano? Você sabia que o lançamento do demo de Doom atrasou várias horas porque a id software não conseguia entrar no servidor para subir o arquivo uma vez que já tinha centenas de pessoas logadas esperando a chance de baixá-lo? Que a perseguição aos jogos violentos já afetou a Nintendo e a Sega nos anos 90? Você conhece a história por trás da Ferrari vermelha de John Carmack?

São tantas lendas que é impossível não sair do livro sem um sorriso no rosto pensando nos pioneiros e na estrada que eles pavimentaram. Se puder, compre o livro (loja barata com frete grátis para o Brasil!). Se não puder, instale um jogo, entre neste admirável mundo novo e prepare-se para fazer o próximo capítulo.

Ouvindo: Bauhaus - Slice of Life

Um comentário:

Poa Kli-Kluu disse...

Me animou demais para comprar este livro! XD
Estou pensando seriamente em gastar algumas doletas, hm...

O que mais me motiva a gastar tais doletas são as curiosidades, como esta que conta o jogo escrito em 29 cadernos!
Estou indo agora mesmo instalar Baldur's Gate...

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