Retina Desgastada
Idéias, opiniões e murmúrios sobre os jogos eletrônicos
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3 de agosto de 2011

Depois de Diablo

A série Antes de Diablo serviu para mostrar que existiam jogos de RPG para computador muitos anos antes dos desenvolvedores de Diablo saírem da pré-escola, ao contrário do que muita gente pensa e certos "jornalistas" propagam. Vimos A Semente de Rogue, Os Mundos de Ultima, O Poder e a Magia de Might and Magic, Wizardry 101 e Dungeons and Dragons and SSI. Agora, enquanto a Blizzard escolhe o tenebroso caminho da conexão constante e obrigatória com a internet, mata a comunidade modder e capitaliza em cima do mercado de itens raros em Diablo III, como fica o legado de seus antecessores? Que caminhos tortuosos os pioneiros tomaram nesta era tão estranha?

Dungeons of Dredmor

A semente de Rogue continua firme e forte, gerando novos brotos a cada ano justamente onde sempre existiu: no mercado independente. Sem a necessidade de orçamentos astronômicos mais com muita devoção ao fator diversão, a pequena Gaslamp Games acaba de lançar exclusivamente via Steam o jogo Dungeons of Dredmor. Bebendo forte na fórmula dos roguelikes e se inspirando no típico senso de humor bizarro de Zork, outro clássico RPG de décadas atrás, o título tem alcançado vendas expressivas e provocado alvoroço na mídia especializada. Masmorras randômicas, dificuldade insana, cenários e monstros desenhados à mão, infinitas possibilidades de itens e habilidades, hordas de criaturas diferentes, situações inusitadas. Tudo por isso por cinco dólares e sem conexão permanente.

Franquia Ultima

Richard Garriott pode ter se desligado há muito tempo dos mundos de Ultima, mas a atual guardiã da marca insinuou um ressurgimento da série. A Electronic Arts colocou no ar uma misteriosa página meses atrás para celebrar os 14(!) anos de atividade de Ultima Online e os mais de 30 anos de existência da franquia. Ultima Forever traz pouco mais do que algumas imagens e palavras bonitas e o distante Ultima IV liberado para download. Há promessas de expansão no conteúdo do site, mas nada de concreto por enquanto. Nem mesmo uma menção ao relançamento dos raros Ultima Underworld I e II no GOG, o que é estranho para uma página que se propõe a promover tudo relacionado à Ultima. Você também não irá encontrar referências à iniciativa a partir dos sites da EA. Completando o enigma, Ultima Forever exibe o logo da Bioware no rodapé da página, desenvolvedora que nunca teve qualquer relação com a série. Até agora.

(ironicamente, a marca Origin, antes associada à empresa de Garriott comprada pela EA, hoje tem um significado completamente diferente dentro da indústria)

Clash of Heroes

A Ubisoft não tem o mesmo pensamento em relação à marca Might and Magic. Atualmente, a Ubisoft pensa na marca não em termos de um universo coeso com décadas de existência mas como um etiqueta para se colocar em qualquer jogo, FPS, estratégia, casual, corrida, luta, que tenha elementos de fantasia.Em 2009, dois produtores atuais da série foram gentis o suficiente para responder algumas perguntas dos fãs da antiga sobre os rumos que a franquia estava tomando debaixo da nova proprietária. Na época, a empresa tinha acabado de lançar Clash of Heroes, um derivado com visual de mangá. Eles foram gentis o suficiente para dizer que pode até ser que um dia, no futuro distante, exista um novo jogo de RPG com o nome de Might and Magic, mas ele não se chamará Might and Magic X.

Wizardry Online

Enquanto isso, a série Wizardry migrou totalmente de continente e encontrou um novo lar nas terras japonesas. A criação americana não apenas influenciou boa parte do chamado cenário dos tradicionais JRPGs como também se transformou em um poderosa marca no mercado japonês, sempre presente nas prateleiras. A direção artística, obviamente, não é mais a mesma e todos os clichês dos paladinos, elfos e anões ocidentais foi substituído pelos clichês dos paladinos, elfos e anões orientais. E agora, somente agora, Wizardry se aventura pelo universo online. Wizardry Online está sendo desenvolvido pela Headlock e será free to play. O novo MMO pretende ter uma boa ênfase no RPG e já traz de imediato uma funcionalidade bombástica: morte irreversível. Ainda que esta idéia seja uma das bases do jogos roguelike, ela não é comum em títulos online e vai fazer muito jogador pensar duas vezes antes de explorar uma masmorra. Adicione este temor ao ambiente que permite PvP (Jogador versus Jogador) e vamos ter juras de vingança online.

Neverwinter - Arte Conceitual

Dungeons and Dragons pode não ser mais uma turbina cultural como foi no passado e a SSI pode ter fechado suas portas vergonhosamente, mas a magia do primeiro RPG continua marcando presença nos computadores. Neverwinter é a nova investida da Wizards of the Coast no mundo dos MMO com a marca Dungeons and Dragons. Enquanto a investida anterior, criativamente batizada de Dungeons and Dragons Online, foi liberada para jogatina gratuita, os holofotes agora se voltam para o próximo passo. Desenvolvido pelo Cryptic Studios e distribuído pela Atari, Neverwinter volta mais uma vez para a famosa cidade da Sword Coast e seus perigos. A diferença estará na ferramenta The Foundry, um conjunto de desenvolvimento que permitirá ao jogador criar suas próprias campanhas e aventuras e compartilhar com os amigos, basicamente o que Neverwinter Nights já permitia, mas desta vez em escala MMO. Se a Cryptic conseguir o mesmo nível de dedicação da base de usuários de um Morrowind ou Little Big Planet, vai causar impacto no mercado dos jogos online.

Lendo Dungeons and Dreamers me dei conta do longo caminho que os RPGs e os jogos eletrônicos percorreram e como uma atividade anteriormente tão vinculada a um gueto de jogadores se expandiu irreversivelmente rumo a uma audiência muito mais ampla. Tenho certeza de que muitos dos desenvolvedores originais das pérolas do passado não imaginavam que suas obras seguiriam da forma que seguiram. Mas é inevitável. A imaginação tem asas, mas o público também. Novos jogadores chegaram à mesa e estão sedentos de novos jogos. O gênio não volta mais para a garrafa.

Ouvindo: The Sisters of Mercy - Knocking on heavens door

Um comentário:

Sabhat, o Maldito disse...

Ótimo post, sou fã de D&D de mesa, tenho gastado muito tempo com DDO, mas concordo contigo. Belo post.

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Blog criado e mantido por C. Aquino

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