Retina Desgastada
Idéias, opiniões e murmúrios sobre os jogos eletrônicos
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25 de maio de 2011

Jogando: Batman - Arkham Asylum

Poucos personagens de histórias em quadrinhos tem um apelo tão icônico quanto Batman. Durante um bom tempo da minha adolescência, ele foi um dos meus personagens favoritos, ao lado de Demolidor e X-Men. Grande parte disto se deve ao majestoso primeiro Cavaleiro das Trevas, de Frank Miller, que, mesmo 25 anos depois, ainda considero a história de super-heróis definitiva, ganhando de Watchmen por uma cabeça de vantagem. Com o tempo, fui percebendo que o personagem não rende muito bem em revistas mensais e que seu dia-a-dia não é tão interessante assim, principalmente na mão de escritores preguiçosos. Mas... Cavaleiro das Trevas, Ano Um, A Piada Mortal, As Dez Noites da Besta, todos são gibis que tem um espaço reservado na minha estante.

E há também Asilo Arkham.

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A possibilidade de incorporar um personagem tão lendário em um jogo elogiado por público e crítica atravessando um cenário como o terrível Asilo Arkham é uma oportunidade que não se encontra todos os dias na vida de um jogador. Mesmo com problemas graves de ativação. Essa estranha e sombria jornada por décadas de cultura de HQ tem momentos decepcionantes de frustração e momentos sublimes de redenção.

Impostor de Gotham

Antes de começar o jogo, eu escolhi o modo de dificuldade Easy. Geralmente eu prefiro o Normal, porque não estou atrás nem de testar meus limites nem de ser conduzido pela mão como um bebê. Mas, desta vez, eu sou o Batman. Eu quero massacrar meus oponentes. Eu quero ser imbatível. Eu quero olhar para o perigo com meus olhos frios de vigilante implacável e encontrar uma solução imediata. Eu quero o poder.

E é o que eu tenho.

Batman voa sobre seus inimigos e desfere golpes que fariam Bruce Lee se envergonhar. Nunca em minha história com os jogos eletrônicos eu vi um sistema de combate em que o personagem se movimentasse de forma tão fluida, tão devastadora quanto em Arkham Asylum. A equipe de captura de movimentos e a animação está anos a frente do que eu estou acostumado. É um espetáculo de se recostar na cadeira e assistir, de chamar os amigos para ver como é possível um ser humano derrubar tantos inimigos ao mesmo tempo. O Batman é impressionante.

Mas eu não. Tudo o que eu faço é apertar o botão direito do mouse feito um louco e testemunhar o Cavaleiro das Trevas executar golpes que eu não pedi pra fazer, chutes que eu não tive a intenção e rolamentos que não tiveram minha participação. Eu só fiquei ali apertando o botão. É um sistema de combate quase tão simples quanto Diablo. Comparado ao desgaste de sincronizar perfeitamente defesa e ataque em Risen, eu me sinto subutilizado. Com o passar das horas de jogo, eu fui aprendendo a encadear golpes, a bloquear atacantes e controlar a direção que o Batman ataca, mas, quase na metade do jogo, continuo com a impressão de que não estou fazendo muita coisa. Sou um impostor.

Batman também é uma das mais brilhantes mentes analíticas do mundo dos super-heróis. Naturalmente, eu não chego aos seus pés. Mas o jogo supre essa lacuna com um "Detective Mode" que é o mais próximo da trapaça que o meu orgulho permite. Com este modo de visão, o personagem é capaz de determinar quantos inimigos estão atrás de uma parede, enxergar traços de DNA no chão e distinguir, só com o olhar, se um corpo caído no chão está vivo ou morto. Em alguns momentos, eu me confundo se estou jogando com o Batman ou com o Demolidor. Nos momentos em que temos que seguir uma pista para encontrar alguém, o modo de detetive funciona como a velha seta colorida flutuando no ar de tantos outros jogos, mas disfarçada com mais glamour para não irritar os fãs do Cruzado de Capa. O pior é que esta visão vicia e você acaba usando ela boa parte do tempo.

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Mergulhar no universo distorcido de Gotham City é o tipo de aventura que me atrai. Ainda que os desenvolvedores de Arkham Asylum tenham dado uma "atualizada" em todos os personagens, incluindo o uniforme do próprio herói, que parece mais resistente e apropriado para seu serviço, eles insistem em quebrar a imersão. Uma quantidade excessiva de intromissões do Charada e troféus para coletar me lembram a todo instante que eu estou dentro de um jogo. As nuvens de morceguinhos que levantam sempre que um adversário é nocauteado também não ajudam. E, afinal, se eu sou o Batman, porque tenho que "desbloquear" habilidades juntando pontos de experiência? Eu sou um impostor?

"Bem-Vindo ao Inferno"

Existe uma cena na graphic novel Cavaleiro das Trevas que me marcou mais do que as demais. Gotham City está tomada pela criminalidade após dez anos de aposentadoria de Batman. Na noite em que ele faz o seu retorno, ele ataca diversos bandidos pela cidade, com extrema eficiência. Um grupo de assaltantes de banco se esconde em um prédio em obras e ele derruba todos gradativamente. Um deles, muito assustado, de arma em punho, caminha com cuidado, sem saber o que está acontecendo. Neste momento, o chão se quebra e a mão do Batman agarra o pé do criminoso a partir do andar de baixo. Nós só vemos os olhos dele nas trevas. Ele fala: "Bem-vindo ao Inferno". E puxa o bandido para a escuridão.

Se o Batman de Arkham Asylum luta e pensa sem precisar de minha ajuda, ele também é um predador das sombras, um demônio que se esconde fora do alcance da luz e arrasta os vilões para seu destino. E aí a desenvolvedora consegue colocar todo o meu lado sádico para fora e me dá todos os brinquedos possíveis para espalhar o medo entre meus inimigos. Meu Batman salta invisível entre gárgulas góticos, se pendura de cabeça para baixo como um morcego e plana de asas abertas para desferir um chute devastador. Ele se esgueira por trás e derruba com um único golpe, sem fazer barulho. Ele arremesa o batarangue da esquina de corredores e some. Como crianças assustadas, a corja supersticiosa teme a lenda urbana e se apavora. Entre gritos de desespero e dúvida, eles procuram seu alvo inutilmente. Apenas para caírem diante do poder do verdadeiro Cavaleiro das Trevas.

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Seria fácil para mim me jogar no meio de um bando e fazer valer o sistema de combate simplificado. Mas a Rocksteady incentiva o jogo de morcego e rato e eu não tenho a menor presa de terminar. Fico à espreita e aguardo o momento certo de atacar. O pânico é meu combustível. Para ser perfeito, este sistema poderia incluir alguns oponentes se rendendo ou chorando, como em Aliens vs Predator 2, ou algum indicador de visibilidade, como em Chronicles of Riddick. Um pouco menos de foco na luta e mais no aspecto stealth. Eu ficaria imensamente satisfeito. Por outro lado, o prazer de descer de ponta-cabeça sobre um bandido desatento e puxá-lo para cima é algo inenarrável.

Derrotar Bane também. O homem que aleijou Batman nos quadrinhos é a prova máxima que eu não iria muito longe apenas apertando os botões. Após uma humilhante derrota para ele (que repete a cena clássica dos quadrinhos), corri atrás do prejuizo a aprendi a me desviar e realizar ataques mais precisos. Então, não importa o que aparece nas cutscenes, pois quem derrotou Bane fui eu.

Finalmente, se minha imersão é severamente prejudicada na maior parte do jogo, eu também fui protagonista de um momento raro: ser Bruce Wayne. Não importa quantas vezes eu tenha visto ou lido o momento de origem de Batman, a morte de Thomas e Martha Wayne, eu não estava preparado para reviver em minha própria pele. Aquela breve sequência em que sou o jovem Bruce, no momento da tragédia, conseguiu criar uma empatia com o personagem que eu não imaginava mais ser possível.

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Não. Eu não sou um impostor.

Eu sou o Batman.

Ouvindo: Aperture Science Psychoacoustics Laboratory - Concentration Enhancing Menu Initialiser

8 comentários:

Anônimo disse...

Este é um jogo para ser jogado com controle... teclado e mouse não dá não... experimenta jogar com um controle que vira outra experiência.

Gustavo Coelho disse...

Jogaço, que surpreende ainda mais nas sequências em que o veneno do Espantalho entra em ação, com cada alucinação mais interessante que a outra.

Além disso, embora as charadas atrapalhem o ritmo, às vezes é bacana ficar apenas explorando os cenários à procura de todos os troféus e respostas, para baixar a adrenalina dos momentos mais tensos e curtir todos os detalhes.

Um dos meus jogos favoritos de todos os tempos, que me vejo jogando novamente no futuro.

Marcos A. S. Almeida disse...

O que mais me surpreende é a Unreal Engine estar presente em uma grande variedade de jogos , como esse do Batman.Que engine versátil!

C. Aquino disse...

Eu não sabia que rodava sobre a engine Unreal! Além de versátil, ela carrega rápido e fecha rápido. Portal 2, apesar de ser um ótimo jogo, tem tempo de carregamento muito longo e, quando fecha, demora uns dois minutos pra devolver o computador a 100%, por exemplo. O mesmo valia para Risen e Amnesia. Aqui é quase instantâneo (ainda que eu não consiga pular o logo da Nvidia...).

Marcus Gonzallez disse...

Esse jogo é fodástico, com o perdão da palavra, mas não dá pra descrever de outra forma. Curti ele muito, muito mesmo. Foi o único jogo que fiz 100% dos troféus porque é muito satisfatório explorá-lo e matar as charadas. Estou aguardando Arkham City anciosamente. E Frank Miller é o cara. Nada supera o Cavaleiro das Trevas

EmoViolence disse...

Excelente jogo, foi um dos únicos que terminei ano passado e que tive que jogar do início ao final sem parar.
A parte da visão de raio-x forçada é meio cansativa mesmo. Por outro lado, as partes em que invadimos uma sala e apavoramos os inimigos voando pelos gárgulas e entrando nas tubulações são as melhores.
Um dica: perdi muito tempo tentando pegar alguns troféus do charada que apareciam nos mapas, mas que eu não conseguia vê-los no cenário ou chegar até eles. Descobri muito mais tarde que você precisa ter a arma ou equipamento certo que você vai encontrar mais pra frente no jogo, então não adianta perder muito tempo por ali.
E que venha arkham city !

Eder RM disse...

É interessante que você mencione sobre a "quebra de imersão" (com coisas que, pessoalmente, não me incomodaram quase nada) e fale sobre a suposta falta de um "indicador de invisibilidade", que para mim é um maiores destruidores de imersão em qualquer tipo de jogo, seja com foco em stealth ou não.

Sobre o combate, não achei simplificado. Em alguns momentos, se você não tiver pleno controle do Batman o negócio pode ficar complicado. No modo hard então...

'Fluído', para mim, é a palavra perfeita para descrever o combate do jogo.

Um combate extremamente satisfatório e divertido, anos-luz de distância do combate complicado-só-por-ser-complicado, desengonçado e punitivo de Risen, só pra citar um jogo que vc mencionou no seu post.

Enfim, adorei Arkham Asylum. Que venha Arkham City!

Ah, e só pra registrar outra opinião, enquanto Cavaleiro das Trevas é, provavelmente, a maior história de super-herói, na minha opinião Watchmen vai além e é uma das melhores histórias em qualquer gênero ou tipo de mídia. Viva ao barbudo. ;)

Mdesign disse...

Aquino esse jogo está quase prefeito, a premissa não é vestir a pele de um batman realista, mas sim uma visão (talvez a melhor até agora) de um batman num mundo ao qual pertence todo o seu folclore, vilões com vestimentas coloridas e patetas mas com um esgar doentio,é um mundo que faz too o sentido existir um homem vestido de morcego, um mundo onde dentaduras caos saltos arrepiam mais que a crise finaceira, é um faz de conta surreal, ao mesmo tempo que cruza os comics noir do batman actual com a comédia negra da era dourada da Dc comics, os morcegos, pontos de interrogação são parte dessa visão, o que faz todo o sentido, batman não existe no nosso mundo mas sim numa gotham "gótica", soturna e exagerada. Este sim é o mundo verdadeiro de Batman. Batman não é Frank Miller, muito pelo contrário. Essa foi apenas uma visão moderna após anos e anos de vários autores contarem as melhores histórias do cruzado, inclusive a de Bane a qual o Aquino refere no texto

Frank Miller fez renascer o batman após anos de ausência, mas Watchman modificou para sempre o mundo das novelas gráficas, entrando para a história como um dos 100 romances da lista Times. Mesmo o ronin do próprio Frank miller é bastante mais complexo e requintado que o cavaleiro das trevas. E Frank miller apesar de ser um dos meus preferidos e mais inventivos do género não é tão bom escritor como ilustrador, perdendo assim para obras brilhantes como Sandman de Neil Gaimane e quase toda a obra do legendário will eisner, sem falar de quase tudo em que Alan Moore põe a mão. Temos ainda kigndom come de Alex ross.

Abraço

Retina Desgastada

Blog criado e mantido por C. Aquino

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