Retina Desgastada
Idéias, opiniões e murmúrios sobre os jogos eletrônicos
Comunidade do SteamMastodonCanal no YouTubeInstagram

16 de fevereiro de 2011

Vida, Morte e Outros Pixels

Tina Leiu Wiseman Tina Leiu Wiseman nasceu em 1965, em Honolulu. Princesa samoana, neta de um dos chefes tribais fundadores da vila de Futinga, na Samoa Americana. Sua educação inicial seria a de curandeira, como sua avó. Movida pelas forças do destino, tornou-se atriz de cinema e televisão, atuando em produções de quinta categoria. Como cantora, alcançou um pequeno sucesso na região de Miami com três músicas gravadas. Tina Wiseman faleceu de embolia pulmonar em 2005, com apenas quarenta anos.

Desde dezembro de 2010, Tina Wiseman voltou a viver, graças à vontade de seu noivo, a milhares de linhas de programação e a um MMORPG chamado Entropia Universe.

Tina era noiva de Jon Jacobs, uma das mais controversas personalidades do século XXI. Ele já foi descrito pela Reuters como "um lendário aventureiro, celebridade e fabulosamente rico empreendedor no mundo online de Entropia". Jacobs  acredita que a humanidade pode transcender a morte através da realidade virtual. Entre suas grandes façanhas encontra-se a aquisição de um asteróide(!) no jogo por 100 mil dólares (!!) em 2005 para a criação do Club NEVERDIE, um espaço privativo de entretenimento dentro do MMORPG. Cinco anos depois, o Club seria vendido pela soma de 635 mil dólares (!!!). Mas Jacobs não parou por aí e está abrindo o segundo Club NEVERDIE em uma ilha paradisíaca digital, ao custo de mais de um milhão de dólares em desenvolvimento. E Tina Wiseman está lá.

Tina Wiseman era participante ativa do Entropia Universe e adotou o nome de "Island Girl". Mesmo durante sua recuperação de uma súbita miocardite que a atingiu em 2004, ela continuava online como Island Girl. Seu falecimento em decorrência de complicações da doença não removeu tampouco seu avatar do jogo. A MindArk, desenvolvedora do título, criou um memorial em sua homenagem e Taliesin, filho de Jacobs e Tina, recebeu a permissão do pai para continuar se autenticando como Island Girl e manter a memória da mãe ativa. Por solicitação da MindArk, entretanto, seu avatar foi finalmente apagado em 2007. Jacobs declarou: "eu sinto que a realidade virtual é definitivamente um lugar onde nós podemos viver para sempre. Foi realmente contra minhas esperanças e minhas crenças pelo seu futuro ter que remover o avatar de Tina e encarar o incrivelmente doloroso processo da morte por uma segunda vez".

Tina Leiu Wiseman - Virtual

Mas Jacobs insistiu mais uma vez e recriou a Island Girl à imagem e semelhança de sua falecida companheira. Tina agora tem o dom da cura. Qualquer hóspede da ilha que venha a morrer nas imediações será imediatamente levado até o avatar de Tina e ressuscitado. Nas palavras de Taliesin, "é muito bom ver o avatar porque é como se minha mãe ainda estivesse ali jogando o jogo".

Isso Foi Ontem...

O que somos nós? O que nos impulsiona para a frente? As respostas de Michael Molinari podem ser bem diferentes daquelas criadas por Jon Jacobs. Para o desenvolvedor americano, nós somos a soma de todas as experiências passadas e de todos aqueles que cruzaram nossas vidas. E a razão para seguir em frente é a apenas a pura necessidade de seguir em frente.

Um conjunto de idéias tão abstratas e tão profundas conseguiu ser compilada em um jogo simples e poético, de talvez quinze minutos: …But That Was [Yesterday]. No jogo, você precisa aprender as regras da vida e que, às vezes, não adianta ficar apegado aos eventos do passado. É preciso saber a hora de dar as costas para poder continuar. Repleto de momentos cativantes, o jogo conclui com um excelente casamento entre mensagem e jogabilidade, quando nos vemos utilizando toda nossa vivência adquirida para seguir, acompanhados pelas memórias de pessoas que, de um jeito ou de outro, não estão mais aqui.

but that was yesterday

Molinari afirma ter baseado o enredo de ...But That Was [Yesterday] em algumas memórias de sua vida. Este jogo foi comentado no Meio Bit | Games em 31 de dezembro, mas só agora tive a oportunidade e o estado de espírito de experimentá-lo. E digo que é um dos mais belos trabalhos já produzidos em uma mídia que ainda tem muito caminho pela frente.

E, para aqueles que, como eu, se encantarem pelas músicas, a trilha sonora do jogo também foi disponibilizada gratuitamente por Molinari.

Você Só Tem Uma Chance

O que você faria se só tivesse uma chance, uma única chance de corrigir todos os seus erros, de salvar o mundo, de vencer o jogo? Sem novas tentativas, sem reload, sem perdão ou ctrl+z. Você aceitaria o desafio? O que você faria se a vida na Terra fosse ser extinta em 6 dias? One Chance é uma narrativa experimental criada por Dean Moynihan que coloca o mais veterano dos jogadores diante da proposta definitiva: um jogo que só pode ser jogado uma única vez.

Em One Chance você conduz um cientista que precisa descobrir uma cura para uma terrível doença que irá matar todos os seres vivos em seis dias. Dia a dia, você irá conduzi-lo de sua casa, de sua família, até o laboratório onde trabalha, tomando decisões cruciais pelo caminho enquanto tudo a sua volta se deteriora e se encaminha para o fim. Cada jogador terá reações diferentes e trilhará caminhos diferentes até alcançar diferentes finais. E, não importa o que aconteça, não poderá jogar de novo. Ação e reação. Ato e consequência. Escolhas. Quando a última tela carregar, seja ela qual for, será a definitiva. Isto é One Chance.

One Chance

Contar mais sobre os eventos presentes em One Chance é, obviamente, agir contra a proposta do jogo (e, tecnicamente falando, é possível jogá-lo mais de uma vez, mas isso seria uma trapaça e uma ofensa contra seu criador). Digamos apenas que é ele funciona emocionalmente como um soco no estômago e é uma provocação à típica mentalidade de jogador de se tentar "vencer" em qualquer partida. One Chance não é para ser "jogado", é para ser vivenciado. Aos interessados, meu final não foi o que eu desejava, mas senti que fiz o que devia ter feito.

Ao final de todos os dias, talvez esta seja nossa única chance. Ninguém sabe ao certo. Então, faça o que achar correto. Se desligue da vitória. E aproveite a partida.

Ouvindo: Pixies - In Heaven (Lady In The Radiatior Song) (Live)

2 comentários:

Marcos A. S. Almeida disse...

Casamento, vida e morte, escolhas certas , escolhas erradas...Retina também é filosofia!

Bruno disse...

Cacetada... O One Chance é realmente fantástico!

Retina Desgastada

Blog criado e mantido por C. Aquino

Wall of Insanity