Retina Desgastada
Idéias, opiniões e murmúrios sobre os jogos eletrônicos
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10 de fevereiro de 2011

(não) Jogando: Shellshock 2 – Blood Trails

Zumbis e Guerra do Vietnã. Nada tira da minha cabeça que esta combinação pode ser executada com eficiência, produzindo um clássico do horror elevado ao quadrado. O filho bastardo de Apocalypse Now e Madrugada dos Mortos. Era tudo o que eu queria. Era tudo o que eu queria. Era tudo...

O trailer de Shellshock 2 prometia uma jornada pelo coração das trevas. O vídeo de introdução do jogo era um convite para meus maiores pesadelos, uma suja edição de imagens de violência e medo:

Nos primeiros minutos em que o jogo carrega, eu conheço o personagem principal, enviado para uma sinistra missão na fronteira. Como um poeta maldito, ele escreve: "a fronteira do Inferno ainda é o Inferno". Meu primeiro cenário é a parte dos fundos de um bar sujo, sujo de gordura, sangue, suor e toda a podridão de uma guerra perdida. O protagonista recebe uma injeção estranha e atravessa um corredor cercado de cadáveres, soldados feridos, gritos de desespero. Na última sala, o fio condutor de toda a história: o irmão atormentado. Em algum lugar da floresta vietnamita existe algo chamado Projeto WhiteKnight, algo que pode definir a guerra ou ampliar seu poder de corrupção. Dois esquadrões já foram enviados para tentar localizar o mítico e profano WhiteKnight. Ninguém jamais voltou. Exceto Cal. O irmão. Louco. Doente. Amarrado a uma cama imunda. Há uma explosão. Cal se liberta. E começa a jogabilidade.

Helicóptero, me tira daqui!

O protagonista se move com dificuldade e é atacado por um vietcong armado com uma faca imensa. Sou presenteado com ordens de apertar W, D, S, D, A na ordem em que aparecem nas telas. Estou jogando um FPS e a primeira coisa que eu faço é responder a um quicktime event... não acredito nos meus olhos e morro nas mãos implacáveis de um inimigo de olhos injetados de ódio. É quase uma profecia, um alerta para não prosseguir. O jogo me restaura ao mesmo ponto e eu acerto os botões, tomando o facão de meu agressor.

Esta guerra é repleta de eventos criados por script, momentos em que preciso apertar botões ou onde meu personagem escapa de meu controle e se deixa levar pela maré de eventos. Por mais estranho que possa soar, são as melhores partes de um jogo que parece ter vergonha de ser um FPS. A resposta do mouse é patética, a mira navega pela tela como se minha mesa de trabalho estivesse coberta de geléia, mesmo com a sensibilidade do controle no máximo. O som das armas parece vir de um rádio AM. Quando há som. Eu juro que vi soldados americanos atirarem com suas M-16 a dois metros de mim e não ouvi som algum. Quando os vietcongs atiram é impossível localizar a origem dos disparos usando o fone de ouvido: eles parecem vir de lugares de onde não estão vindo. Localizar os inimigos pelo fogo dos tiros não é tarefa fácil. Se Shellshock 2 está correto, as armas da Guerra do Vietnã não produzem clarão. Enquanto seu personagem está levando uma quantidade absurda de tiros, você tem o ingrato trabalho de vasculhar cada ponto do cenário em busca do inimigo, um borrão marrom-acinzentado no meio de paisagens opacas, usando um chapéu engraçado.

Esta parte é muito chata...

Equilibrando a balança da resposta lenta do mouse, temos inimigos que são igualmente lentos ou dotados de algum tipo de deficiência nutricional que os levou ao retardo. Historicamente acurado? Quem quer saber de precisão histórica em um jogo que traz zumbis ao Vietnã? Então, estes vietcongs são burros como portas que ficam parados na mesma posição até que você consiga encontrá-los e colocar uma ou duas balas em suas cabeças. Mesmo cercado por cinco deles em uma sala pequena, eles avançam até uma distância mínima de mim, talvez querendo me dar um abraço, mas ainda assim, quando eu consigo colocar a mira no lugar certo, eles morrem como moscas. Estes oponentes não sabem o que é uma emboscada. Avançam contra uma metralhadora fixa sem medo. Quando eles se aproximam pelas suas costas, fazem questão de dizer alguma coisa em vietnamita, para que você tenha certeza de que um ataque está vindo.

Eu avanço, com tédio e olhos de águia em busca dos atiradores que estão recheando o protagonista com o ácido sabor do chumbo em alta velocidade. Lá no fundo de meu cérebro, toca a trilha sonora, quase imperceptível, totalmente insossa. Ao meu redor, a verdadeira trilha do Vietnã: choro de criança, gritos, explosões e portas rangendo. Tudo faz barulho, tudo angustia. Menos minhas armas. Com o claro intuito de me chocar, o jogo lança ao vento cenas pré-programadas envolvendo execuções, mutilações, loucura e outros crimes de guerra. Depois da quarta tentativa, eu já estou anestesiado para a guerra e ansioso para que a história avance. Onde está Cal? Onde está o Sargento Griffin?

Caleb manda lembranças...

Griffin é um grande filho da p***. Da velha tradição dos filhos da p*** dos filmes de Vietnã e, por isso mesmo, o único traço de personalidade do jogo. Quando Griffin está em cena assassinando vietnamitas ou despejando frases de efeito e palavrões, eu me sinto realmente em combate e não simplesmente caçando pixels na tela. Grande trabalho do dublador.

Shellshock 2 daria um bom filme, com suas sequências de ação e seu clima de repulsa e violência. Porém, ele é o exato oposto de Mirror's Edge. Se o simulador de parkour da DICE traz uma jogabilidade viciante com cenas de enredo pouco inspiradas, aqui temos um título cuja jogabilidade é insuportável, mas onde as intervenções da história sustentam a boa-vontade do jogador por um par de horas. Eu tentei seguir em frente, para ver onde a trilha de sangue iria me levar. Mas fui vencido pelo estupor, por um tedioso e cansativo mata-mata de soldados burros.

E sem ver um único zumbi. Onde está o horror, o horror?

Shellshock 2

Ouvindo: Rammstein - Rammstein

3 comentários:

renan disse...

aquino qual nota voce da pra shellshock 2??
estou pensando em comprar, pelo que eu li aqui e pelo que eu li na internet, não são bem zumbis, é tipo uma especie de um experimento que da errado e eles ("zumbis")ficam fora de controle com um odio literalmente falando de tudo e de todos, seria mais ou menos baseado no filme exterminio, eles não estão mortos eles apenas não tem mais controle sobre suas mentes, apesar que no filme não explicar mas se voce ler a revista em quadrinho do filme ele fala muito sobre isso. bem fale ai o que voce acha e depois eu penso se eu compro

C. Aquino disse...

Renan, eu não recomendaria este jogo. A história pode até ser interessante, mas a jogabilidade é muito ruim. Eu não dou nota para jogos que eu abandono, acho que não seria justo se eu não conheço o jogo todo. Por outro lado, não consigo me forçar a terminar este e outros jogos. Quanto aos zumbis, o princípio prevalece: máquinas orgânicas de matar com ódio incontrolável, sejam de origem sobrenatural ou vítimas (vivas ou não) de algum experimento científico.

C. Aquino disse...

Aliás, mesmo sem mortos-vivos, Extermínio é um ótimo filme.

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Blog criado e mantido por C. Aquino

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