Retina Desgastada
Idéias, opiniões e murmúrios sobre os jogos eletrônicos
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2 de novembro de 2010

A Batalha da Califórnia

Terminator Será decidida esta semana a grande batalha judicial envolvendo o atual governador da Califórnia Arnold Schwarzenegger e a indústria dos jogos eletrônicos. De um lado, a proposta sustentada pelo ex-Exterminador do Futuro de que jogos violentos incentivam a violência e, portanto, devem ter sua venda proibida a menores de idade. Do outro lado, fabricantes, entusiastas, jornalistas e lojistas que defendem o direito da liberdade da expressão e questionam a dúbia relação entre jogos e o aumento de agressividade. Caberá à Suprema Corte dos Estados Unidos dar o decisivo veredicto que irá mudar o cenário permanentemente.

Uma olhada rápida na blogosfera brasileira e percebo que absolutamente ninguém está cobrindo o assunto (links que me contradigam, serão bem-vindos nos comentários). Felizmente, e surpreendentemente, O Globo Online publicou uma excelente matéria imparcial sobre o caso. Não sei o que me espanta mais: o silêncio de quem deveria estar mais interessado ou a neutralidade de quem sempre buscou o viés sensacionalista sobre o tema "jogos violentos".

Confesso que também não estava dando muita atenção. E certamente não sou a pessoa mais informada para emitir alguma opinião a respeito. Mas vou tentar estabelecer duas hipóteses sobre o resultado desta batalha.

Vitória da Proibição

Da mesma forma que não é permitida a venda de bebidas alcoólicas ou pornografia ou CDs com conteúdo inapropriado para menores de idade, a venda de jogos violentos no estado da Califórnia torna-se proibida para menores de 18 anos. O lojista flagrado em delito será multado e poderá seu alvará suspenso. Será exigida a apresentação de algum documento de identidade para comprar jogos classificados como M (de Maduro). Nossas crianças ficarão protegidas.

Como toda decisão da Suprema Corte, esta estabelecerá um precedente e outros estados americanos seguirão a tendência, banindo os jogos violentos de costa a costa. Países sem personalidade, impulsionados por políticos oportunistas, copiarão a idéia e talvez até a distorçam, proibindo a venda destes jogos para qualquer um, independentemente da idade. No Brasil, por exemplo, um pai de família, em dia com seu Imposto de Renda, seguidor da lei, não pode comprar Duke Nukem, Postal ou Doom em loja alguma; estes e outros títulos foram simplesmente recolhidos pela Justiça.

Grandes cadeias de lojas dos Estados Unidos não gostam de exibir produtos classificados como M em suas prateleiras, por temer a clientela conservadora. Estes produtos vão parar em uma sala diferenciada ou sequer são adquiridos pela loja. Outras empresas preferem não se dar ao trabalho de fiscalizar a idade de seus compradores e, para evitar transtornos, também não estocarão jogos "violentos".

Mario Com as vendas drasticamente reduzidas no mercado interno e no mercado externo, as produtoras irão se adaptar ao novo cenário e passarão a realizar uma auto-censura para adequar seu material. Jogos voltados para o público adulto se tornarão um nicho obscuro e pouco lucrativo. Grandes produções nesse sentido deixarão de existir, mas a criatividade poderá florescer e, desprovidos de preocupação com o mercado, jogos adultos poderão explorar novos limites. A longo prazo, podem aparecer grandes obras de arte ou grandes escândalos capazes de ruborizar os defensores da liberdade de expressão.

Outra alternativa é o fim antecipado do mercado de mídia física para jogadores adultos. Incapazes de encontrar seus títulos nas grandes cadeias de supermercados ou chateados de terem que ir para um quartinho e mostrar a identidade, eles migrarão em massa para a distribuição digital, onde (ainda) não há regulamentação, aumentando exponencialmente a já existente onda de crescimento do setor. Esta rota pode manter viva a criação de grandes títulos.

De um jeito ou de outro, jogos eletrônicos passarão a ser divididos para sempre entre "diversão sadia" e "simuladores de crime" na percepção da grande mídia.

Vitória da Liberação

Ao contrário de bebidas alcoólicas, pornografia ou CDs com conteúdo inapropriado, jogos eletrônicos são o tipo de coisa que um pai ou tutor pode monitorar com certa facilidade. Ninguém leva o console ou o computador para o banheiro, para o beco ou escuta quieto no MP3 Player. A proibição prova-se desnecessária diante da presença de selos classificatórios e da autoridade paterna, da mesma forma que acontece com filmes, livros e revistas. A responsabilidade sai das mãos do Estado e volta a repousar dentro do lar.

Como toda decisão da Suprema Corte, esta estabelecerá um precedente e outros estados americanos seguirão a tendência, talvez até revisando sua atual legislação. Países emergentes com políticos reacionários continuarão ignorando o bom-senso e brandindo pesquisas obscuras que comprovam seus pontos de vista e conquistando votos da massa conservadora, religiosa ou ignorante.

Com o parecer da Suprema Corte ficará finalmente estabelecido que não há uma relação direta ou indireta entre o uso de jogos dito violentos e a prática da violência no mundo real. Mais importante do que isso, ficará também claro aos olhos do público informado que os "jogos eletrônicos" evoluíram um longo caminho deste os arcades e os mários e agora também abarcam conteúdo focado para o público maduro. Esta percepção tardia alavancará a indústria, que finalmente terá atravessado o rito de passagem pelos quais também sofreram os quadrinhos, o cinema e o rock. Mais e melhores jogos serão produzidas, com liberdade criativa para explorar temas e jogabilidades complexos.

Heavy Rain

A venda de mídia física terá uma sobrevida, mas seu inevitável fim chegará.

Aos olhos dos eventuais censores, pobres crianças assustadas diante do desconhecido ou espertos manipuladores dos holofotes, não importa, estes terão que encontrar um novo alvo para perpetuar o ciclo. O Sistema é foda.

Ouvindo: Sepultura - Orgasmatron

Um comentário:

GORDON FREMMAN disse...

Poxa ARNOLD,até tú brutus!Como a vide é ironica:um dos maiores astros de filmes de ação do passado querendo implementer leis contra jogos violentos,é de dar risada!Essa lei,de inicio, parece inofensiva,afinal,achamos que ela irá afetar apenas o público menor de idade,como é seu objetivo,mas com o tempo, ela irá desencadear uma série de fatores que afetarão drasticamente todo o setor de jogos maduros,e consequentemente nós, jogadores adultos!Os únicos que não serão afetados, serão os jogadores casuais.Consoles como o nintendo wii,reinarão soberano,e outros como o ps3 e o xbox360 terão que se virar!SERÁ A VISÃO DOS INFERNOS!Se essa lei for aprovada(que tomara a deus,não seja!),espero pelo menos ainda que continuem lançando jogos adultos pela distribuição digital,já que será a única saida para a continuação desse setor da industria de games.Será a ultima esperança!

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Blog criado e mantido por C. Aquino

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