Retina Desgastada
Idéias, opiniões e murmúrios sobre os jogos eletrônicos
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11 de julho de 2010

O Legado de Tron (Parte 1)

almanaquedisney-140 Nos nebulosos anos 80 eu era um comprador aficionado de revistas da Disney. Tio Patinhas, Pato Donald, Mickey e seus amigos forneciam toda a dose de aventura e emoção que um garoto suburbano poderia desejar naquela época. Jogos eletrônicos? Inatingíveis ou inexistentes. Internet? Um projeto militar que começava a chegar às universidades americanas. Vivíamos uma era predominantemente analógica. Mas o vento da mudança estava chegando. Para mim, a primeira brisa soprou em 1983, com a revista Almanaque Disney 140.

Pela primeira vez, eu não comprei uma revista por causa de algum plano dos Irmãos Metralha ou pelas trapalhadas do Peninha. Nesta edição, de Janeiro de 1983, havia encartada nas páginas internas uma matéria sobre um novo filme de ficção-científica que estava sacudindo os Estados Unidos: Tron. Como eu disse, não havia internet. Não havia YouTube, não havia featurettes, quatro trailers diferentes, clipes exclusivos e outras pragas modernas que contam o filme inteiro. Não havia pirataria. Apesar do filme ter estreado seis meses antes, as notícias eram escassas. Muito escassas. E ali estava eu com uma minúscula matéria com fotos coloridas de uma produção que era diferente de tudo que eu havia visto até então.

Apesar da informação do IMDB que diz que o filme estreou no Brasil em Agosto de 1982, eu lembro vivamente que a revista chegou simultaneamente com o filme. Eu não tinha completado nove anos de idade ainda e a censura de Tron era "Proibido para Menores de 10 Anos". Figueiredo ainda era Presidente e a ditadura prevalecia, então, censura era Censura. Meu coração não cabia dentro de mim, diante da ansiedade nerd que começava a se desenvolver. Eu tinha que ver Tron. Não assistir o momento histórico em que os computadores invadiam as telonas era inconcebível. Meu pai e eu tentamos em uma sala de cinema, mas o bilheteiro se recusou a permitir minha entrada. Fui da euforia à profunda apatia em questão de minutos. É preciso entender que naquela época não existia a opção de "alugar quando sair". Não havia videocassete em casa em 1983. Não haviam locadoras no bairro, para ser franco. Não ver um filme no cinema significava aguardar de dois a três anos até que ele passasse na TV.

Mas, como pai é pai, meu pai prometeu que tentaríamos de novo no dia seguinte, em outro cinema. E, seja por mágica, persuasão, ameaça, suborno ou simples tolerância do outro bilheteiro, eu entrei.

cycles Para alguém que nunca tinha jogado nem mesmo Pong, Tron era uma viagem fantástica por um universo futurista inédito. Realidade virtual, motos digitais fazendo curvas em 90 graus, transportadores correndo em alta velocidade por fios de laser, sentinelas robóticos feitos de luz. Aos nove anos, estas palavras são encantadas. Minha juvenil retina foi bombardeada com deslumbre. Saí do cinema imaginando lightcycles correndo pelas ruas ao lado do carro do meu pai. Durante anos, Tron foi para mim o exemplo perfeito de como deveria ser o mítico mundo dentro dos computadores.

sail Por mais de vinte anos, nunca revi o filme. Tenho um certo pavor de revisitar títulos marcantes de minha infância. Tenho medo de destruir o deslumbre, de perceber que "apenas uma criança" poderia gostar daquilo. Nunca revi ET – O Extraterrestre, por exemplo. Nunca. Mas, quando começou a máquina de hype a respeito de uma continuação de Tron, achei que seria o momento certo de descobrir se passei minha vida inteira cultuando uma bobagem ultrapassada pela velocidade do tempo. Grata surpresa: Tron sobreviveu ao seu próprio legado e se sustenta. Talvez o ritmo seja um pouco mais devagar do que aquilo que estamos acostumados nos dias atuais. Talvez a magnífica trilha de Wendy Carlos traga um certo sabor oitentista. Talvez os efeitos especiais não tenham mais o efeito-surpresa que tinham, após sucessivas homenagens e cópias. Mas a alma do filme permanece intacta, o mundo de Tron continua aberto à visitação. E ao deslumbre.Tron_posterA tal continuação acabou sendo apenas um jogo, um FPS. Mas, agora, Tron tinha conquistado um lugar em meu coração adulto.

Ouvindo: Tori Amos - Spark

4 comentários:

Anônimo disse...

Você devia escrever um livro, hehehe. Garanto que eu iria comprar.

Marcos A. S. Almeida disse...

O seu medo acho que procede.Os livros de Monteiro Lobato fizeram parte significativa de minha infância e já adulto decidi reler "A Chave do Tamanho".Decepção...O livro continua com uma história encantadora , mas o olhar e a imaginação infantil colorem as histórias de uma forma que o olhar adulto não enxerga...E nunca mais quis ler Monteiro Lobato e suas histórias do Sítio do Pica-Pau Amarelo pois sabia que nunca mais sentiria o mesmo sabor que senti na infância.

Den disse...

cara só tenho que "discordar" do que voce escreveu no final "acabou sendo apenas um jogo, um FPS". Tron 2.0 é um jogaço, bem diferente da maioria dos jogos de ação em 1ª pessoa. Eu tenho ele e sempre recomendo a todos que joguem pois vale muito a pena. As musicas do jogo são do Wendy Carlos (o mesmo do filme), as novas lightcycles foram feitas pelo Syd Mead (o mesmo que fez as do filme original) e ainda tem dublagem de atores profissionais como a Rebecca Romijn-Stamos. E pelo que eu vi a ideia do filme novo está bem parecida com a desse jogo....

.... mas eu desconfio que voce vai falar mais disso nos próximos posts... hehehe

Fagner (Stigmata) disse...

Até hoje to esperando a segunda parte desse topico, ainda mais depois de sair o primeiro trailer de Tron Legacy que saiu na Comic Con, ta vindo pra arregaçar.

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