Retina Desgastada
Idéias, opiniões e murmúrios sobre os jogos eletrônicos
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1 de junho de 2010

"Você Acorda e Vê..."

Segundo a Wikipedia, Barista "é o profissional especializado em cafés de alta qualidade (cafés especiais), cujo principal objetivo é alcançar a 'xícara perfeita'. Também trabalha criando novos drinks baseados em café, utilizando-se de licores, cremes, bebidas alcoólicas, entre outros."

Eu não sei o que Brendon Chung andou bebendo, mas, em sua cabeça, Barista é algo completamente diferente, algo completamente inexplicado e inexplicável. Para você entender Barista, você precisa jogar Barista. Ou não.

Segundo o Mobygames, Brendon Chung "é um designer de níveis para a Pandemic Studios. Ele trabalhou em Full Spectrum Warrior: Ten Hammers e The Lord of the Rings: Conquest. Ele começou a criar jogos em tenra idade. Ele primeiro esteve envolvido com a cena mod para  DOOM e desde então tem criado modificações e jogos independentes na Blendo Games em seus projetos paralelos."

Mas a mente de Brendon Chung é um poço enigmático de criatividade e perguntas sem respostas.

Barista

"Você acorda e vê o Ás de Espadas"

O primeiro Barista surgiu em 2004 e provavelmente não tinha a pretensão de ser o primeiro de uma série. Seis anos atrás, Chung estava experimentando possibilidades. Prestando uma homenagem ao clássico Doom 2, o jogo que o introduziu ao vasto universo de criação de mapas, Chung utiliza a engine Zdoom para criar um mod que roda independente do jogo original.

Barista 03 Mas que possibilidades eram estas? Barista apresenta sombras nos ambientes e efeitos de iluminação, novos inimigos, NPCs, áreas contaminadas com gases tóxicos e telas de computador interativas. Nada disso estava presente em Doom 2. Quantas destas inovações foram introduzidas por Chung e quantas pertencem ao envenenado Zdoom permanece uma incógnita para mim. Mas rodar Barista é um choque tecnológico, com tantos elementos estranhos misturados ao jurássico universo cyber-demoníaco de Doom.

Barista 01 Barista 02Lendo cada diálogo dos NPCs e cada comunicação apresentada em Barista, um fragmento de história vai se formando. Uma história com bizarras lacunas e uma opressora sensação de que algo muito maior e sinistro opera nos bastidores da trama. Chung apresenta para nós o começo de um enigma. E então, o jogo termina. Com promessas não cumpridas. Para todos os fins, parte de mim continua presa em Phobos, tentando compreender o que aconteceu.

Barista 2

"Você acorda e vê a foto dela"

O segundo Barista veio logo depois, em 2004 também. Desta vez, Brendon Chung se utilizou da engine do primeiro Half-Life para desenvolver um mod independente que foi utilizado como projeto de estudo durante a faculdade.

Barista 2Esqueça tudo que você sabe sobre Half-Life, Gordon Freeman e Black Mesa. Barista 2 segue o destino de um piloto de combate espacial abatido em um planeta desconhecido. Novamente, a engine é adulterada, rasgada, reconstruída e renascida. Em Barista 2, você pode pegar objetos no ambiente, guardá-los, arremessá-los. O cursor é dinâmico, se alterando de acordo com o objeto por onde ele passa. E, o mais fantástico, você pode conversar com um NPC do jogo. Digitando palavras aparentemente soltas, você conseguirá respostas que podem conduzi-lo na história, confundi-lo ou surpreendê-lo. Não há uma lista oficial de palavras. Experimente. Novamente, há um choque. A engine da Valve não deveria fazer isto. Não é certo.

Barista 2 03 Barista 2 02Novamente, a história te puxa para um micro-universo que guarda seus próprios mistérios com afinco. Alternando inusitados flashbacks, você tenta chegar à raiz do planeta, tenta encaixar as peças. E então, o jogo termina. Com promessas não cumpridas. Para todos os fins, parte de mim continua presa no planeta sem nome, tentando compreender o que aconteceu.

Barista 3

"Você acorda e vê a si mesmo dormindo"

Também em 2004, Barista 3 foi produzido. Ao contrário dos anteriores, este novo capítulo precisa de outro jogo para rodar. Barista 3 funciona como um mod para Doom 3 e não roda sem o jogo principal. Em compensação, é o menor de toda a série, com apenas 2MB.

Não posso apontar que mutações Chung provocou na engine de Doom 3, na ignorância do título. Porém, o fato de ter instalado Doom 3 com o único intuito de jogar este mod deve ter algum significado sobre sua importância.

Barista 3 03Barista 3 é extremamente curto. Mas não deixa de ser interessante. Desta vez, Chung nos apresenta uma colônia em Marte com inúmeras referências brasileiras. Temos uma base chamada Brasilia, um supervisor que atende por Pele, botões que fecham portas onde está escrito "fecha" e outros detalhes. Lamentavelmente, o nome da base principal é Nuevos Aires, mas quem pode cobrar uma perfeita noção de geografia de alguém que cria enredos e ambientes tão criativos? Vamos ignorar. Explore o confinamento opressor de Nuevos Aires e absorva este pequeno fragmento de um futuro onde as condições de trabalho não mudaram muito em relação à nossa época.

 

Barista 3Barista 3 02 Quando Barista 3 toca a superfície surreal de assuntos inexplicados, você percebe que está diante de um jogo da série.  E então, o jogo termina. Com promessas não cumpridas. Para todos os fins, parte de mim continua presa em Nuevos Aires, tentando compreender o que aconteceu. Ouvindo sons que não pertencem a este mundo na tela de fim.

Barista 4

"Você acorda no palco esquerdo"

Dois anos depois, Barista 4 desperta, resultado dos experimentos de Brendon Chung com a engine Source, de Half-Life 2. Como um mod do jogo, ele não roda sem o jogo principal.

Barista 4

Barista 4 02Os lampejos de surrealismo pintados nos títulos anteriores invadem este quarto e último (?) episódio com fúria e espanto. Barista 4 nem mesmo possui uma linha narrativa central. Três cenas sem conexão aparente em si mais um nível extra compõem este quadro em três dimensões. A primeira cena narra um ensaio de teatro, invadido por soldados do Combine. A segunda cena segue dois policiais do Combine desbravando uma série de corredores tirados de um pesadelo. A terceira cena apresenta... apresenta... um sonho? Um quarto ricamente decorado, com o doutor Vance falando coisas sem sentido? Uma viagem de ácido? Não importa. É a cena final de uma epopéia onde o significado é o último fator da equação. Completando Barista 4, mas fora da linha seqüencial, existe um curto bônus que consiste em um desconhecido habitante da City 17 declamando um monólogo da peça Glengarry Glen Ross, com resultados desastrosos a um apertar de botão.

Barista 4 03 E então a série termina. Com promessas não cumpridas. Para todos os fins, parte de mim continua presa em... algum lugar, cansada de tentar compreender o que aconteceu.

Você acorda e vê downloads

Segundo o diretor espanhol Luis Buñuel, "o mistério é o elemento chave em qualquer obra de arte". Eu não sei se Brendon Chung conhece a filmografia de um dos pais do surrealismo no cinema. Mas, a esta altura dos acontecimentos, está claro que eu não sei muitas coisas. Não confie em minhas palavras: ler sobre Barista não é entender Barista.

Jogue os quatro títulos, se puder. Todos os downloads estão disponíveis de graça em http://www.blendogames.com/older.htm.

Mas lembre-se: jogar Barista não é entender Barista.

Ouvindo: Metallica - The Memory Remains

8 comentários:

Bruno disse...

Cacetada... Voltou já cutucando o cérebro dos leitores com jogos surreais. Verei se consigo jogar os Baristas nestas férias.
Espero que tenha corrido tudo bem em seu projeto. E que bom que o blog voltou à ativa. =)

Fagner (Stigmata) disse...

Viva ao Retina Desgastada. Mas eu não entendi quase nada disso aí amigo. ehehehe

NevesZerg disse...

Aquino voltou mais louco do que nunca.

Marcos A. S. Almeida disse...

Fala Aquino!Muito bom ter voltado! Mas quanto ao jogo , o detalhe é exatamente esse: não tentar entender.Foram devaneios do autor , experimentos sem muito compromisso, á não ser com a diversão ( talvez mais dele do que a nossa...).

Rafael disse...

Sempre que posso acrescentar algo a este blog eu faço o possível (lembra da dica o Gordon Freeman em S.T.A.L.K.E.R?, que aliás eu não havia visto em lugar algum como você mencionou, eu simplesmente achei ele caido lá logo na primeira vez que joguei.).Bom em fim, não quero desmerecer sua pesquisa, nem parecer prepotente aqui, acho que até estou me enrrolando demais, portanto vou direto a correção: A engine de Half-Life1 é da ID, é a Engine utilizada em Quake2, ela foi liberada ao público há algum tempo já. Por favor me corrijam se eu estiver errado. Espero ter ajudado...

C. Aquino disse...

Rafael, inicialmente os desenvolvedores da Valve licenciaram a engine do primeiro Quake para seu jogo. Mas a engine teve 70% do seu código reescrito e foram tantas as modificações que a engine ganhou o nome de Goldsrc (http://en.wikipedia.org/wiki/GoldSrc). A nova engine de Half-Life 2, a famosa source, é uma ramificação da primeira.

Rafael disse...

Opa, valeu pela corre~ção, mas ainda assim, inssisto que essa continua sendo a IDtech 2 da ID, mesmo depois de tantas transformações. O mesmo aconteceu com a ID Tech3 que deu origem ao QUAKE3 e depois um sem número de jogos, suportando a série Call of Duty até os dias de hoje. Claro que do CoD 4 pra cá a engine já está em sua 4º versão.

Rafael disse...

Esqueci de mencionar, não lembro onde de onde eu tirei isso agora (eu adoro fuçar o código fonte dos jogos) mas se não me engano a Série Source utiliza a engine Havok não?

Retina Desgastada

Blog criado e mantido por C. Aquino

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